Sanguessugas

Sanguessugas: Uma Comédia Marxista Sobre Vampiros – 45ª Mostra SP

Última atualização: 24/10/2021

A partir da definição de Karl Marx de que os capitalistas são como vampiros, que sugam a força vital do proletariado, a narrativa de Sanguessugas: Uma Comédia Marxista Sobre Vampiros foi construída. Logo no início do filme, um grupo de amigos lê O Capital em um encontro de clube de leitura. Um dos integrantes questiona se, ao citar vampiros em seu texto, Marx estaria falando afinal das criaturas mitológicas. Outros integrantes zombam do rapaz e afirmam que é apenas uma metáfora.

Entretanto, o que parece ser um mito difundido entre as classes mais baixas se torna real. Com a chegada de um conde russo à cidade, a rotina de alguns moradores é afetada. Mas o barão é, na verdade, o ator Ljowushka (Aleksandre Koberidze), que teve sua carreira destruída após ter seu personagem cortado de Outubro, de Sergei Eisenstein. Desde então, ele vive de pequenos golpes na tentativa de arrecadar dinheiro e fazer um filme para ter portfólio e tentar carreira em Hollywood.

Assim, o falso barão e a jovem herdeira Olívia (Lilith Stangenberg) têm suas vidas atravessadas uma pela do outro. A moça, rebelde, busca de todas as maneiras ir contra o que sua tia prega, de tal forma que exibe toda a sua futilidade ao manter sua imagem aristocrática, ao mesmo tempo que diz buscar o oposto. Um exemplo disso é seu criado, chamado por ela de assistente pessoal, que só falta carregar água na peneira para sua patroa e paixão platônica.

Anacronismos em Sanguessugas

Apesar de ser ambientado na década de 192o, após a morte de Lênin, o diretor, Julian Radlmaier, usa de objetos em cena e no figurino que não existiam naquele período. O All Star da Maria Antonieta de Sofia Coppola sentiria inveja do mesmo tênis de Olívia, pois em Sanguessugas, a mocinha anda de moto moderna e bebe Coca-Cola.

Seja como for, a escolha da inserção desses elementos serve como ironia. Sua presença mostra que o texto de Marx, apesar de trazer apontamentos sobre os problemas do capitalismo, não impediu seu avanço.

Humor e atores não profissionais

O filme alemão têm uma ironia ao falar de política que lembra tanto os filmes de Pasolini e seu deboche ao criticar a política, quanto o humor seco de Spike Lee ao te fazer rir em momentos sérios de discussão sobre o racismo.


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Entretanto, o uso de atores que não são profissionais engessam algumas passagens dando a elas um certo ar de improviso. Ainda assim, considerando o quão nonsense é pensar em vampiros mitológicos aproveitando do proletariado para se alimentar, o improviso cai bem, ao aumentar a sensação de “não é possível”.

O humor foi uma boa escolha para se falar de uma estrutura social e econômica. Criticado há anos, o capitalismo ainda tira até a última gota de sangue da classe trabalhadora.


Ficha Técnica
sanguessugas mostra sp
Blutsauger (2021) – Alemanha
Direção: Julian Radlmaier
Roteiro: Julian Radlmaier
Edição: Julian Radlmaier
Fotografia: Markus Koob
Design de Produção: Reinhild Blaschke
Trilha Sonora: Andreas Hildebrandt
Elenco: Aleksandre Koberidze, Lilith Stangenberg, Alexander Herbs 

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