Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1

Quem me segue nas redes já me viu declarar ao longo do último mês o quanto eu estive eufórica com o lançamento de mais um Missão: Impossível nos cinemas e, sem dúvidas esse momento chegou com Acerto de Contas Parte 1. 

E mais uma vez Christopher McQuarrie ofereceu um episódio emocionante, uma vez que o sétimo episódio da franquia mantém características de seus anteriores. A maior qualidade da direção de McQuarrie seja talvez a capacidade que ele teve de unificar os quase 30 anos da série de filmes. Além de pegar a franquia após ter passado por quatro direções diferentes, Christopher tomou pra si o que tinha de mais marcante nos filmes anteriores. Assim sendo, o diretor soube como reexplorar essas características.

A fria guerra digital

O centro desse novo capítulo é a guerra digital. Uma inteligencia artificial chamada A Entidade ameaça todos os governos do mundo. Criada para ser um meio de espionagem, tal qual HAL 9000, de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, a IA se reprograma e passa a ter pensamentos autônomos e uma sede de poder. Obviamente, mais uma vez, a única pessoa com capacidade de salvar o mundo de uma grande conspiração política é ele, Ethan Hunt!

Além disso, no início um submarino russo é abatido, bem como a alta tecnologia desenvolvida e usada pela equipe de Hunt precisa ser substituída por tecnologia analógica. Em outras palavras, o saudosismo recorrente no cinema hollywoodiano contemporâneo coloca suas mangas de fora e ressuscita o fantasma da Guerra Fria. Digo isso, pois nos últimos anos houve um prolífico retorno a filmes do passado como Os Caça Fantasmas ou mesmo Top Gun, também estrelado por Cruise. Passar de um século de existência, pelo visto,  deixou este cinema com uma certa crise existencial. 

Pois bem, retomando o raciocínio, McQuarrie aqui emula tanto aspectos da série para TV que originou o filme, como a primeira produção em longa, dos anos 90. E tudo isso é o que sustenta o valor afetivo para os fãs da franquia: um espaço de conforto que, apesar de redecorado, não foi muito alterado. Mas isso está distante de ser um demérito. Mesmo sendo saudosista e talvez algo visto como pouco criativo, funciona e bem.

Não há nada que possa afetar Ethan Hunt, exceto…

…uma inteligência artificial e seu passado. 

Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 mais uma vez coloca Hunt (Tom Cruise) para confrontar seu passado. Dessa maneira, algo relacionado ao motivo pelo qual ele foi treinado para integrar a equipe de agentes secretos será seu novo fantasma. 

Esta aparição tem nome, Gabriel (Esai Morales), um agente, ou assassino, que já cruzou o caminho de Hunt antes. Faço aqui outra digressão para apontar que não só o par Gabriel e Entidade são ótimos vilões, bem como os anteriores. Owen Davian (Phillip Seymour Hoffman) e Solomon Lane (Sean Harris) comprovam isso. 

Pois bem, não apenas as questões pessoais do passado de Hunt confrontam o espectador, mas também aspectos visuais que nos catapultam em direção ao primeiro filme da franquia, dirigido pelo incrível Brian De Palma – corre pra rever lá na Star+. Com toda certeza, isso fica claro na escolha dos planos. É recorrente a câmera muito próxima da face dos interpretes. Ademais, há muitas sequências de diálogos em que os presente são destacados pelo deutch tilt, o ângulo holandês, de baixo pra cima, intensificando a sensação de que sempre há algo mais acontecendo em cena. 

Missão: Impossível é a família que Hunt pode ter

O retorno de Eugene Kittridge (Henry Czerny) reforça a sensação de que algo de errado não está certo, pois a experiência anterior de Ethan com o agente foi conflituosa (como disse, vejam o primeiro filme). Mais uma vez o clima entre eles tensiona e verdades e mentiras são faces de uma mesma moeda.

Em contraponto, a cada filme, a união entre Hunt e sua equipe se firma mais. Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames) se mantém como porto seguro do agente, Ilsa (Rebecca Fergusson), seu amor. Outras duas mulheres entram pros times de mocinhas vilanescas, GRace (Hayley Atwell) não está mal, mas não acrescenta nada a trama, no máximo substitui uma lacuna. Já Paris (Pom Klementief), silenciosa e letal, agrega tensão em suas aparições tal qual Gogo Yubari (Yuka Saito) em Kill Bill.

Ethan, essa força natural em busca de um bem maior, mente finge e omite, tal como seus antagonistas. O amamos porque aceitamos suas facetas, ao ponto de, darmos a mão para ele e nos aventurarmos em outro volume de sua história, mesmo sabendo que não encontraremos pelo caminho nenhuma novidade. 

E, ao aceitar assistir M:I o que queremos é o cinema de ação com todas as convenções do gênero e da franquia: máscaras, mensagens que se autodestroem em cinco segundos, luta em cima do trem, suspense. Por aqui, já me encontro de braços estendidos esperando pela parte 2. 

Ficha Técnica

Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One (2023) – Estados Unidos
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Bruce Geller, Erick Jendresen, Christopher McQuarrie
Edição: Eddie Hamilton
Fotografia: Frase Taggart 
Design de Produção: Gary Freeman
Trilha Sonora: Lorne Balfe
Elenco: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Fergusson, Vanessa Kirby, Esai Morales, Pom Klementieff, Henry Czerny, Cary Elwes

Publicado Por

Yasmine Evaristo

Artes, Letras e Cinema. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos. Ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch. Tenta não ser ácida em suas análises. Tenta.

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