CORINGA DELÍRIO A DOIS PHOENIX GAGA

Coringa: Delírio a Dois

Última atualização: 03/10/2024

Para falar desta sequência, primeiro precisamos relembrar algumas coisas. Quando o primeiro Coringa chegou aos cinemas em 2019, havia uma profunda curiosidade e expectativa. Depois de um trailer cativante, o público estava interessado em identificar uma nova performance do personagem depois das versões de Jack Nicholson e Heath Ledger. No fim, o filme foi recebido por muitos como o auge da DC nos cinemas e Joaquim Phoenix se destacou com uma atuação impressionante, que lhe rendeu um Oscar.

Com uma abordagem curiosa, o diretor Todd Phillips, conhecido por comédias, buscou referências em clássicos como Taxi Driver e O Rei da Comédia, entre outros para compor suas referências visuais. Algumas vezes, chegando ao ponto de emular cenas inteiras. Para o bem e para o mal, funcionou e todos os envolvidos disseram que não havia nenhum interesse em uma sequência. Até que o filme atingiu a marca de 1 bilhão de dólares em bilheteria.

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Como fazer uma sequência

A maior pergunta para a sequência de um grande sucesso é um enorme por que? Apesar do sucesso, o primeiro filme enfrentou críticas pesadas sobre seu roteiro e texto. Estas críticas argumentavam que a base textual da produção parecia soar como uma celebração da subcultura incel, em uma abordagem adolescente que pregava a vingança contra os bullies e tinha uma abordagem estranha quanto às suas personagens femininas.

O caminho escolhido então seria desconstruir essa imagem, trazendo uma personagem feminina forte para contrapor o Coringa e lhe roubar o palco. Talvez alguém tenha apontado que isso faria o filme ter uma repercussão muito negativa junto ao público que ele mesmo cultivou e, assim sendo, restava agarrar algum prestígio através de seu aspecto artístico. E a sensação que essa ideia foi tomada com tanto desespero que surgiu a ideia de tornar um filme de boneco em um drama musical.

Na nova trama, encontramos Arthur Fleck internado em Arkham aguardando julgamento por seus crimes. Novamente miserável e sendo humilhado por guardas e outros detentos, Arthur não apenas tropeça no amor verdadeiro quando conhece Lee (Lady Gaga), mas também encontra a música que sempre esteve dentro dele. O filme se deleita em brincar com o ambiente onínico a partir daqui. Os encontros de Lee e Arthur e os devaneios de ambos são filmados com sofisticação e beleza, entretanto completamente baseados em outras obras. De quadrinho à videoclipes, tudo é um recorte, uma bricolagem não assumida.

CORINGA DELÍRIO A DOIS PHOENIX

Desmontando o original

Quando o filme avança e o julgamento de Arthur finalmente começa, a questão central é se ele será considerado louco, ou não. Isto poderia poupá-lo da pena de morte. Enquanto sua advogada defende que Arthur possui uma personalidade dupla e que seus crimes foram cometidos por um alter ego criado pelo abuso que sofreu na infância, o promotor Harvey Dent argumenta que ele é apenas uma pessoa triste e doente, devendo ser responsabilizado por seus atos.

Esse debate sobre a personalidade de Arthur é o cerne do filme. Está refletido até mesmo na abertura do filme com uma cena animada mostrando Arthur sendo dominado por sua sombra. Essa discussão, no entanto, soa cansativa e falsa, uma vez que o primeiro filme já havia explorado essa questão de forma impactante.

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Delírio(s) a dois, três…

Enquanto o primeiro Coringa tratava Arthur como um sociopata comum tentando encarnar um grande vilão, esta sequência parece desconstruir a figura ameaçadora que ele se tornou. Em vez de um vilão perigoso, agora o Coringa se apresenta como alguém sem propósito, perdido em devaneios musicais, sem liderança ou ambição. Ele não ameaça ninguém e tampouco lidera uma revolução. Sua presença, antes assustadora, agora se resume a momentos de canto e dança. Como consequência, nos deparamos com a retirada do peso e do perigo que o personagem exalava no filme original. Assim sendo, ao nunca assumir a agência de seus atos, a personagem permanece sempre tratado como uma vítima do destino.

A única coisa que acho poder tirar de positivo de Delírio a Dois é que o filme parece odiar a base de fãs que criou. Em suma, ao desconstruir a figura do incel a produção tensiona a personalidade da personagem até o ponto em que ele se torna patético. Queria muito acreditar que essa foi a intenção de Todd Phillips, mas isso seria superinterpretar a obra. Afinal, a cena final presta um tributo que, preciso dizer, é uma das coisas mais cretinas que assisti em 2024.


Ficha Técnica
CORINGA DELÍRIO A DOIS POSTER
Joker: Folie à Deux (2024) – Estados Unidos
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Scott Silver, Todd Phillips, Bob Kane
Edição: Jeff Groth
Fotografia: Lawrence Sher
Design de Produção: Naaman Marshall
Trilha Sonora: Hildur Guðnadóttir
Elenco: Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson, Catherine Keener, Zazie Beetz, Steve Coogan

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