O Deus do Cinema
Última atualização: 27/10/2023
Embora erre no equilíbrio de tons entre o medrama e a comédia, O Deus do Cinema revela-se um notável exemplo do conflito japonês entre tradição e modernidade. Além disso, realiza uma bela homenagem ao cinema clássico.
Na trama, busca-se entrelaçar humor e emoção em uma história dividida em dois períodos da vida de Goh. O protagonista, um experiente profissional do cinema, é interpretado por Masaki Suda em sua juventude e por Kenji Sawada na terceira idade. O conhecemos nos dias atuais em que, aos 78 anos, Goh já é um homem idoso. Com um severo vício em bebidas e jogos é colocado contra a parede por sua filha e esposa.
As duas o forçam a um acordo: não pagarão mais nenhuma de suas dívidas de aposta e bebidas, mas pagarão sempre que ele quiser ir ao cinema. Dessa forma, para escapar do aprisionamento do próprio lar, ele busca refúgio no antigo cinema de um amigo. Na juventude, ambos compartilhavam aspirações cinematográficas e nutriam um sentimento profundo por Yoshiko, interpretada por Nobuko Miyamoto, que eventualmente se tornou esposa de Goh.
Simples e emotivo
Embora simples, O Deus do Cinema nos embarca em uma emocionante jornada repleta de reviravoltas e reflexões. Assim sendo, enfatiza a dualidade das experiências vividas por um homem cujo amor incondicional pelo cinema se entrelaça com as complexidades pessoais e familiares. De diversas formas, o filme se assemelha a uma sincera carta de amor à sutileza e à uma inocência do cinema como forma de arte que, mesmo idealizada, verdadeiramente nos maravilha. A história de Goh inicia-se com uma fala marcante: “Observe essa tomada”.
Em muitas ocasiões, nos filmes, também somos tomados pelo desejo de proferir as mesmas palavras. Seja em uma linda tomada do pôr do sol ou enquadrando uma mão que desafia a chuva que cai em um abraço caloroso.
Com o intercalar das tramas no presente e no passado, porém, a dúvida persiste: o que teria levado esse jovem esperançoso a se entregar aos vícios? O filme vai se desvelando aos poucos.
Os caminhos da vida
Nesta cativante trama, O Deus do Cinema nos conduz por uma jornada de reviravoltas e reflexões, destacando a dualidade das experiências de vida de um homem cujo amor pelo cinema se mistura às suas complexidades pessoais e familiares. De muitas formas, o filme parece uma carta de amor à leveza e a inocência do cinema como arte, aquilo que nos maravilha. E a dúvida que fica é, o que fez esse jovem esperançoso se entregar aos vícios?
Com o tempo descobrimos, uma produção fracassada, chamada justamente O Deus do Cinema. Esta produção o colocou à prova na juventude, enquanto tentava provocar um cinema altamente autoral e disruptivo em oposição ao que propunham seus mestres imediatos, que lhe deram a oportunidade de dirigir.
Aqui talvez é que o filme ganhasse corpo ao ser mais potente, mais marcadamente desafiador. Em lugar disso, o que se realiza é uma obra tipicamente relacionada ao cinema clássico. Realizado, dessa forma, com perfeição às adequações da cultura japonesa. Não vai entrar para a história, mas talvez seja capaz de despertar algumas boas emoções.
Direção: Yôji Yamada
Roteiro: Yûzô Asahara, Maha Harada, Yôji Yamada
Elenco: Kenji Sawada, Masaki Suda, Mei Nagano, Nobuko Miyamoto, Keiko Kitagawa