O Dia Que Te Conheci: ser conquistado todos os dias na simplicidade da rotina

Última atualização: 26/09/2024

O trabalho de André Novais Oliveira foi apresentado através de Fantasmas (2010), um curta que lida com os fantasmas do passado. Enquanto uma câmera estática filma a rua, duas pessoas dialogam sobre a vida, amores e a casualidade. Em Temporada (2018), André também sabe construir uma narrativa que representa bem a vida real. Na produção, Grace Passô constrói uma personagem que lida com as casualidades de uma forma frontal, assim como nós lidamos com nossas obrigações sociais no dia a dia.

Assim sendo, André se mostra um diretor bastante habilidoso, Sem dúvidas, o realizador sabe construir uma narrativa que conversa diretamente com nossas rotinas. Como consequência, suas obras possuem uma conexão inevitável com o público, já que a realidade de seus personagens nos aproxima exatamente através de cotidianos simples, mas que cobram de nós tempo e energia. 

o dia em que te conheci

Explorando as relações cotidianas

Logo na primeira cena de O Dia Que Te Conheci somos apresentados a Zeca (Renato Novaes) e Lucas (Stan Alban) amigos que dividem um apartamento. Zeca pede ao amigo para que o acorde no dia seguinte, pois está com dificuldades para acordar cedo. Ao desenrolar dessa cena, Zeca insiste para que o amigo não hesite até em jogar água se for preciso. Dessa forma, somos apresentados a uma casualidade que a maioria de nós já passou em algum momento da vida. O texto, por fim,  consegue costurar todos os elementos com um humor bastante eficiente criando contextos engraçados, ao mesmo tempo que as personagens se mostram preocupadas, calejadas com o peso da rotina.

Mesmo com os esforços de Lucas, Zeca se atrasa para pegar o ônibus, e segue em sua jornada de uma hora e meia para chegar a escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo se mostra cada vez mais difícil: algo o impede de manter sua rotina. Um dia, Zeca conhece Luísa (Passô), que chega a sua mesa para demiti-lo, mas por serem os dois únicos funcionários pretos na escola, criam uma conexão inevitável.

Somos jogados em uma rotina que aos poucos vai tomando uma forma diferente, levando os personagens ao centro da cidade, enquanto papeiam e bebem cerveja, trocam experiências, falam sobre seus problemas em comum e logo se compreendem. Existe um diálogo sobre remédios e psicopatia do qual eu considero um dos momentos mais hilários que vi esse ano, é de uma simplicidade e de uma encenação maravilhosa, onde os personagens conseguem transmitir uma naturalidade bastante honesta. 

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Simpatia e alegria

A sinceridade do filme é um elemento que alimenta os personagens dentro da própria proposta. Quando Zeca não hesita em ser sincero com Luísa, faz com que a personagem se sinta atraída pelo ex-colega de trabalho. Zeca se mostra sem muita habilidade de socializar, sempre mais tímido em suas expressões corporais e nas palavras. Essa sinceridade acaba se tornando o principal elo entre eles, usando do cotidiano para alimentar uma relação improvável, mas que atrai nossa simpatia logo de cara.

O filme mostra onde as pequenas situações do cotidiano podem se tornar histórias mágicas e cheias de elementos.  Mostra também onde sentimos o conforto em nossas memórias. Aborda de forma cativante a vontade de querer fazer diferente e tomar atitude diferente, seja ela mínima, não faz diferença. A forma como as pessoas entram em nossas vidas e nos marcam, pois deixam um pedaço delas em nós, assim como sempre deixamos um pouco de nós nelas. 

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Personagens multifacetadas e realistas são a cereja do bolo de O Dia em Que Te Conheci

Gosto como a dinâmica dos protagonistas funcionam, cada um com sua particularidade. Enquanto Luísa é mais energética,  Zeca acaba sendo seu oposto. Ela fala sobre quase tudo, se mostra uma pessoa disposta a ajudar. Ele, mais tímido, introspectivo, se apresenta como alguém despreocupado e desligado a detalhes. É bonito como ao passar do filme, essa relação amadurece e se torna um suspiro em meio ao cotidiano corrido. Certamente, onde Zeca começa a se sentir confortável para se abrir, enquanto Luísa se mostra atraída pela tranquilidade que Zeca transparece.

São personagens muito honestos e amáveis, André Novais sabe que com menos movimentos de câmera ele consegue construir melhor aquela relação, que calmamente vai evoluindo. Interessante como um filme de um pouco mais de uma hora de duração consegue desenvolver tão bem uma relação entre duas pessoas diferentes. E isso acontece sem a necessidade de apressar a narrativa. O plano final me deixou com um sorriso no rosto sincero, sinceridade vindo inteiramente da tela.

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