Dia do Orgulho LGBTQIA+

10 filmes premiados para o Dia do Orgulho LGBTQIA+

Última atualização: 28/06/2021

28 de Junho é o Dia do Orgulho LGBTQIA+. A data foi escolhida para lembrar o dia 28 de junho de 1969, quando a polícia invadiu o bar Stonewall Inn, um lugar de encontro de pessoas gays em Nova York. A intenção principal era amedrontá-las, mas, inesperadamente, uma multidão reagiu cercando o bar, e houve confrontos entre policiais e população.

Em função desse fato, nos dias seguintes outras manifestações aconteceram em toda a cidade.

Como resultado, elas hoje são consideradas as precursoras das paradas LGBTQIA+. Essas paradas congregam em todo mundo o sentimento de luta, alegria e orgulho, diante da opressão, da violência, do preconceito e das dificuldades que as pessoas LGBTQIA+ têm de enfrentar diariamente.

O Cinema notabiliza o orgulho LGBTQIA+ com filmes maravilhosos, premiados em grandes festivais e pelas mais festejadas Academias e Associações voltadas para a Sétima Arte. Com toda a certeza, o reconhecimento que esses prêmios trazem turbina sua importância artística e histórica.

Em 2017, essa importância alcançou uma das mais conservadoras Associações de Cinema, que é a Academia de Hollywood, com a premiação de Moonlight com o Oscar de Melhor Filme.

Por isso, o Longa História reuniu dez desses notáveis filmes para festejar o dia 28 de junho em solidariedade aos grupos que, no mundo inteiro, lutam bravamente por mais direitos sociais para as pessoas LGBTQIA+ e celebram com grande intensidade cada vitória alcançada. Todos eles foram agraciados com prêmios de Filme, Direção, Atuação ou Roteiro.

Assim, esperamos que, com eles, o espectador possa, ao mesmo tempo, se deleitar com obras artísticas diferenciadas e compreender um pouco mais as múltiplas facetas do universo LGBTQIA+.

A criada, de Chan-wook Park (2016)

Vencedor de importantes prêmios de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Ocidente, e também ganhador de prêmios de Filme, Direção e Atuação em Organizações Asiáticas de Cinema. O consagrado diretor Chan-wook Park entregou ao mundo um filme visualmente belíssimo, extremamente erótico e ousado para os padrões ocidentais. O que vemos na tela é o amor entre duas personagens socialmente reprimidas por razões diferentes. Elas se encontram naquilo que afeta todas as mulheres do mundo: a objetificação e a opressão sobre seus corpos e seu desejo.

a criada filme coreia

A Coreia dos anos 30 do século passado envolve a narrativa que nos dá tempo suficiente para ficarmos encantados com a intensidade que salta da tela. Com efeito, reconhecemos a grande potência das personagens e seu relacionamento pleno de confiança e cumplicidade.

Disponível no Now. 

Weekend, de Andrew Haigh (2011)

Vivemos numa época em que as vivências homoafetivas ocupam espaços sociais mais amplos que os guetos, e a angústia de compor um grupo social discriminado arrefece um pouco. Assim, abre-se espaço para a angústia íntima sobre quem se é. Tal angústia é o tema desse lindíssimo e impactante filme independente, muitas vezes premiado no Reino Unido. Atualmente, assumir a própria sexualidade publicamente é tão importante quanto assumir a própria sexualidade para si mesmo.

weekend filme 2011

Por isso, é constante no filme o confronto entre ideias diferentes sobre como deve ser o comportamento social das pessoas LGBTQIA+ num mundo hegemonicamente heteronormativo. Nesse sentido, o confronto é imprescindível para ajudar as pessoas a construir a coragem de estar diante dos outros, mesmo sentindo que sua homossexualidade está visivelmente exposta, como uma ferida aberta e latejante.

