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Um completo desconhecido

Por Cleiton Lopes
Última atualização: 22/02/2025

Mas, afinal, o que é rock’n roll? Essa é uma pergunta complexa, mas a uma pista para sua resposta é atitude. Inegavelmente, para além de guitarras, cabelo grande ou quebra de instrumentos no palco, rock é atitude. Nesse sentido, desde o início, quando Sister Rosetta Tharpe tocou guitarra distorcida nos anos 1930, passando por Elvis Presley rebolando na televisão ou com os Beatles quase sendo presos por tocarem no teto da sua gravadora em Londres, o que une as melhores histórias do ritmo são as atitudes inovadoras e disruptivas que seus personagens tiveram. E é justamente um desses momentos que é contado em “Um Completo Desconhecido” (2024), de James Mangold.

Nosso personagem central aqui é Bob Dylan (Timothée Chalamet). O filme narra os eventos que ocorrem entre o início de sua carreira até o lançamento de um dos seus discos mais conceituados, Highway 61 Revisited (1965). Dessa maneira, assistimos à formação de uma figura complexa, cheia de críticas e ideias sobre a sociedade. Seu ar é sarcástico e blasé, chegando a ser até irritante, mas você fica curioso para saber o que ele tem a dizer.

“Nunca fui santo”

O interessante é que “Um Completo Desconhecido” não tenta passar uma ideia de Bob Dylan como um santo, ou de alguém que você deva adorar. Portanto, não existe um polimento para que ele pareça mais legal, algo que aconteceu com a biografia do Queen/ Freddie Mercury, “Bohemian Rhapsody” (2018), de Brian Singer e Dexter Fletcher. Só para ilustrar: depois de problemas de produção e interferência de membros do grupo, “Bohemian Rhapsody” se transformou em uma versão Disney da história de uma das maiores bandas de rock da história.

Aqui, o filme está preocupado em mostrar quão espinhosa e original é a figura de Dylan. De fato, inclui-se a falta de compromisso em seu primeiro relacionamento sério com Sylvie Russo (Elle Fanning), que na verdade é Suze Rotolo. O nome foi alterado a pedido de Dylan, por ela não ser uma celebridade. O cantor gostaria de preservar, ao menos um pouco, seu anonimato. É ela quem aparece ao lado do cantor na famosa capa do disco The Freewheelin’ Bob Dylan (1963).

Desconhecido Fanning

Outro personagem ilustre que aparece é a cantora de folk Joan Baez (Monica Barbaro). Ela já era conhecida quando Dylan dá seus primeiros passos, suas vidas acabam se cruzando, e ela grava algumas músicas dele. O relacionamento artístico e amoroso entre os dois também é um complicador para a santidade de Bob, pelo menos no período retratado no filme.

Um oportunidade para conhecer o folk

“Um Completo Desconhecido” também acerta bastante ao falar sobre a relação entre arte e contexto social. Aqui estamos vivendo a efervescente década de 1960, com diversos movimentos pelos direitos civis. Assim, o filme mostra como os acontecimentos da época acabam sensibilizando a arte de Bob Dylan e servindo de inspiração para canções que ele é conhecido até hoje como Blowin’ In The Wind ou The Times They are a Changin. Todo percurso é feito para chegar a um dos momentos que marcam a carreira do músico e a história da música.

Um completo desconhecido Elle Fanning

Com efeito, o que tornou Bob Dylan famoso foi a música folk. O nome do gênero vem de folklore, em que “folk” significa povo ou gente e “lore”, conhecimento. Ou seja, é um estilo tradicional e popular, e seus fãs são bastante conservadores quanto a isso. Mas Dylan quer algo mais: quer expandir os limites de sua música para além de um cara tocando violão. Assim, ele resolve acrescentar a guitarra elétrica em sua música, o que causa uma grande revolta em seu público.

Na tela, um momento precioso da história da música

Na época, o guitarra era visto como vulgar, coisa de gente delinquente. Então, quando Dylan resolve tocar Like a Rolling Stone, no tradicional festival Newport Folk Festival, o público purista ficou horrorizado, chamando o artista de diversos nomes, como “Judas”. Esse momento transformou Bob Dylan em um grande nome do rock’n roll. Ver essa cena na telona é como estar lá presenciando a história acontecer.

Timothée

Assistir a “Um Completo Desconhecido” é ver a história da música pop mundial ser contada. É, igualmente, ver um artigo da revista Rolling Stone ganhar forma e movimento. É ter uma ideia do que foi estar ali em meio a vaias, guitarras tocando, e um artista de verdade querendo expandir seus limites. Para além de ser a biografia de Bob Dylan, “Um Completo Desconhecido” é sobre fazer música. Em resumo, é uma obra obrigatória para quem gosta de histórias do rock e para aqueles que estão chegando agora e buscam entender o que é o rock’n roll.


Ficha Técnica
A Complete Unknown (2024) – Estados Unidos
Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, Jay Cocks, Elijah Wald
Edição: Andrew Buckland, Scott Morris
Fotografia: Phedon Papamichael
Design de Produção: François Audouy
Trilha Sonora: Bob Dylan
Elenco: Timohée Chalamet, Elle Fanning, Edward Norton, Monica Barbaro

 

 

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