M3GAN
Última atualização: 19/01/2023
Como um amigo bem definiu, M3GAN é o Chucky da Geração Z. Mas não se preocupem, o filme não é apenas isso, pois ele também se propõem a ser divertido e, sem dúvidas, o primeiro de uma nova franquia de filmes de terror.
Gemma (Allison Williams) vive pelo seu trabalho, que consiste em desenvolver jogos na empresa Funki Toys. Entretanto, sua vida muda com a morte repentina da irmã e do cunhado em um acidente. Na ausência dos pais, a guarda da sobrinha, Cady (Violet McGraw) é de responsabilidade dela. Contudo, há uma falta de habilidade com crianças. Com o desejo de aperfeiçoar sua nova invenção, a moça decide presentear a sobrinha com uma boneca em tamanho natural com a capacidade de se assemelhar a uma criança de verdade.
Model 3 Generative Android (Modelo 3 Generativo Androide)
Com a finalidade de acompanhar a época, Chucky e Anabelle, brinquedos analógicos e possuídos por algum demo, são descartados para inserção da androide M3GAN no hall de objetos malignos da sétima arte.
Desde o início, o filme fala sobre o uso excessivo das telas de celular na vida dos adultos, por meio da dependência que Gemma tem de eletrônicos. A mulher mora em uma casa controlada por dispositivos contendo um assistente virtual, diretamente ligado a todas suas criações. Ao mesmo tempo, ao usar sua sobrinha como “cobaia” e ao observar a relação entre Cady e M3GAN (Ammie Donald, com voz de Jeena Davis), existe de fato uma tentativa de falar sobre o impacto da tecnologia digital em excesso na infância. Mas o filme não está preocupado em dar uma lição de moral sobre como criar uma filha.
M3GAN quer ser diferente?
A resposta para a pergunta é não, seja ao falar sobre o filme ou sobre a personagem. A menina-robô quer poder e justiça de acordo com o que a programação dela a faz entender. O filme recicla ideias de vários clássicos, do terror e da ficção científica.
Há alguns anos, Al Pacino teve sua androide pessoal em S1mone e Steven Spielberg nos apresentou um robô-menino programado para amar. James Cameron, nos anos 1980, mostrou o futuro destruído pelos androides da mesma forma que, na literatura, Isaac Assimov já relatava quais seriam os problemas enfrentados pela humanidade diante da rebelião das IA. Cito essas referências com o intuito de reforçar que a produção dirigida por Gerard Johnstone não quer, em momento nenhum, inovar. Muito menos ser séria.
A Barbie Adolescente do Cão cumpre sua função de ser divertida, mas não chega a ser aterrorizadora. Falta sangue, ainda que presenciemos a boneca sendo bem cruel com suas vítimas. De fato, a máquina se desenvolve rápido demais e, infelizmente, sem seus parâmetros bem definidos, M3GAN cria suas próprias noções de moral, amor e proteção, transformando a vida das pessoas ao seu redor em um inferno (até bem suave, se compararmos a outros filmes de brinquedos assassinos).
Em resumo, se Gemma, alguém que aparenta ser uma expert não apenas em tecnologia, mas também em ficção científica, tivesse seguido as três leis da robótica de Assimov*, nada disso teria acontecido.
BlumHouse e sua casa de bonecas
Indo na contramão da A24, a Blum cria alguns alívios em meio a muitas produções de “horror elevado”, entregando para o público do gênero algo menos filosófico ou indagador. Assim sendo, a produção que estreia dia 19 de janeiro nos cinemas é redondinha, deixando aqui e ali algo que possa ser a chave para uma sequência, dependendo de seu rendimento nas bilheterias.
O produtor pode querer lançar uma sequência com algumas androides-adolescentes enlouquecidas, já que uma das personagens rouba os projetos da criação e o vende aos concorrentes. Ele pode também flrtar com Bay e fazer uma batalha digna de Transformers entre M3GAN e BRUC3, protótipo também criado por Gemma. Considerando que o roteiro do filme é uma parceria de James Wan e Akela Cooper, roiteirista de Maligno, eu não duvidaria de uma aparição da robô em um capítulo contemporâneo do Annabelleverso.
A escolha da produção em caracterizar a boneca como algo imageticamente reconhecido como feminino, doce e angelical é a cereja do bolo do filme. Afinal, porque não desembolsar o valor de um carro para investir em uma babá eletrônica? O que importa são as fotos instagramáveis e o status envolvido ao ter tal produto. Se Jason e Blum pensarem bem, têm ideias pra umas cinco sequências no mínimo.
Após um ano cheio de filmes de terror como O Telefone Preto e Não! Não Olhe!, a produção da BlumHouse debuta nos cinemas brasileiros mostrando talvez o resultado do fôlego que o cinema de horror tomou nos últimos anos.
* Leis da Robótica:
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper, James Wan
Edição: Jeff McEvoy
Fotografia: Peter McCaffrey
Design de Produção: Kim Sinclair
Trilha Sonora: Anthony Willis
Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Amie Donald, Jenna Davis, BRian Jordan Alvarez, Ronny Chieng, Jen Van Epps, Stephane Garneau-Monten