A Lenda de Ochi destacada

A lenda de Ochi

Na era dos blockbusters dominados por CGI, e com a irrefreável ascensão da  inteligência artificial nas produções de cinema, A Lenda de Ochi chega como uma lufada de ar fresco, ainda que esta possa ser a bonança que antecipa a tempestade. Dirigido por Isaiah Saxon em sua estreia no cinema, o filme é uma produção da A24 que resgata a estética artesanal e emocional dos clássicos dos anos 1980, como A História Sem Fim e O Cristal Encantado. E o mais surpreendente? A criatura central é um animatrônico, aparentemente sem uma gota de CGI.

Um tema bucólico para um filme bucólico

A trama se passa em Carpathia, uma ilha fictícia que mistura vilarejos rústicos e mercados modernos. Ali vive Yuri (Helena Zengel, a garotinha de System Crasher, de 2019), filha de Maxim (Willem Dafoe). Este lidera caçadas aos misteriosos Ochi, seres considerados ameaçadores, mas que revelam ter muito mais humanidade do que os próprios humanos. Após encontrar um filhote de Ochi ferido, Yuri decide ajudá-lo e embarca em uma jornada que transformará sua visão de mundo, e a nossa também.

Ochi penhasco

O filme se destaca pelo cuidado visual. Saxon, que veio do mundo dos videoclipes, imprime um estilo visual interessante, rústico, mas sofisticado. Com influências claras de diretores como Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros, de 2009) e Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de 2004). Os cenários naturais da Romênia e os efeitos práticos criam um mundo imersivo, onde cada detalhe é pensado para parecer tangível, quase palpável.

A Lenda de Ochi é belo e tocante, mas com uma ausência inexplicável

Mas A Lenda de Ochi não é apenas beleza. É também uma história sobre amadurecimento, empatia e ruptura de padrões familiares. Zengel entrega uma performance contida, mas poderosa, e Dafoe brilha como o patriarca severo. Emily Watson e Finn Wolfhard completam o elenco com atuações sólidas.

Apesar do encantamento visual, o longa apresenta momentos de ritmo lento, especialmente em seu segundo ato. A relação entre Yuri e o Ochi, embora tocante, poderia ter se beneficiado de mais momentos de conexão emocional explícita. É difícil explicar o que falta aqui, mas talvez seja um pouco mais de maldade. O filme parece muito ser um conto de fadas, mas um conto de fadas Disney, em que tudo parece bonito. Não é o mais adequado para um filme que em seu estilo, parece dar outro tom ao seu conflito.

Ochi mãe

Ainda assim, a escolha de não antropomorfizar excessivamente a criatura traz uma autenticidade rara ao filme. A trilha sonora de David Longstreth, embora charmosa, às vezes compete com a narrativa em vez de complementá-la. Ainda assim, não compromete a experiência.

No fim das contas, A Lenda de Ochi é uma celebração da fantasia feita com alma e mãos humanas, algo que tende a ser cada vez mais raro no cinema. Pode não alcançar o status de clássico como E.T., mas é o tipo de obra que pode inspirar a próxima geração de criadores a sonhar com mundos além da tela verde.


Ficha Técnica
The Legend of Ochi (2025) – Estados Unidos
Direção: Isaiah Saxon
Roteiro: Isaiah Saxon
Edição: Paul Rogers
Fotografia: Evan Prosovsky
Design de Produção: Jason Kisvarday
Trilha Sonora: David Longstreth
Elenco: Helena Zengel, Willem Dafoe, Emily Watson, Finn Wolfhard

 

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