
Uma Advogada Brilhante: humor em desequilíbrio
Última atualização: 06/03/2025
Leandro Hassum certamente já se consolidou como o maior nome da comédia atual no cenário brasileiro, ao menos em reconhecimento do público e apoio às suas produções. Transitando entre os trejeitos reconhecíveis e seus exageros, de falsetes e pulinhos ao humor de constrangimento, seus filmes tendem a ser sempre sucessos de público. Assim, atendem ao segmento que deseja ver algo leve, usualmente em família, e obter risos fáceis. “Uma Advogada Brilhante” (2025), de Ale McHaddo, não foge ao modelo.
Entre dois mundos: O humor fragmentado
Em “Uma Advogada Brilhante”, Michelle (Leandro Hassum) é um ótimo advogado que sonha em um dia trabalhar na grande firma de advocacia chamada Top. Um dia, descobre que a Top está comprando a empresa em que está atualmente empregado. Assim, ele acredita essa é a grande chance da sua vida… até descobrir que a Top vai demitir todos os homens e manter apenas as advogadas mulheres.
Só que, por conta do seu nome, Michelle, que é um nome masculino italiano, acaba sendo confundido com uma mulher, já que, no Brasil, Michelle é um nome feminino. Para não perder o emprego e o filho, Michelle decide se vestir de mulher e assumir uma nova persona, só que ele não imaginava que o mundo das mulheres seria tão mais desafiador do que o mundo dos homens.
Escrito por Luiz Felipe Mazzoni, Ale McHaddo e Cris Wersom, o roteiro apresenta duas histórias paralelas que o protagonista percorre. Uma é a vida real masculina, da luta para que seu filho não se mude para longe, enquanto mostra à ex-mulher que ele é um pai presente e interessado. Outra é a vida ficcional, em que a Dra. Michelle descobre os desafios de ser mulher no mundo corporativo. Nesse sentido, sofre assédio, interrupções, roubo de ideias e rebaixamentos constantes. Esta segunda parte se desdobra em dois casos de tribunal, o que acaba transformando o filme de uma hora e meia em muitas histórias para o espectador acompanhar.
O machismo no centro da Comédia em “Uma Advogada Brilhante”
Vindo na parceria com a Netflix e também com a diretora e roteirista Ale McHaddo, e logo depois de “Meu Cunhado é Um Vampiro” (2023), possivelmente a produção mais fraca da parceria, o novo filme ganha pontos. Mas segue com os mesmos tropeços. O roteiro continua se apoiando em conveniências e momentos forçados. Sem o carisma do protagonista, esses momentos poderiam não resultar em situações engraçadas. E é importante essa constatação, pois, se você é o espectador para o qual o estilo humor de Hassum já não funciona, muito pouco poderá aproveitar da produção.
Mesmo com alguns momentos de riso pelas situações absurdas e alguns diálogos que parecem parte de improviso, os 85 minutos do longa-metragem não celebram o que mais desejam. O filme se desdobra para mostrar como ser mulher em um ambiente machista. Porém, mesmo buscando ser didático em questões como mansplaining, seu discurso ainda assim fica raso.
De certa forma, há formas até mesmo de ler o filme como uma espécie de cavalo de Troia. Assim, o filme é feito de forma rasa e claramente voltado para um público masculino, que é o principal consumidor do cinema besteirol. Mas essa seria a oportunidade para fazer com que esse público fique quieto um pouco, ouvindo uma mulher trans (no caso, a própria diretora, que interpreta uma advogada na segunda metade do longa) fazer um discurso importante sobre os desafios de ser mulher.
As mulheres se saem muito melhor
Pesa também a favor que as melhores atuações do filme sejam das personagens femininas. Olívia Lopes tem, definitivamente, a melhor atuação de toda a produção. Por sua vez, Cláudia Campolina faz bem com o pouco que o roteiro lhe permite. Todos os homens, por outro lado, são colocados em uma posição estereotipada. Isso, por um lado, os destaca como objetos do roteiro. Mas, por outro, reforça um certo papel de ridículo, necessário para a crítica.
O problema, talvez, seja não ir até as últimas consequências desse objetivo. Os poucos acertos não são capazes de evitar que este seja um filme que nunca se compromete de verdade. Só para ilustrar: não uma ou duas vezes o filme se permite ir longe demais, com piadas que claramente irão incomodar certas alas progressistas. Dadas as sensibilidades atuais, essas piadas poderiam até mesmo ser condenáveis.
Assim, Leandro Hassum segue tentando surfar na estética familiar das comédias mais rasas da cultura norte-americana. Flerta com o politicamente incorreto. Porém, faz um mea culpa com uma lição de moral, tentando ao máximo se manter em cima de um muro imaginário. Mas, como o muro não existe, fica a situação constrangedora de alguém tentando se equilibrar no vazio.
Ficha Técnica

Direção: Ale McHaddo
Roteiro: Ale McHaddo, Luiz Felipe Mazzoni, Cris Werson
Edição: Marcelo Moraes
Fotografia: Paulo de Tarso Disca
Elenco: Leandro Hassum, Ale McHaddo, Cláudia Campolina, Olívia Lopes, Fernando Alves Pinto