Tipos de Gentileza
Por Cleiton Lopes
Última atualização: 22/08/2024
Esquisito, estranho, talvez sejam os melhores adjetivos que qualificam o cinema de Yorgos Lanthimos. O diretor grego trilhou sua carreira com enredos e personagens que nos pegam desprevenidos em cenas e roteiros chocantes. Desde um pai de família que decide criar os seus filhos longe de qualquer interação com o mundo, em Dente Canino (2009), passando por uma sociedade que transforma em animais pessoas que não conseguem casar, em O Lagosta (2015), até sua versão de Frankenstein estrelada por Emma Stone, em em Pobres Criaturas (2023). Esse último transformou o diretor numa figura pop com indicações e prêmios Oscar. Agora, sua mais recente produção Tipos de Gentileza (2024) chega aos cinemas tentando aproveitar o hype de seu último lançamento.
As estranhezas estão todas lá
Contando com nomes famosos como Emma Stone, Willem Dafoe e Jesse Plemons (que levou o prêmio de ator em Cannes pelo filme), o longa é uma antologia que conta três histórias diferentes, seguindo as tradicionais estranhezas de Lanthimos, e interpretadas pelos mesmos atores. É algo como se assistíssemos a três curtas metragens de uma vez. Essa tentativa de inovar, entretanto não traz nada de muito significativo.
Para quem assiste ao filme sem essa informação, como eu fiz, quando o primeiro curta acaba, fica um gosto estranho na boca. Os créditos sobem justamente no momento em que seria uma virada da história. Bem na hora que a gente fica, “E agora, o que vai acontecer?”. Ao continuarmos a assistir, demoramos um pouco a entender que se trata de outros ambientes, outros personagens e outra história, porém com os mesmos atores. Ao chegarmos ao terceiro capítulo, já estamos treinados com a dinâmica, e a coisa flui melhor. Na verdade, não sei dizer se é difícil o entendimento, ou se a segunda história é a mais fraca das três. Fica uma coisa meio arrastada.
Da tela para o streaming
O pensamento que percorre toda a projeção de Tipos de Gentileza (visto que os trabalhos anteriores do diretor são cheios de significado e paralelos com o mundo real) é: qual é a ligação entre os três personagens? O obvio é que um deles aparece nas três histórias. Para além disso, poderia até ser uma coisa de universos paralelos como em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), ao modo de Lanthimos, mas isso parece algo muito Marvel para ele, e já está até saturado.
Sem eu querer corrigir o filme, mas já corrigindo, o que fica ao final de Tipos de Gentileza é que, se Lanthimos tivesse escolhido uma das histórias e a desenvolvido como longa, teríamos uma obra muito mais interessante e que não fugiria dos seus padrões. A primeira, por exemplo, em que vemos um patrão que controla os mínimos detalhes da vida de um funcionário, carrega em si ideias e discussões sobre o capitalismo que somente ele consegue traçar. Conforme dito anteriormente, ele escolhe, em vez disso, terminar a história justamente num ponto de virada, quando já estamos bastante envolvidos e curiosos com o que virá a seguir. Talvez, se fosse uma produção lançada diretamente para algum streaming, seria menos frustrante do que estarmos na frente de uma tela de cinema.
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Yorgos Lanthimos, Efthimis Filippou
Edição: Yorgos Mavropsaridis
Fotografia:Robbie Ryan
Design de Produção: Anthony Gasparro
Trilha Sonora: Jerskin Fendrix
Elenco: Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau
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