O Labirinto
Última atualização: 11/08/2021
O escritor britânico Lewis Carroll possuía uma mente criativa, um ícone da Literatura que influencia até hoje a cultura pop, sendo o mais recente exemplo O Labirinto, do italiano Donato Carrisi, que dirige seu segundo longa-metragem, baseado no livro, escrito por ele mesmo, no qual uma adolescente sequestrada é encontrada quinze anos após sua captura.
Donato é jornalista, diretor, roteirista e escritor que publica livros do gênero thriller policial. De fato, começou sua carreira de roteirista em 1999 e, em 2009, lançou o livro no qual se baseia este filme. Em uma trama de suspense propositalmente embaraçada, o filme alcança o óbvio ao seu fim, o que não é um problema.
Dois caminhos no labirinto
Acompanhamos o caso de Samantha Andretti (Valentina Bellè), simultaneamente, a partir de duas frentes de investigação. Em primeiro lugar, com o perfilador Doutor Green (Dustin Hoffman) e, em segundo lugar, com o investigador particular Bruno Genko (Toni Servillo). Enquanto o primeiro está em contato com a moça resgatada, tentando restaurar sua memória em busca de algum rastro do sequestrador, o segundo dá continuidade à investigação iniciada quinze anos antes.
Dessa maneira, percebemos que os dois veteranos são personalidades distintas. Green parece seguro de sua abordagem e tenta transmitir certa segurança à vítima para que ela conte sobre seus anos de aprisionamento. Recentemente diagnosticado com uma doença terminal, o investigador se encontra no limite da decadência.
Desse modo, as duas tramas ocorrem paralelamente. Entretanto, o tempo em que elas estão sendo desenvolvidas parece ser diferente. Não existe uma definição muito exata de local e tempo, afinal, estamos dentro e fora da mente de uma vítima perturbada e também no presente e no passado da investigação de Genko.
A toca do coelho
Como citado logo no início, a história faz referências aos livros de Carroll, Alice No País das Maravilhas e Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá. Mantida em um labirinto, Samantha precisava descobrir como mudar de salas e ganhar seus ‘bônus’, da mesma forma que Alice. Gato, alimentos, bebidas e espelhos são elementos inseridos na história por meio do relato da moça ou da investigação de Bruno.
Do mesmo modo, a pessoa culpada pela captura da garota é chamada de “Bunny, o coelho”, referência a uma história em quadrinhos encontrada em um dos lugares pelos quais passa a investigação. Ele é descrito como um coelho com olhos de corações. Em suma, o labirinto cativeiro, seja físico ou psicológico, é uma filial do País das Maravilhas.
Confusão, lentidão e reviravoltas
O Labirinto vai incomodar quem espera um filme com muita ação. Ser claustrofóbico, inegavelmente, é dos pontos mais positivos do filme. Tanto as paredes e salas escuras do cativeiro quanto os cômodos vermelhos, que reverberam violência em sua tranquilidade, são agressivos visualmente. O Limbo, sala na qual os casos de desaparecimento ficam arquivados, com sua parede de gavetas identificadas pelas fotos das crianças sumidas, se assemelha a gavetas de necrotério, mas também à parede pela qual Alice desce quando cai na toca do coelho branco.
A proposta de Donato é deixar-nos tão confusos quanto suas personagens. Formado em Direito e especializado em criminologia e ciências do comportamento, Donato usa de seu conhecimento para entrar em nossa mente. A lentidão dos desdobramentos aumenta a angústia, mesmo que alguns elementos do desfecho se tornem óbvios.
Entretanto, as luzes em tons alaranjados e as paredes verdes deixam nossa vista cansada, provocando a sensação de esgotamento com aquela confusão, que parece não ter fim. Talvez fosse essa a intenção. Assim, o que importa é que a imersão em um ambiente instável e incômodo é possibilitada. Em suma, deixo um conselho: se importem menos com o sentido da história e mais com as sensações proporcionadas.
Direção: Donato Carrisi
Roteiro: Donato Carrisi
Edição: Massimo Quaglia
Fotografia: Federico Masiero
Design de Produção: Tonino Zera
Trilha Sonora: Vito Lo Re
Elenco: Dustin Hoffman, Toni Servillo, Valentina Bellè, Vinicio Marchioni