O Peso do Talento
Última atualização: 12/05/2022
Presença constante em produções de baixo orçamento nas últimas décadas, Nicolas Cage ri de si mesmo em O Peso do Talento, só que de maneira muito ácida. A produção foca em um Cage decadente, endividado, suplicando por um papel que reerga a sua carreira.
Como se não bastassem os problemas profissionais, há também problemas familiares. A relação com sua filha, Addy (Lily Moo Sheen), vai de mal a pior, pois Cage projeta suas expectativas nela. Além disso, o ego do astro se sobrepõe à atenção que deveria ser dada à garota. Em meio a todas essas confusões, o astro recebe a proposta de ir ao aniversário de um grande fã, mediante o pagamento de uma alta quantia. Logo após perceber que sua carreira esta no fim, ele decide aceitar a proposta como uma despedida, pré-aposentadoria.
O que Nick não sabe é que seu contratante, Javier Gutierrez (Pedro Pascal), é um grande fã e escreveu um roteiro com o objetivo de dirigir seu ídolo. Da mesma forma, não imagina que está indo para a mansão de um mafioso espanhol.
O encontro da ficção com a realidade em O Peso do Talento
Ainda que a vida mostre para Nicolas que seus anos de glória se foram, ele insiste em viver como uma super estrela. A confiança demonstrada por si, as palavras de efeito repetidas constantemente e o grande ego demarcam o quanto a persona do filme (é será que a também a real?) não está disposta a largar o osso. No momento em que ele passa pela frustração e encontra na amizade com Javi uma maneira de se redimir profissionalmente, o peso de seu talento parece fazer sentido.
Assim, em meio a referências de seus filmes mais pops a personagem amadurece em um processo de autoconhecimento e re-conhecimento. Se não bastassem todos os easter eggs plantados aqui e ali, parte das reflexões feitas pelo protagonista são por meio do diálogo com Nicky, um Cage mais jovem (especificamente, desta entrevista com Michael Terence Wogan). Nicolas se reencontra com Cages, Nicks e Nickys não apenas por se encontrar sob estresse, mas também por precisar recriar estratégias que olhem de volta ao ponto alto de sua vida.
Em certo momento, Cage se torna um agente secreto, a mando da CIA, envolvido na operação de resgate da filha de um governante. Mas isso é o que menos importa no filme. Sem dúvidas, o conflito vivido pelo ator paralelo ao fã que busca realizar um sonho são as engrenagens que movem o filme.
O talento de Cage é amar demais
A dupla Pedro e Nicolas se assemelha a uma versão em carne e osso de Bob Esponja e Lula Molusco. Este bromance entre um rabugento e um good vibes dá leveza ao filme, sobretudo nos momentos mais sem sentido. Aliás, por que insistir em querer que um filme desse faça sentido? O ridículo é a força motriz da ressurreição de tudo o que passa pelo centro da produção, o astro de ação.
O mito Nicolas Cage precisa ser amado nesse universo metalinguistico escrito por Tom Gormican e Kevin Etten, pois ele é egomaniaco e frustrado. Javi, em contraponto se acha incapaz e enxerga no seu ídolo um mentor a ser seguido.
Como nos conto de fadas, duas partes em conflito se encontram e se completam. Entretanto, o que deveria ser amor romântico, único e exclusivo entre o par, se mostra algo mais amplo, uma jornada entre dois apaixonados pela linguagem cinematográfica. O filme é voltado para os fãs de Nicolas Cage, mas está muito além de apenas uma galhofa metalinguística. O astro polêmico, envolvido em divórcios, brigas, falência e bebedeiras é humanizado em O Peso do Talento enquanto nos oferece uma aula sobre amar o cinema.
Duvido que exista uma pessoa que encerre a sessão sem querer que alguém sorria pra ela como Pascal sorri para Cage.
Direção: Tom Gormican
Roteiro: Tom Gormican, Kevin Etten
Edição: Melissa Bretherton
Fotografia: Nigel Bluck
Design de Produção: Kevin Kavanaugh
Trilha Sonora: Mark Isham
Elenco: Nicolas Cage, Pedro Pascal, Tiffany Haddish, Sharon Horgan, Paco Léon, Neil Patrick Harris, Lily Mo Sheen