O que é ser o Homem-Aranha?
Última atualização: 29/12/2021
Enquanto assistia a Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, me via obrigado a admitir que a fraca premissa do trailer era, pelo contrário, bastante sólida. Verdade que ainda há um elemento “fanfiqueiro” na trama, presente em toda a trilogia do Amigão da Vizinhança no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Mas é impossível negar que o diretor Jon Watts tenha entregado um produto final à altura do herói e que dá profundidade à versão interpretada por Tom Holland. Principalmente, porque o personagem finalmente entende a pergunta que dá nome a este artigo: o que é ser o Homem-Aranha?
Se você ainda não viu o filme, pare aqui. Não há feitiço do Doutor Estranho capaz de apagar da sua mente os spoilers que eu vou dar. Mas, se você já foi ao cinema, continue. Vamos falar um pouco sobre o que faz este herói ser tão especial.
Tempo roubado
Uma das minhas peças de ficção favoritas, em todas as mídias, é o quadrinho Homem-Aranha: Azul, de Jeph Loeb e Tim Sale. Em seis edições, a morte de Gwen Stacy é recontada por um Peter Parker mais velho, já casado com Mary Jane. No momento em que se aproxima da conclusão da história, Peter resume sua vida de herói ao “tempo roubado, de sua família e de todos que amam”. Em outras palavras, como ser Homem-Aranha pune Peter por meio do sofrimento inflingido a terceiros.
Muito se fala que o sucesso do Homem-Aranha se dá pelo fato dele ser um herói com problemas do cotidiano, como faculdade, trabalho e contas. Vou além: seu sucesso vem do simples fato dele ser o único herói que piora de vida por lutar contra o crime. Tio Ben, Gwen Stacy, o casamento com Mary Jane. Tudo é negado a Peter Parker como consequência dele ser o Homem-Aranha.
Ainda assim, ele persiste. Porque é a coisa certa a fazer.
O Homem-Aranha é construído por suas perdas
A melhor cena de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (e facilmente da trilogia da Marvel) é o primeiro encontro entre os três Peter Parker. Quando as versões de Andrew Garfield e Tobey Maguire compartilham com a de Holland o que as perdas de suas pessoas amadas fizeram com eles. Como vingança não faz a dor sumir, mas a responsabilidade em usar seus poderes para evitar que outras pessoas sofram as mesmas perdas é capaz de dar propósito.
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Aliás, aqui vale um elogio à escolha de Sem Volta para Casa em transferir a famosa frase “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades” para a Tia May (Marisa Tomei). O Tio Ben do MCU praticamente não existe. É com ela que Peter tem uma relação de companheirismo, mentoria e amor. É a sua morte que causa impacto. Estamos em uma história literalmente sobre realidades alternativas e segundas chances. Por que, então, se prender a uma única possibilidade?
Nesse sentido, é aqui que vemos o verdadeiro nascimento do Homem-Aranha do MCU. Um herói construído a partir de suas perdas e movido pela responsabilidade. Afinal, Peter Parker não é “o novo Homem de Ferro”. Nem mesmo é um Vingador.
Peter Parker é o Homem-Aranha. E isso é superior. É espetacular. Acima de tudo: é o bastante.
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Edição: Leigh Folsom Boyd, Jeffrey Ford
Fotografia: Mauro Fiore
Design de Produção: Darren Gilford
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon, Benedict Cumberbatch, Willem Dafoe, Alfred Molina, Jamie Foxx, Andrew Garfield, Tobey Maguire, Marisa Tomei, Jon Favreau
Melhor filme do Homem-Aranha de todos os tempos!