A Boa Esposa
Última atualização: 29/06/2021
Em meio a revolução estudantil e ao conceito de esposas perfeitas, A Boa Esposa ironiza o absurdo de uma escola direcionada para a formação de mulheres “para casar”. O filme de Martin Provost se passa na França, em 1968, na escola fictícia para boas esposas de Paulette e Robert Van Der Beck (Juliette Binoche e François Berléand), que sobrevive, embora passe por um período de decadência.
Enquanto o país muda sua maneira de pensar como uma mulher deve ser enquadrada na sociedade, a escola tenta manter a formatação familiar de mulheres assumindo apenas a função de esposas, mães e donas de casa. Analogamente e assumindo o lado caricato dos ideais pensados como meios de alcançar tal perfeição, o filme mostra a mudança social de maneira semelhante às posturas individuais das personagens.
Girl power sessentista
Situar o filme temporalmente pouco antes e durante a Primavera Francesa reforça o questionamento acerca da mudança de pensamento. Enquanto as administradoras da escola doutrinam as futuras princesas, Jane Fonda se despe sem pudor na abertura de Barbarella pouco antes de afirmar a liberdade sexual da personagem, uma das características da segunda onda feminista.
Assim sendo, o que o roteiro faz é transformar o casarão escolar em um caldeirão tão efervescente quanto o mundo além daquelas colinas.
A boa esposa
A protagonista de Binoche é o exemplar de bela, recatada e do lar, disposta a passar adiante seus aprendizados. Bem como sua residência e figurino, sempre impecável. Entretanto à medida que sua história é desenvolvida, nos deparamos com uma bela embalagem contendo um produto feio.
Uma vez que sua função era a de mero adereço dentro de seu casamento, questões cotidianas como a cuidar movimentação financeira de sua empresa ou dirigir são horizontes para serem desbravados ao enviuvar.
De maneira semelhante, sua cunhada Gilberte (Yolande Moreau) é alguém que parou no tempo, não podendo “ser mulher” por não sido desposada. Sobretudo, isso fica explícito em seu comportamento, vestuário e relação com as demais mulheres com quem convive. Vide sua culinária dedicada à sedução de um marido, testada no paladar de seu irmão.
Por outro lado, temos a freira Marie-Thérèse (Noémie Lvovsky), que defende os valores religiosos. Sua personagem talvez seja a mais engraçada, de tão caricata e contraditória: acredita que ruivas são portadoras do pecado, é contra o consumo alcoólico, fuma e pragueja. Sua presença arremata o fio que enlaça o trio cômico das detentoras da moral e dos bons costumes.
Abraçamos a causa de maneira superficial
Orientação sexual, despertar da sexualidade, suicídio e maternidade compulsória são alguns dos temas que estão presentes nas subtramas do filme. Entretanto, são apenas características que apontam a insatisfação das meninas com a cultura vigente.
De fato, um filme interessante pelo tema abordado, mas sem muitos méritos além de um elenco feminino que se entrega às interpretações.
Direção: Martin Provost
Roteiro: Martin Provost, Séverine Werba
Edição: Albertine Lastera
Fotografia: Guillaume Schiffman
Design de Produção: Thierry François
Trilha Sonora: Grégoire Hetzel
Elenco: Juliette Binoche, Yolande Moreau, Noémie Lvovsky, Edouard Baer