Os Fabelmans
Última atualização: 12/01/2023
Steven Spielberg sabe como contar uma história de maneira emocionante, e não poderia ser diferente se tratando de um filme tão pessoal quanto Os Fabelmans.
O diretor de 76 anos homenageia o cinema e sua família neste coming-of-age desenvolvido a partir da descoberta da Sétima Arte. Sam Fabelman (Gabriel LaBelle e Mateo Zoryan) tem sua vida profundamente afetada ao assistir a O Maior Espetáculo da Terra, de Cecil B. DeMille. A criança, a partir desse momento, tenta controlar seus medos e suas dúvidas através da lente de uma câmera.
Sam é um dos quatro filhos dos Fabelmans, o único homem, que herdou da mãe (Michelle Williams) a “veia artística”. Seu pai (Paul Dano) é um importante engenheiro da área de tecnologias, um tanto ausente na vida dos filhos, pois está sempre tomado pelo trabalho. As relações familiares são instáveis, diante das escolhas da mãe, que opta por abandonar o sonho de ser uma grande pianista e vive algumas frustrações dessas mudanças de planos para a vida. Além disso, há um terceiro elemento familiar no núcleo adulto: o melhor amigo do pai (Seth Rogen), por quem a mãe nutre uma paixão.
Embora a casa seja o principal espaço de conflito da narrativa, a escola, espaço no qual Sam sofre discriminações antissemitas, e o grupo de escoteiros, espaço em que a personagem encontra suporte para o desenvolvimento de suas habilidades enquanto cineasta promissor, a ficção é o principal ambiente de desenvolvimento do rapaz.
Outra forma de lidar com a realidade
Para ter controle do que habita sua mente, o jovem Sam aprende a manipular as imagens e o som. Assim sendo, o cinema se torna sua ferramenta e meio de expressão. Como consequência, temos uma personagem que só consegue lidar com a realidade a partir da construção de uma ficção que o deixe seguro.
Até as conversas sobre os problemas familiares que surgem em diversos momentos se dão pela imagem. E não apenas o que tange as relações familiares, mas também os conflitos de outras partes da vida. Crescer, criar responsabilidades, se apaixonar, tudo é resolvido antes na ficção e posteriormente na realidade fantasiada por Steven através de Sam.
Os sonhos são filmes dos quais você nunca se esquece
Há uma tranquilidade na forma como o cineasta reencontra e nos oferta suas obsessões como realizador e como cinéfilo. Já vimos essa caminho em Contatos Imediatos de Terceiro Grau, A Lista de Schindler e E.T. – O Extraterrestre: a realidade criada onde seus alter egos podem ser vítimas das dificuldades que alcançam em certo momento o posto de herói e agente de seus desejos.
E Spielberg não se preocupa em parecer repetitivo ou menos piegas. Os Fabelmans, sem dúvidas está recheado de recursos maniqueístas e artificialidades que, levados ao seus limites, transbordam da tela emoções. Além disso, o que ele parece dizer para nós espectadores é: acredite nesse sonho, compre essa mentira, viva a minha realidade.
Uma realidade interpretada com intensidade e euforia, ou apatia, dependendo da situação. Inegavelmente o movimento de um ilusionista jogando com seu público, pregando peças e, principalmente, entendendo e explicando que o fantasiar não impede a dor de se aproximar.
Os Fabelmans: a genialidade de um cineasta
Steven Spielberg entende a importância de dominar a técnica de como fazer um filme, sobretudo as formas de atingir seu objetivo, que é encantar por meio de fotos em movimento. Portanto, não há dúvidas de que Os Fabelmans se propõe a nos pegar pelas mãos e caminhar entre sequências metalinguísticas das jornadas que o herói-menino Sam-Steven vive.
Destaco um momento, já no terceiro ato do filme, quando Sammy constrói uma imagem heroica e inquestionável do colega de escola que o atormenta. Não apenas o protagonista desembainha sua espada para extirpar o mal que o aflige como também tenta neutralizar os incômodos que virão. Eles vêm, sem dúvidas. Entretanto, a cada chegada, a tranquilidade de saber como manusear os materiais de mirar, editar e montar fortalecem este artista que, mais uma vez, nos presenteia ao permitir que adentramos no seu mundo onírico particular.
O movimento final me tirou um suspiro e a última lágrima de emoção. Tranquilamente, eu poderia passar mais duas horas em frente à tela desfrutando de todas as histórias pessoais, reais ou não, que Spielberg quisesse me contar.
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Spielberg, Tony Kushner
Edição: Sarah Broshar, Michael Kahn
Fotografia: Janusz Kaminski
Design de Produção: Rick Carter
Trilha Sonora: John Williams
Elenco: Michelle Williams, Paul Dano, Seth Rogen, Gabriel LaBelle, Mateo Zoryan
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