Milton Bituca Nascimento

Última atualização: 20/03/2025

No tempo dos incas e dos astecas existia um recurso chamado DVD. A gente colocava em um aparelho que reproduzia filmes, seriados e outros produtos audiovisuais. Também eram lançados shows de artistas da música. Muitas vezes as músicas eram pensadas exclusivamente para um novo formato como nos famosos Acústicos MTV. Algumas vezes, víamos os bastidores da gravação daquele show com entrevistas com os envolvidos ou outras pessoas que têm relação com o artista que irá se apresentar. Esses bastidores podiam vim incluídos no meio da apresentação ou em uma opção de “Extras”, no menu do DVD que geralmente os mais curiosos iam quando queriam ver mais coisas. O documentário Milton Bituca Nascimento (2025), de Flávia Moraes, faz algo parecido.

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Dos bastidores para a vida

O documentário acompanha os bastidores das últimas apresentações ao vivo do cantor. Chamada de “A última sessão de música”, a turnê de despedida do cantor mineiro de 82 anos, passou por diferentes países e estados do Brasil. Milton Bituca Nascimento, registra os bastidores dessas apresentações, seus ensaios e as pessoas que estiveram relacionadas a ela. Junto desse making off, vamos acompanhando relatos do passado de Milton, suas inspirações e modos de fazer música. Mas o foco aqui é a obra do cantor, que foi um dos principais fundadores do Clube da Esquina. 

Milton Bituca Nascimento

Um mineiro entre gigantes

Com isso, sua obra entra em um foco principal. Temos então o relato de diferentes artistas nacionais, como Djavan, Simone e Chico Buarque e internacionais como Paul Simon, Spike Lee e Quincy Jones. Eles falam da importância do artista para a música mundial e sua singularidade. Uma das coisas mais interessantes é que músicos do mundo acham a sua música tão singular que fica difícil encontrar alguma definição. Muitos chamam de jazz, mas eles próprios confessam que não é a melhor das definições. Teóricos da música até apontam coisas que teoricamente estariam “erradas” na forma de composição, mas que o som soa como algo vindo da alma, que é tão delicada que é possível ignorar o acadêmico e apenas sentir.

É interessante que essa singularidade de Bituca como cantor, compositor e pessoa é muito mais ressaltada do que o passado triste, pobre e cheio de preconceitos que ele passou. Obviamente que esses detalhes são ditos, afinal, também foi uma parte formadora do músico. Entretanto, suas qualidades artísticas são mais louváveis do que as dores que ele tenha passado. E isso é excelente de se ver.

Uma voz…

Durante Milton Bituca Nascimento, tivemos aquela sensação pré show. Quando a gente está dentro do estádio, já olhando para o palco esperando o show começar. Ou quando selecionamos o título “Extras”, no menu do DVD. Isso é interessante por nos deixar empolgado, mas ao mesmo tempo, parece que estamos esperando algo grandioso acontecer, mas não vai. As músicas não são executadas por completo e fica um gostinho de quero mais. No documentário Nada Será Como Antes – A Música do Clube da Esquina (2023), de Ana Rieper, essa vontade de ouvir a música completa é melhor resolvida com gravações e imagens de arquivo. Em contrapartida, Flávia Moraes, coloca um pouco mais de arte no longa com cenas encenadas de Milton atual contracenando com sua versão criança. E com a narração de Fernanda Montenegro, dá um olhar mais poético para um documentário.

… um legado

Sempre que visitamos a história da nossa música nacional, Milton parece ser retratado como um coadjuvante da história. Alguém que gravou com Chico ou Caetano, sendo que ele é tão importante e inventivo quanto qualquer outro dos grandes. O objetivo de Milton Bituca Nascimento, parece ser mostrar a grandeza e importância do artista para a música brasileira e mundial. É importante ver que artistas assim estão recebendo homenagens pela sua importância na nossa cultura ainda em vida. É um registro importante para mostrar as novas gerações de onde viemos. Muitos dos artistas contemporâneos parecem não conhecer o próprio passado e vivem “criando” música como se estivessem inventando a roda. Milton é uma música com alma, com cor. É um som que mesmo depois de anos ainda ecoa muito intensamente, capaz de lotar um estádio de futebol, e ainda irá ecoar por muitos anos. Viva Milton Bituca Nascimento!


Ficha Técnica
Milton Bituca Nascimento (2025) – Brasil
Direção: Flavia Moraes
Roteiro: Marcelo Ferla, Flávia Moraes
Edição: Laura Blum, Flávia Moraes
Fotografia: Pedro Rocha
Elenco: Milton Nascimento, Caetano Veloso, Simone, Gilberto Gil, Spike Lee

 

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