Mulher-Maravilha 1984
Última atualização: 02/01/2021
Sequências boas, principalmente em filmes de super-heróis, são raras. Mulher-Maravilha 1984 é uma delas. Patty Jenkins e Gal Gadot retomam a parceria inciada em 2017 com um filme que conversa com o original, enquanto aprofunda o desenvolvimento da sua protagonista. Aumenta o que está em jogo, mas dá base ao clichê “o futuro da Humanidade está em risco” com seus personagens, de motivações claras e sentimentos reais.
Uma volta – rápida – ao original
Em Mulher-Maravilha, Diana (Gadot) enfrenta um Deus para salvar a Humanidade. No fim, descobre que não é uma arma que vai vencer a guerra, mas o amor. Meio brega, meio clássico. Funciona por cenas individuais (como esquecer a ida à loja de roupas ou a travessia pela Terra de Ninguém?) e pela incrível dinâmica entre Diana e Steve Trevor (Chris Pine), que apresenta a ela um mundo desconhecido, diferente e assustador, mas que merece – e pode – ser salvo.
Outro ponto fundamental para o funcionamento do filme é a importância de todos os personagens. A Mulher-Maravilha é a protagonista clara, mas não apaga a existência daqueles que a cercam. Ao contrário: a colaboração entre ela e os demais personagens, homens, ensina uma lição a todos. O filme tem uma mensagem quase ecumênica.
Como Patty Jenkins “dobra a aposta” em Mulher-Maravilha 1984?
Mulher-Maravilha 1984: mesma premissa, história diferente
Sem entrar na temida Zona de Spoilers, a premissa de Mulher-Maravilha 1984 é a mesma do filme anterior: Diana, indiretamente, está enfrentando um deus para salvar a Humanidade. Mas se Hades representava o risco de autodestruição pelos nossos piores instintos, a ameaça deste filme é muito mais refinada.
Há igual risco nos nossos bons instintos. E aquilo que mais desejamos pode ser exatamente a nossa perdição. É assim que o “Deus vilão” de Mulher-Maravilha 1984 se manifesta, deturpando nossa boa-fé. Todos são seduzidos por sua promessa, inclusive Diana.
Essa foi uma solução engenhosa para trazer Steve Trevor de volta (como você viu nos trailers, não me xingue por falar isso aqui) e reeditar a dinâmica com Diana, desta vez invertida. É ela quem apresenta a ele um mundo totalmente diferente do que ele conheceu em 1917.
Merece destaque, inclusive, a atuação de Chris Pine. O olhar encantado ao ver um ônibus espacial. O gesto involuntário de se colocar à frente de Diana quando acha que um passo de break dance é uma ameaça. Involuntário e completamente inútil, pois ela é literalmente capaz de desviar de balas, mas ainda assim um gesto protetivo. Nunca condescendente. É fácil entender porque Diana o ama.
Vilões realistas
Não sei quanto a vocês, mas a dinâmica do vilão que acorda “de ovo virado” e decide destruir o Universo por um capricho soa muito datada para mim. Ela teve seus momentos (o “ajoelhe diante de Zod!” de Superman 2 ainda é um dos grandes momentos do gênero), mas histórias engajam mais quando entendemos o vilão.
Quando o vilão representa um lado falho do próprio herói, a relação entre eles se torna mais significativa. A jornada transforma Diana para melhor. Isso só é possível porque ela, Barbara (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro Pascal) possuem o mesmo desejo: serem amados. Há, inclusive, uma cena ainda no começo do filme, quando Diana e Barbara vão a uma festa e se vestem, respectivamente, de branco e preto. Uma pista sutil que o figurino dá sobre a futura oposição entre as duas.
Por terem de enfrentar os mesmos dilemas, as escolhas que cada um faz avançam a história e dão camadas de complexidade a todos estes personagens.
Mulher-Maravilha 1984: a evolução de uma protagonista inspiradora
Ao refinar a premissa e oferecer um obstáculo maior em relação ao original, Patty Jenkins faz o que se espera de uma sequência. Quebrando o estereótipo de que é proibido a mulheres fortes amarem e dando o amor como o grande poder da mulher mais forte do planeta, é um filme ainda mais enfático na sua mensagem temática principal.
Filmes de super-heróis são sobre super-poderes. Bons filmes de super-heróis são sobre pessoas. Sim, “o amor conquista tudo” é cafona. Mas não é essa mensagem cafona de que o mundo precisa em tempos onde a ganância e o ódio têm tanto palanque? Ser cafona exige coragem. Mulher-Maravilha 1984 tem.
Ainda bem.
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Patty Jenkins, Geoff Johns & Dave Callaham
Edição: Richard Pearson
Fotografia: Matthew Jensen
Design de Produção: Aline Bonetto
Trilha Sonora: Hans Zimmer
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright & Connie Nielsen