
Trilha Sonora para um Golpe de Estado
Última atualização: 02/12/2025
Com que frequência ouvimos a afirmação de que política e cultura não se misturam? Essa visão simplista ignora o fato de que a expressão artística e os movimentos políticos estão intrinsecamente conectados. Com efeito, o documentário “Trilha Sonora para um Golpe de Estado”, de Johan Grimonprez, indicado ao Oscar 2025, é uma prova contundente de como a música e a história política se entrelaçam, especialmente no contexto da descolonização do Congo e da Guerra Fria.
Em meio às disputas entre Estados Unidos e União Soviética, o Congo vivia seu processo de independência após décadas de exploração belga. Patrice Lumumba, primeiro-ministro do recém-independente país, contava com o apoio soviético, enquanto os EUA e a Bélgica se opunham a ele. Em poucos meses, Lumumba foi deposto e assassinado, um crime político que contou com forte participação americana, segundo a obra que aqui analisamos.
A política através da música em “Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado”
O documentário de Johan Grimonprez apresenta uma abordagem singular, revelando como a música foi usada tanto como ferramenta de protesto quanto de manipulação política. Nesse sentido, o filme reconstitui os eventos que culminaram no assassinato de Lumumba e destaca o impacto do jazz no contexto político da época.
Artistas como Abbey Lincoln e Max Roach utilizaram sua música para denunciar as injustiças e até invadiram o Conselho de Segurança da ONU em protesto. Por outro lado, governo americano enviou Louis Armstrong ao Congo, servindo como uma distração midiática para encobrir a interferência dos EUA na política local.
O documentário não tem medo de apontar nuances, e, embora seja contundente em apontar responsabilidade, não opta pelo caminho fácil da oposição entre heróis e vilões. A relação entre jazz e imperialismo é um dos pontos centrais do documentário, que não teme questionar seu papel como soft power da política americana.
A força cinematográfica do documentário
“Trilha Sonora para um Golpe de Estado” se destaca não apenas pelo conteúdo histórico, mas também pela forma como é narrado. A edição dinâmica de Rik Chaubet, a justaposição de imagens e o uso intenso da música criam uma experiência imersiva, quase como assistir a um grande show de jazz.
O filme não se limita a relatar fatos, mas provoca reflexões, exigindo do espectador uma leitura atenta das complexas relações entre cultura e política. Sua abordagem densa e repleta de referências o torna um documentário desafiador. Mas é um filme deslumbrante, tanto para quem deseja entender a história do Congo quanto para quem se interessa pelo impacto da música na resistência política.
Se não for uma obra-prima, “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” é certamente um marco na cinematografia documental.
Ficha Técnica

Direção: Johan Grimonprez
Roteiro: Johan Grimonprez, Daan Milius
Edição: Rik Chaubet
Fotografia: Jonathan Wannyn
Elenco: Patrick Lumumba, Malcolm X, Nikita Khrushchev, Louis Arnstrong, Nina Simone, Abbey Lincoln, Max Roach
Moro na roça. Ou seja, em Belo Horizonte. Como assistir Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado?
Olá, Luiz, infelizmente o filme ficou cerca de apenas duas semanas em cartaz no Cine Belas Artes. Agora é esperar a sorte de chegar em algum streaming.