A Garota e a Aranha – 45ª Mostra SP
Última atualização: 25/10/2021
A Garota e a Aranha é um filme sobre uma garota e uma aranha, mas também sobre outra garota e outra aranha e, mais ainda, sobre muitas garotas e muitas teias nas quais elas se encontram. Por mais contraditório que pareça, o filme é repleto de nadas, mas ainda assim cheio de informações.
Em um dia qualquer na vida de pessoas comuns, um grupo se dedica à mudança de um apartamento para outro. Serei mais específica: Lisa (Liliane Amuat) está se mudando enquanto sua amiga, Mara (Henriette Confurius) permanecerá no apartamento que elas dividem com um terceiro amigo.
A princípio, parece que seremos inseridos em uma rotina de mudança comum, com pessoas andando de um lado ao outro carregando caixas, limpando cômodos, montando e desmontando móveis. Entretanto, o filme se aprofunda na teia criada para ligar aquelas vidas.
Na teia da garota e da aranha
Enquanto estamos imersos naquela rotina, percebemos o quanto somos movidos a nos interessar e desejar Mara. A personagem é hipnotizante, simples, sedutora. Tem um olhar marcante, que se direciona fixamente para a câmera, provocando um diálogo íntimo conosco. Similarmente, outras personagens compartilham com a tela seus segredos.
Estamos ali como a aranha na parede ou como as penas de travesseiro com as quais as crianças brincam. Somos tão intrusos quanto os cães e o gato da vizinha, ou seja, observadores. Levados pela lábia da assumida mentirosa que conta suas histórias e consegue, com isso, retirar dos outros suas histórias íntimas.
Entrelaçados naquela existência, não há porque se preocupar com as certezas, apenas navegar pelo contexto oferecido. A delicadeza desse filme está não apenas nas histórias contadas verbalmente, mas também nas que não são ditas. Existem tensões, tesões e paixões tão sólidas nas trocas de olhares e toques, que expressam muitos sentimentos.
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Sabiamente, Ramon e Silvan Zürcher usam a câmera a seu favor, tanto para mostrar detalhes que em um contexto não fictício poderiam passar desapercebidos, como para enfatizar a ausência de expressões diante de palavras ditas de maneira potente ou mesmo dolorosa. O enquadramento em planos detalhe e close-ups enfatizam as sensações de estarmos em espaços pequenos. Tudo é estranho. A mudança e suas rupturas afetam tudo e todos. Ainda assim, a vida flui.
Ficha Técnica
Direção: Ramon Zürcher, Silvan Zürcher
Roteiro: Ramon Zürcher, Silvan Zürcher
Edição: Katharina Bhend, Ramon Zürcher
Fotografia: Alexander Haßkerl
Design de Produção: Mortimer Chen, Sabina Winkler
Trilha Sonora: Philipp Moll
Elenco: Henriette Confurius, Liliane Amuat, Ursina Lardi, Flurin Giger