Retrato de uma jovem em chamas, de Céline Sciamma (2019)

Este maravilhoso filme conquistou público e crítica e ocupou praticamente todas as listas dos melhores de 2019. Ganhou também prêmios de roteiro, direção e atuação em diversos festivais europeus. E não é para menos. A história de duas mulheres que se conhecem e se apaixonam numa época de repressão sexual absoluta está envolta num clima e num cenário maravilhosos.

retrato de uma jovem em chamas Céline Sciamma

Um dos elementos que singularizam o filme é a dosagem perfeita entre os dois caminhos pelos quais as personagens se aproximam e se apaixonam. Primeiro, a afinidade intelectual entre duas pessoas conhecedoras da Arte e da beleza. Depois, o profundo desejo que elas não se furtam a viver em grande intensidade, mesmo sabedoras de que não há futuro para seu amor. A cena final do filme confirma como é especial a mesclagem razão-emoção que eterniza o encontro e o sentimento vivido pelas personagens. 

Brokeback Mountain, de Ang Lee (2005)

Uma obra-prima, um maravilhoso filme de um amor que não consegue lugar nem tempo para ter a sua história. Levou merecidamente os mais importantes prêmios internacionais de Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado, à exceção do Oscar de Melhor Filme. Uma das razões é o impacto causado pelo sentimento intenso e duradouro entre dois cowboys estadunidenses. Justamente, por isso, duas figuras que personificam a ideia do macho branco heterossexual.

Dia do Orgulho LGBTQIA+

Já faz quinze anos desde o lançamento do filme. Mas o conservadorismo anda sem vergonha de dar as caras. Por essa razão, a história de Ennis Del Mar e Jack Twist, dois homens jovens e lindos se pegando na tela, num envolvimento sem escamoteamentos e sem medo de provocar desejo na plateia, ainda choca muita gente. Isso acontece pela coragem do filme em abordar um símbolo tão arraigado de masculinidade, e por fazer isso sem colocar equívoco sobre o amor que há entre os personagens.

Disponível na Netflix.

 Carol, de Todd Haynes (2015)

Consagrado em Cannes com os prêmios de Atriz (Rooney Mara) e Direção, Carol segue a linha de pensamento de alguns trabalhos de Todd Haynes. Pessoas, na maior parte mulheres, que alimentam um desejo por viver a vida de acordo com sua vontade e de uma forma que lhes traz felicidade, mas que são reprimidas pelas normas sociais. Primordialmente, essa repressão recai sobre sua sexualidade, e o tratamento que Haynes dá a essa questão é sempre sutil, sempre delicado, e nada superficial.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ Carol

A divina Cate Blanchet é Carol, mulher de uma classe social privilegiada, mas imensamente infeliz. O encontro com Therese, vivida por Ronney Mara, afeta as duas de formas diferentes. Carol, já consciente de sua sexualidade e perdida num casamento sem sentido, sente em Therese acender a luz de um sentimento autêntico. Therese, por sua vez, descobre respostas para dúvidas afetivas e sexuais de uma vida inteira. A promessa de felicidade entre elas, que finaliza o filme, é um dos momentos mais bonitos do Cinema nos últimos anos.

Disponível no Mubi. 

Felizes juntos, de Wong Kar-Wai (1997)

Wong Kar-Wai foi agraciado com o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes em 1997 por esse filme apaixonante. O que testemunhamos é o amor intenso e impossível entre dois homens chineses numa Buenos Aires onde o tango tempera sua sofrência. Contudo, a impossibilidade do amor entre eles não vem do fato de se tratar de um afeto socialmente interditado, mas sim de suas personalidades antagônicas. Um deles é um espírito da noite, dos prazeres carnais e da aversão à rotina e ao método. O outro é um homem que busca estabilidades e afetos maturados pela convivência e pelo conhecimento profundo do companheiro.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ Felizes juntos

A incompatibilidade de gênios entre eles não impede, porém, de um considerar insuportável a vida sem o outro, embora também seja insuportável a vida juntos. Por isso, algumas cenas cativantes, cheias de amor e sentimento, nos lembrarão dos amores que desejamos e não conseguimos levar adiante. Esse é mais um detalhe a tornar esse filme inesquecível. Excelente programa para o Dia do Orgulho LGBTQIA+.

Disponível no Mubi. 

