O Colibri
Última atualização: 27/04/2023
O Colibri de Francesca Archibugi narra entre flashbacks e flashforwards a vida de um homem italiano. E aqui, ao dizer vida abraço a efemeridade poética de viver e morrer, da mesma maneira que a diretora. Marco (Francesco Cetorame, na juventude e Pierfrancesco Favino, quando adulto) tem sua vida atravessada por situações curiosas, embora elas possam ser divididas entre delícias e dores.
Em sua juventude, Marco quase morreu em um voo para o Chipre que caiu. Em outro momento da vida ele também se tornou um famoso jogador de poker, colecionando admiradores e desafetos. Além disso, o homem se apaixonou, teve seu coração partido, se apaixonou novamente. Como consequência teve uma filha de sua filha que preencheu o vazio da morte da irmã. E também brigou com o irmão… E assim como O Colibri, parece que tudo o que disse aqui se complementa, mas nunca se encaixa direito.
Há várias formas de se contar uma história
Para mim, a ausência de linearidade escolhida por Francesca e Esmeralda Calabria, para contar essa história torna-a mais interessante. Talvez provavelmente porque a medida que tudo se desdobra existe sempre uma certeza do que as coisas são: um doce clichê cotidiano. Ainda assim, a confusão acontece, por exemplo, por minutos compramos a ideia de que o telefone celular que toca está relacionado a algum problema com a esposa. Porém, a medida que a linha do tempo avança e retrocede em seu jogo de quebra cabeças, o telefone adquire outra suspeita, outro suspense.
Seria Marco alguém que por acaso se envolveu com amigos problemáticos, afinal, o Inominável é repelido por algum motivo, não? Não, talvez fosse Marco a salvação de sua irmã, um anjo insistente que não a deixa, só beira mar. Foi ele, o melhor pai do mundo, entendendo a fuga da filha pelo mundo da imaginação ainda na primeira infância. No momento que Marco existe na vida dessas pessoas e, essas pessoas em sua vida ele é não só ator, mas também roteirista dos momentos que vivem juntos.
E nesse vai e vem labiríntico que a diretora propõe, camadas de sensibilidade acerca do obstáculos que a personagem enfrenta se tornam mais relevantes.
O Colibri e seu voo quase estático
Conforme os minutos se passam e os fragmentos de histórias são lançados, entendemos que a vida daquela pessoa é feita de ‘quases’, talvez com a finalidade de confundir, como supracitado. Sempre existe algo começando ou terminando e, ao mesmo tempo que isso é fascinante e torna a produção curiosa, por vezes nos afasta de apegarmos aos dilemas da personagem de Favino.
Em contrapartida o trabalho de maquiagem e cabelo são fascinantes e aos poucos se torna muito útil para nos localizarmos no tempo da história. Além disso, Nanni Moretti interpretando um psiquiatra amigável vem a ser uma ótima adição ao elenco. De maneira semelhante o elenco feminino presente nas décadas de vida d’ O Colibri, cada uma de seu jeito, encantam.
Assim como o voo do beija-flor, delicado, hipnótico e ágil são as maneiras que o protagonista lida com seu destino. Marco é desenvolto nos piores momentos, mas não deixa de ser frágil. Generoso e leal, acolhe os seus até o último minutos. A estranheza e a trivialidade se encontram nessa vida fictícia que pode afetar a todos que a assistir, cada um em sua particularidade.
Direção: Francesca Archibugi
Roteiro: Sandro Veronesi, Francesca Archibugi, Laura Paolucci, Francesco Piccolo
Edição: Esmeralda Calabria
Fotografia: Luca Bigazzi
Design de Produção: Alessandro Vannucci
Trilha Sonora: Battista Lena
Elenco: Pierfrancesco Favino, Nanni Moretti, Kasia Smutniak, Bérénice Bejo, Laura Morante, Benedetta Porcaroli, Massimo Ceccherini