Motel Destino

Última atualização: 15/08/2024

Logo nos primeiros segundos de Motel Destino, seu diretor Karim Aïnouz estabelece uma atmosfera narrativa com imagens de praias, rochas e árvores. Mas o principal elemento que o filme quer captar não é visível: é o vento. Aïnouz utiliza imagens de elementos da natureza pra captar a fluidez do vento, uma fluidez que representa diretamente Heraldo (Iago Xavier), que está sempre indo em direção ao próprio destino.

Heraldo é um personagem corpóreo. Se comunica e se expressa através de seu corpo. Por isso, Karim Aïnouz busca cada milímetro de seu corpo com a câmera. Mas Heraldo também é um personagem completamente quebrado, que se mantém de pé com base em sua relação com as pessoas próximas: as poucas que o compreendem, as poucas que o mantêm por perto.

Heraldo considera os amigos de tráfico como uma irmandade. Com a morte de seu companheiro, se vê isolado, sem destino, e todos os seus planos voam com o vento. Heraldo é roubado e perseguido, e seu corpo se vê preso em um Motel, onde o seu mundo passa ser apenas aquilo. Tudo que é externo àquele microcosmo passa a ser obscuro.

Ao conhecer Daynara (Nataly Rocha) e Elias (Marcos Assunção), Heraldo se vê envolvido em um mundo neo-noir, que transforma seus personagens em feras sexuais suadas, que seguem uma linha voyeur. Existe a busca por mais naquele mundo que vem externamente, através de pequenas janelas ou de câmeras de segurança que revelam coisas completamente novas. É sutil como Karim Aïnouz usa do voyeurismo como um gatilho para a transformação daqueles personagens que se entregam à carne, e o diretor sabe muito bem como criar de tesão selvagem.

Um microcosmo do Brasil

Ao mesmo tempo, Motel Destino também é um reflexo da realidade social brasileira e seus personagens com sonhos sendo destruídos, tendo que renascer para alcançar seus destinos. Por se considerar responsável pela morte de seu amigo, Heraldo se vê constantemente sendo morto, assim como se vê preso em um mundo violento, sem perspectivas.

É interessante como o filme amplia sua atmosfera sensorial, nos levando a um mundo onde gemidos e gritos de prazer são a representação da ligação daqueles personagens, que têm no sexo a representação de seus desejos, sendo que cada um vê o ato como uma arma diferente, seja por controle, poder, desejo ou ódio. É um mundo onde o perigo está diretamente ligado ao tesão, onde a violência é uma linguagem natural.

Por sua vez, (Fábio Assunção) é um personagem que usa o corpo para a força e o controle. Se considerarmos que Heraldo está ali para sobreviver e se deixar seduzir, podemos ver Daynara (Nataly Rocha) como uma mistura disso tudo. O filme segue brincando com a relação dos três personagens durante toda a projeção, incluindo os momentos com tesão evidente entre Elias e Heraldo. É uma pena isso não ter sido mais explorado, pois a dinâmica de professor e aprendiz entre eles, que exala tesão e inveja, é interessantíssima.

Um thriller erótico

Motel Destino também é um filme que explora os corpos dançantes dos personagens, e, dentro desse mundo animalesco, a dança é a preliminar. Os corpos reagem a outros corpos se atraindo, quase se fundindo, a música os envolve como uma cápsula, e o diretor sabe muito bem explorar esses momentos mais oníricos.

Motel Destino é um thriller erótico estilizado, que consegue unir a atmosfera sóbria e imponente da natureza, a uma atmosfera neo-noir, entorpecida e maliciosa, em que o desejo da carne prevalece, e o homem, como espécie, naturalmente se deixa envolver.

É particularmente muito emocionante poder escrever sobre um filme produzido na terra em que nasci, e que foi assistido por tantas pessoas mundo afora. Esse sentimento deriva não só da representatividade, mas também por Motel Destino ser uma obra que vai muito além do Ceará ou suas representações. É arte latina, levando o calor do nosso cinema para o mundo.


Ficha Técnica
Motel Destino (2024) – Brasil
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Wislan Esmeraldo, Karim Aïnouz, Maurício Zacharias
Edição: Nelly Quetier
Fotografia: Hélène Louvart
Design de Produção: Marcos Pedroso
Trilha Sonora: Amin Bouhafa, Benedikt, Schiefer
Elenco: Iago Xavier, Fábio Assunção, Nataly Rocha

 

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