Tangerine, de Sean Baker (2015)

Mesmo tendo poucos longas no currículo, Sean Baker é um cineasta que disse claramente a que veio. Os prêmios que Tangerine recebeu em eventos de Cinema Independente provam isso. Ainda mais: Tangerine é sempre lembrado pela ousadia técnica, já que o filme foi todo produzido com aparelhos iPhone 5. Contudo, esse não é esse o único detalhe que o singulariza numa lista de filmes para o Dia do Orgulho LGBTQIA+.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ Tangerine

Assim como em Uma mulher fantástica, que comento abaixo, Baker convidou pessoas transgênero para seu elenco. Elas interpretam personagens que compõem um dos grupos sociais mais discriminados em todas as sociedades. São os travestis que se prostituem para viver, circundados por cenários decadentes e miseráveis, pelo lumpesinato. E, igualmente, pela hipocrisia que os estadunidenses se recusam a enxergar. Por exemplo, eles insistem na ilusão de que, em sua terra mágica da prosperidade, as chances de felicidade e justiça são dadas a todos. O filme mostra que o país está longe disso.

Traídos pelo desejo, de Neil Jordan (1992)

No fim do século vinte, quando as problematizações sobre gênero ainda eram vanguarda, esse filme impactou o universo cinematográfico. Sua força se justifica no fato de que tratar de homossexualidade e de pessoas transgênero era uma raridade no Cinema mainstream e convencional. Contudo, qualidades intrínsecas justificam com folga o Oscar de Melhor Roteiro e o BAFTA de Melhor Filme que Traídos pelo desejo recebeu. Além disso, ainda é fascinante a história dos dois soldados que se apaixonam pela mesma mulher transgênero. Eles se deixam arrebatar por um desejo capaz de abalar as estruturas de um grupo armado e poderoso como o IRA.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ traídos pelo desejo

O título original The crying game desaparece diante da maravilhosa versão brasileira, que revela exatamente qual é o grande afetamento do filme. É a tese de que, na verdade, somos movidos pelas nossas paixões pessoais, sentimentos inconfessáveis e reprimido. Em suma: inveja, ódio, ressentimento e desejo. Que, eventualmente, nos traem.

Disponível no A la carte. 

Uma mulher fantástica, de Sebastián Lelio (2017)

Uma lista sobre filmes premiados para o Dia do Orgulho LGBTQIA+ precisa incluir o vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro de 2018. Inegavelmente, é significativo que sua protagonista, uma mulher transgênero, ser interpretada por uma atriz também transgênero – Daniela Vega. A grande visibilidade do filme intensifica as justas críticas a filmes com personagens transgênero encarnados por atores e atrizes cisgênero. Eles perdem a oportunidade de expressar de forma plena e verdadeira a intenção de encaixar-se no rol de obras cinematográficas realmente revolucionárias e subversivas.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ uma mulher fantástica

Da mesma forma, não faz mais sentido, na terceira década do século vinte e um, que as coisas sejam diferentes do que foi oferecido por Uma mulher fantástica. A história e a potência da cantora Marina tornam-se palpavelmente robustas e autênticas com a atuação de Daniela Vega, que encarna uma personagem que acaba de perder o namorado. A fim de homenagear seu corpo, Marina precisa passar pelo preconceito brutal de sua ex-esposa e filhos.


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Uma mulher fantástica está disponível no Prime Video.

Vera, de Sérgio Toledo (1986)

Anos antes da ampliação do diálogo sobre gênero e da própria popularização do termo transgênero, Vera trouxe para o debate sobre Cinema brasileiro questionamentos importantes. Além disso, também deixou os espectadores perplexos com a atuação poderosa de Ana Beatriz Nogueira como Vera/Bauer, que recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim. A contribuição de Ana Beatriz é um grande instrumento para suscitar a compreensão sobre o que significa nascer com o corpo errado. O Dia do orgulho LGBTQIA+ é o momento perfeito para conhecermos esse ótimo filme.

Dia do Orgulho LGBTQIA+ Vera

Ao afirmar-se homem, mas preso num corpo feminino, o personagem abre espaço para que reconheçamos a realidade das identidades transgênero. Com isso, identificamos a opressão absolutamente desnecessária, mas nem por isso menos cruel, que pessoas que não se identificam com seu sexo sofrem na sociedade. Com esse reconhecimento, fica ainda mais escandalosa e absoluta a falta de justificativa de tanto preconceito em relação a comportamentos sociais que em nada afetam outras pessoas. Antes, as incomodam, porque revolvem repressões que elas não têm coragem de assumir, muito menos de enfrentar.

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