
Girassol Vermelho
Última atualização: 20/03/2025
Adaptado da obra de Murilo Rubião, Girassol Vermelho é um exercício cinematográfico ambicioso, que mistura o realismo fantástico com uma forte carga alegórica sobre ditaduras e repressão. Dirigido por Eder Santos, o longa aposta em uma estética meticulosa e experimental. Mas nem sempre consegue equilibrar suas pretensões visuais com uma narrativa sólida.
Uma estética visual marcante
Desde sua primeira cena, o filme estabelece seu compromisso com um cinema mais sensorial do que convencional. A fotografia explora luzes recortadas, sombras abruptas e névoas constantes para criar uma atmosfera claustrofóbica e surreal, e essa percepção é imediata.
Como o filme foi realizado integralmente em estúdio, o longa é feliz em transformar sua artificialidade em linguagem, evocando um espaço industrial, rígido e mecânico, que reflete a opressão vivida pelo protagonista Romeu (Chico Diaz).
Existe, durante toda a projeção, uma busca incessante pela plasticidade das cenas, resultando em composições visualmente impactantes. Apesar disso, essa ultra-estetização acaba se tornando um dos pontos mais cansativos do filme. A partir do momento em que a repetição exaustiva de enquadramentos e efeitos visuais começa a esvaziar o impacto dramático da obra, ela se torna previsível em sua pretensa grandiosidade.
Narrativa e crítica social
A história acompanha Romeu, um viajante que desembarca em uma cidade onde “perguntar é proibido” e rapidamente se torna alvo de um regime autoritário. O filme mergulha em uma crítica às engrenagens burocráticas e repressivas, evocando tanto Kafka quanto o cinema de David Lynch, há aqui também ecos de Kubrick e até mesmo do THX de George Lucas.
A estrutura narrativa, porém, tropeça ao sacrificar o desenvolvimento dos personagens em prol da ambientação. Figuras como a femme fatale Eva (Luiza Lemmertz) e o ditador interpretado por Daniel de Oliveira reduzem-se a arquétipos unidimensionais, sem nuances que os tornem memoráveis.
Essa natureza funciona perfeitamente em um conto, mas aqui se tornam faltas em um longa metragem. Além disso, a insistência em simbolismos óbvios, como a caixa transparente onde Romeu é torturado, acaba tornando algumas mensagens repetitivas.
O paradoxo de Girassol Vermelho
Se há um mérito inegável em Girassol Vermelho, é sua capacidade de evocar sensações e provocar reflexão. No entanto, ao priorizar a estética em detrimento de uma narrativa mais coesa, o filme oscila entre o brilhante e o excessivo. Ele fascina pelo visual, por pouco tempo, mas frustra por sua falta de aprofundamento.
No final, Girassol Vermelho se posiciona como um experimento cinematográfico ousado, mas que poderia ter ido além na construção de sua história e personagens. Nesse sentido, sua beleza existe, mas a sensação que fica é a de que sua viagem ao surrealismo poderia resultar ainda mais instigante e enigmática.

Direção: Eder Santos, Thiago Villas Boas
Roteiro: Mônica Cerqueira, Eder Santos
Edição: Laura Blum, Flávia Moraes
Montagem: Fabian Remy, Dan Loghin, Carlos Tribiño Mamby, Barão Fonseca, Eder Santos
Fotografia : Stefan Ciupek
Direção de Arte : Laura Vinci, Allen Roscoe
Som: Alexandre Martins
Elenco: Chico Diaz, Daniel de Oliveira, Luah Guimarães, Luiza Lemmertz, Mariano Mattos, Bárbara Paz, Aury Porto