A Morte do Demônio – A Ascensão
Última atualização: 20/04/2023
O sucesso imediato de A Morte do Demônio – A Ascensão pode ser explicado pelo fato da produção não usar os filmes já existentes na franquia como muleta. Mas não leiam isso pensando que não há referências aos anteriores, pois elas existem. Existem e são reconhecíveis para quem acompanha a série. Entretanto não são como constantemente encontramos em filmes de super-heróis que exploram as ligações entre suas produções até esgotar a paciência do espectador (de alguns, ao menos).
Em princípio somos levados ao ambiente comum dos quatro capítulos anteriores e da série, uma floresta. Nela, um casal e sua amiga esperam a chegada de mais convidados. O movimento de câmera conhecido de Sam Raimi, do demônio deslocando acelerado e furtivo pelas árvores está presente. Todavia, o diretor rompe com nossa expectativa ao em seguida inserir um drone em cena. Embora pareça, em princípio, ser uma piadinha podemos enxergar esse movimento como um sinal de Lee Cronin como se estivesse dizendo ‘respeito a obra de Raimi, mas daqui em diante eu assumo as escolhas’. E, novamente, Lee resgata momentos icônicos do passado de Evil Dead, como engolir um olho ou empunhar uma motosserra, mas sem perder a oportunidade de fazer um filme seu.
O que se mantém é o que muda em A Morte do Demônio – A Ascensão
Lee Cronin entendeu o que um filme A Maldição do Demônio precisa ter para manter suas características: muito sangue, corpos possuídos por uma entidade demoníaca, mortos-vivos, torções e perfurações. A Ascensão nos serve um gostoso banquete de todos esses itens ao longo de suas quase duas horas de duração.
Um bom curioso faz um filme de terror acontecer
As jovens na Cabana da floresta são atacadas pela força maligna que possui uma delas. Essa criatura representa sobretudo algo antigo, anteriormente descoberto, que havia provocado o mesmo caos que veremos nessa história. Contudo há um século tal força, após a ação de um padre foi selada em um cofre por ele.
Assim sendo, neste hiato de cem anos, tanto o Livro dos Mortos quanto as palavras que libertam o ser demoníaco estiveram desaparecidos. Na verdade ocultos, debaixo de um prédio, na cidade de Los Angeles. Posteriormente, no momento em que o filme se passa, um terremoto provoca uma fissura no chão do estacionamento desse prédio e revela o cofre. Dessa maneira, como em todo bom filme de terror, um curioso faz contato com os itens amaldiçoados.
Evil Dead: A Ascenção é muito legal. Tem sangue, tem vômito, perfuração, torção, demônio proativo nas possessão e mortes, jovem hipster colecionador de vinil (item de extremo perigo), mais sangue e funciona sem depender dos anteriores. Ah, ninguém desmaiou na sessão, grazadeus! pic.twitter.com/X7Ueq5a1Pa
— Satanás de franja (@YasmineComY) April 18, 2023
Da mata para a urbe em A Morte do Demônio – A Ascensão
A franquia, anteriormente ambientada em uma cabana no meio da floresta, se desloca para um prédio condenado. A família composta por mãe, duas filhas e um filho (Alyssa Sutherland, Gabrielle Echols, Nell Fisher e Morgan Davies) está em vias de se mudar do apartamento em que vivem. Com a chegada surpresa da irmã/tia (Lily Sullivan) uma noite familiar comum tensiona com a presença inesperada. Contudo o impensado ocorre quando o filho furta os itens do cofre, na boa intenção de ajudar as mães com as finanças por meio da venda daquele livro aparentemente raro.
Mas certa estava minha avó que dizia que de boa intenção o inferno está cheio, pois daí em diante é só ladeira abaixo. Encerrados ora em seu apartamento ora, em alguns momentos, no corredor de seu andar todos os envolvidos lutam pela sobrevivência.
Sangue! Sangrem por todos os lados
O deslocamento geográfico do filme da natureza para o centro urbano permite uma ambientação mais claustrofóbica. Enquanto na mata ainda há uma esperança de ter para onde fugir, no 13° andar de um prédio, em meio a uma tempestade e após um terremoto, inegavelmente as opções são infinitamente menores.
Além disso, outra característica que perpassa os filmes anteriores, mas não esse é o foco em uma juventude sem grandes preocupações. Em A Morte do Demônio- A Ascensão, Ellie (Sutherland) foi abandonada pelo marido com os filhos, enquanto em contraponto, Beth (Sullivan), grávida de algum relacionamento que vive busca apoio. Até mesmo as crianças e adolescentes vivem em meio às ansiedades provocadas pela ausência do pai e a fragilidade da mãe.
O sangue, o gore, o medo estão presentes no ambiente externo, enfatizado pela presença da possessão demoníaca. Ao mesmo tempo cada membro daquela família vive seus sofrimentos individuais. Mas, falando do sangue já esperado em um A Morte do Demônio a produção não poupou gastos. Tem escatologia para todos os gostos: escalpos, vômitos, empalamento, facada, sangue por todos os lados. Na dose que os filmes anteriores nos ofereceram, às vezes até menos.
Citações e referências em A Ascensão
A direção e roteiro de Cronin escolhem caminhar por pontos diferente ao mesmo tempo que saca de se cinto de utilidades elementos que cativam o público do terror. Além do olho citado logo no início do texto, os fãs da franquia reconheceram também a semelhança entre a cena da banheira borbulhando neste filme e o chuveiro em alta temperatura no remake de Fede Alvarez, de 2013.
Entretanto, o que mais importa aqui, ao observar esses movimentos que a direção faz é também entender que Lee não está nem se escorando em Raimi e muito menos negando-o. Ele trabalha com escolhas de fazer um terror mais frontal, por mais que em alguns momentos isso tire a força dos sustos e das surpresas.
E, em síntese, na escolha de ser direto no que se propõe comunicar com o público observamos escolhas visuais icônicas, como os cabos do elevador que se assemelham às raízes das árvores do filme de 1981, ou uma assombração que voa embaixo de um lençol, ressignificando o tradicional fantasma de casa mal assombrada. O prédio condenado e sua aparência carregam carga semelhante à de uma casa da colina, só para ilustrar mais uma boa escolha de Lee.
E entre um e outro jumpscare encontramos o sabor delicioso de um filme sem a pretensão de ser um quebra cabeças como meio de validar sua qualidade. Decerto, o que A Morte do Demônio – A Ascensão sinaliza é a possibilidade de um filme objetivo ser tão divertido quanto um “pós-horror“.
Direção: Lee Cronin
Roteiro: Lee Cronin
Edição: Bryan Shaw
Fotografia: Dave Garbett
Design de Produção: Nick Bassett
Trilha Sonora: Stephen McKeon
Elenco: Lily Sullivan, Noah Paul, Alyssa Sutherland, Gabrielle Echols, Morgan Davies, Nell Fisher, Billy Reynolds-McCarthy