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Eqqus | Dossiê Sidney Lumet

Por Euller Felix
Última atualização: 14/06/2024

Equus (1977)

Roteiro: Peter Schaffer

Elenco: Richard Burton, Peter Firth, Colin Blakely, Joan Plowright

Quando nos deparamos com alguma atrocidade, muitas vezes nos perguntamos, “o que leva uma pessoa a fazer isso?”, tentando de alguma forma racionalizar o irracional. Em alguns desses casos, buscamos a história da pessoa que cometeu o ato no intuito de buscar ali motivos ou indícios que poderiam premeditar a irracionalidade, ou que nos ajudassem a entender um pouco o que aconteceu.

Essa busca por respostas pode ser uma das chaves para refletir sobre Equus, de Sidney Lumet (1977), filme que é baseado em uma peça de teatro de Peter Shaffer. Em linhas gerais, Equus uma obra que lida com a investigação sobre a mente de um jovem que atacou e feriu os olhos de cavalos com um objeto cortante. Pode-se pensar no motivo que levou o jovem a cometer essa atrocidade: se houve alguma influência externa, ou se ele apresenta problemas psicológicos.

O jovem se chama Alan Strang (Peter Firth) e mora com seus pais Frank (Colin Blakely) e Dora (Joan Plowright). Alan é um jovem que acaba desenvolvendo uma fixação por cavalos, principalmente depois de uma experiência de montar em um deles em uma praia quando mais jovem. Essa sua fixação se torna logo uma espécie de obsessão religiosa. Ele começa a colecionar e manter em seu quarto as mais variadas imagens de cavalos, algumas mais convencionais, mas outras em formatos mais lúdicos ou estranhos. Uma, inclusive, é uma representação da crucificação.

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Começam então as perguntas do filme: como alguém que parece possuir tamanha devoção a uma espécie de animal teria a coragem e o impulso de machucá-lo? É isso que o psiquiatra Martin Dysart (Richard Burton) vai tentar responder.

Citei aqui a família de Alan, e no filme isso é bem explorado. Dora possui uma personalidade religiosa bem forte, o que pode ter passado para o filho, que desenvolveu a mesma convicção de crença. Não com a religião cristã ou com as religiões tradicionais, mas sim com os cavalos. Esta é uma das formas como Frank, o pai, vê toda a situação e o que pode ter desencadeado a obsessão e, por conseguinte, o colapso e ataque de Alan.

Ele busca racionalizar as atitudes de seu filho com base no convívio que ele teve e desenvolveu com sua mãe e religião dela. Aqui, ele está levando em conta uma cena de devoção que presenciou quando entrou no quarto de seu filho em uma noite. Na cena, ele viu Alan de joelhos na cama, dizendo frases como em uma oração, e depois se martirizando. Juntando esta relação às imagens e às formas como o filho agia, para ele foi fácil chegar essa resposta e colocar a culpa em Dora.

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É evidente que não há um só motivo para a explosão de loucura de Alan. Não foi o contato com a religião que fez com que Alan cometesse um ato como o de furar os olhos de um animal. Por isso, Martin busca fazer uma investigação sobre o passado de Alan e como ele adquiriu a paixão pelos cavalos, para cobrir todas as partes de sua vida e entender seus motivos, ou, pelo menos, concluir se ele é um perigo ou não para a sociedade.

O caráter investigativo e a construção de um panorama da personalidade de Alan torna Equus um filme melhor. Enquanto Martin busca respostas, e são apresentados alguns flashbacks e momentos da investigação, o filme vai ficando cada vez mais interessante e nos aguçando a querer ver mais e entender um pouco mais daquelas pessoas que estamos observando.

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De fato, aquelas pessoas são complexas, e não acessórios para a construção da história que estamos assistindo. O pai, Frank, é um homem rígido e familiar, mas vai a cinemas que exibem filmes pornográficos. O psiquiatra, que parece ser bem resolvido consigo mesmo, vive se questionando sobre seu casamento e suas escolhas. Assim, podemos ver que o filme não é somente sobre Alan ou sobre como ele enlouqueceu e atacou aqueles animais, mas também sobre as complexidades da vida e do pensamento humano.

Sidney Lumet tem inúmeros filmes interessantes, que são sempre lembrados quando tocamos em seu nome ou refletimos sobre sua obra. Serpico, Rede de Intrigas e Um dia de Cão são obras que aparecem em qualquer pesquisa básica sobre o cineasta. Mas Equus merece também destaque em meio a tantas obras interessantes de Lumet, não só pela sua história curiosa de um jovem que cultua e ataca cavalos, mas por todas as possibilidades de interpretação que só um grande filme pode proporcionar.

Encontre os demais textos do Dossiê Sidney Lumet em nosso editorial.

Euller Felix, formado em Ciências Sociais, pesquisador e critico de cinema. Tenho uma produção sobre o cinema de horror com textos, o blog Dialética da Imagem, podcasts e organizei dois livros sobre o assunto, “O Melhor do Terror dos anos 80” e “O Melhor do Terror dos anos 90” ambos publicados pela Editora Skript.

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