WandaVision: 1ª temporada
Última atualização: 06/03/2021
Tem um monte de gente boa passando o pente-fino em cada episódio de WandaVision para achar easter eggs. Eu não só admiro esse trabalho como também consumo. Mas não é a proposta do meu texto.
Essa crítica/análise vai tratar de dois pontos que, inesperadamente, se complementam na série. Em primeiro lugar, como ela se insere no MCU (Marvel Cinematic Universe). Em segundo lugar, como ela trata Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen): seu passado, seu presente e seu futuro.
Se você for comigo até o final, inclusive, podemos descobrir se WandaVision não é o maior ato falho da Marvel até hoje – e porque isso seria ótimo.
Sobre forma e conteúdo
Quando escrevi sobre o episódio-piloto de WandaVision, disse como a série era “meticulosamente desinteressante”. O que quis dizer sobre isso (e o resto da temporada confirmou minha primeira leitura) era que a produção estava, acima de tudo, preocupada em respeitar uma forma de contar sua história. No piloto, uma sitcom americana dos anos 1960. Ao longo da temporada, produções icônicas dos anos 70, 80, 90 e 2000.
Isso significa, portanto, que nem sempre o “caminho fácil” vai ser trilhado. Existe um motivo para séries de TV de hoje não parecerem com as produzidas em 1960: o formato está deslocado. Nós não rimos de piadas dessas séries porque elas são engraçadas, mas porque temos alguma memória afetiva por uma série parecida que assistíamos quando pequenos. Mas e o público da Marvel que, em 2021, está no “quadrante 15-19” e, ao contrário do Capitão América, não entende a referência?
É exatamente aí que está o diferencial positivo de WandaVision: o conteúdo justifica a forma, assim como a forma valoriza o conteúdo.
WandaVision no divã
O penúltimo episódio de WandaVision (sem spoilers, pode continuar a leitura) gira em torno do passado de Wanda. Entre partes que já conhecíamos pelos filmes e partes novas, há uma explicação para a série ser como é.
Em ficção, visto que as opções são ilimitadas, o “porque” é até mais importante que o “que”. Não existe história “impossível” na ficção. Por outro lado, existe motivação “frouxa”. Se você acredita que o protagonista tem motivo para fazer o que faz, você embarca na história mais fantástica. Se não acredita, mesmo que a história seja inspirada no cotidiano, você se desinteressa. Simples assim.
Nesse sentido, WandaVision vai para o divã, justificando as escolhas da sua protagonista com um distúrbio de ansiedade: transtornos do estresse pós-traumático. Sim, transtornos, no plural. A cada tentativa de Wanda ter uma vida feliz, um trauma. Cada perda se torna o que a psicologia comportamental chama de punição negativa. E qual é uma das reações possíveis deste transtorno? Esquiva e isolamento social.
Temos, como resultado, a motivação perfeita para a forma da série.
WandaVision dentro do MCU
Entre filmes e séries, o MCU cresceu a ponto de ser difícil mexer com ele. Assim sendo, toda produção da Marvel precisa cumprir dois papéis: contar a sua história e acrescentar um capítulo na imensa história do MCU.
Só para exemplificar, Howard, o Pato e Matt Murdock coexistem na mesma linha do tempo. Isso é alguma coisa.
WandaVision é a série que traz para dentro do MCU uma das novas aquisições da Disney. Os mutantes, que não podiam ser mencionados quando A Era de Ultron foi lançado, são inseridos conceitualmente, mas também fisicamente, com uma participação especial muito boa para quem assistiu aos filmes dos X-Men da Fox.
WandaVision é um ato falho da Disney?
Tenho muitas críticas a escolhas que o Marvel Studios faz a nível narrativo e considero a postura da Disney no mercado, criando um quase monopólio, extremamente danosa para a indústria audiovisual.
Por isso, achei curioso como a perda gradual de controle de Wanda sobre sua fantasia com Visão (Paul Bettany) é representada por um salto para frente na história da televisão. Quanto mais Wanda precisa “pesar a mão” na manipulação da realidade, mais ela se aproxima do que acontece na ficção de hoje.
Só Freud explica? Segundo o “pai” da psicanálise, ato falho não só é um equívoco inconsciente, mas também a maneira do inconsciente realizar um desejo reprimido. Assim, devemos nos perguntar: WandaVision é uma autocrítica involuntária?
Tire suas próprias conclusões assistindo à série. É só clicar aqui.
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Jac Schaeffer, Peter Cameron, Mackenzie Dohr, Laura Donney, Bobak Esfarjani, Megan McDonnell, Cameron Squires, Gretchen Enders e Chuck Hayward
Edição: Tim Roche, Nona Khodai e Zene Baker
Fotografia: Jess Hall
Design de Produção: Mark Worthington
Trilha Sonora: Christophe Beck e Alex Kovacs
Elenco: Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Kathryn Hahn, Teyonah Parris, Randall Park, Kat Dennings & Josh Stamberg
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