Amizade

Amizade

Última atualização: 13/03/2025

Entre momentos de descontração, reflexões e encontros com colegas artistas, a obra “Amizade” de Cao Guimarães explora bem a passagem do tempo e a amizade como um elo essencial da existência humana. Gravado em diferentes formatos – desde super-8, 35mm e fitas cassete até video chamadas e gravações digitais modernas –, o documentário é um verdadeiro mosaico de lembranças e conexões, evocando sentimentos nostálgicos e, por vezes, melancólico.

Não que seja uma surpresa, dado a própria natureza do projeto. Quando mergulhamos em nossas memórias, mesmo que sejam aquelas que nos fazem sorrir, é sempre um sorriso carregado de melancolia. A proposta do documentário surgiu em 2016, quando o Brasil enfrentava uma intensa crise política e social.

Diante dessas incertezas, Guimarães decidiu registrar sua mudança para o Uruguai e, durante a viagem, revisitou seu vasto acervo de memórias audiovisuais. Com isso, Amizade tornou-se um projeto que reflete o ato de recordar, e talvez ainda mais importante, o poder dos laços em tempos de crise.

O filme também registra os impactos da pandemia da Covid-19, trazendo uma edição que reforça a solidão e a necessidade de conexão nesses tempos incertos.

Amizade

Arte, amizade e desafios no cinema brasileiro

Um dos aspectos mais fortes de Amizade é a sua vocação para falar sobre o estado da sétima arte no país. Ao incluir bastidores de produções anteriores, o documentário escancara os desafios enfrentados por artistas brasileiros. As dificuldades para viabilizar um filme e conseguir espaço para sua exibição são retratadas de forma natural e sincera, destacando como a arte no Brasil frequentemente se equilibra entre a paixão e as adversidades do mercado.

Entre os muitos amigos registrados por Guimarães, figuram nomes conhecidos do cinema brasileiro, como Marcelo Gomes, Lírio Ferreira e Matheus Nachtergaele. As conversas entre eles revelam momentos triviais de convivência e também discussões sobre arte, política e o próprio significado da amizade ao longo dos anos.

Amizade

A beleza e os desafios de um cinema sensorial

Com uma montagem fluida e sensorial, a obra permite que os espectadores naveguem pelos registros como quem revisita um álbum de fotos antigas. Contudo, há momentos em que a obra se estende além do necessário, tornando algumas sequências repetitivas.

Se por um lado, o filme celebra a memória e o afeto, por outro, sua estrutura aberta pode tornar a experiência cansativa para alguns espectadores. A ausência de narração em determinadas cenas cria lacunas que poderiam ser preenchidas para dar mais ritmo à obra.

Ainda assim, a decisão de Guimarães em compilar todo esse material em uma única produção se justifica: Amizade é uma homenagem não apenas aos seus amigos, mas também ao próprio cinema como registro do efêmero.

Para aqueles que apreciam documentários sensíveis e contemplativos, Amizade é uma experiência essencial do gênero hoje. O filme resgata memórias pessoais de um cineasta importante de sua geração, convidando o público, no processo de assistir ao filme, a refletir sobre o passar do tempo, os ciclos da vida e o valor das relações humanas.

Apesar de possuir pequenas falhas estruturais, a obra se destaca como um testemunho honesto e poético da importância de compartilhar momentos – sejam eles grandes ou pequenos. E, em certa medida, o cinema não é sobre isso?

 


Ficha Técnica
Amizade poster
Amizade (2024) – Brasil
Direção: Cao Guimarães
Roteiro: Cao Guimarães
Edição: Cao Guimarães
Fotografia: Cao Guimarães
Trilha Sonora: O Grivo

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