Feitiço do Tempo
Última atualização: 02/02/2021
Feitiço do Tempo é um dos melhores trabalhos de Bill Murray como ator. Suas habilidades, anteriormente vistas de relance em Os Caça-Fantasmas, brilham no filme de Harold Ramis para mostrar um dos arcos de evolução mais complexos de um personagem em qualquer obra de ficção. Porque Phil não é um personagem comum, mas um exemplo, criado nos mínimos detalhes, de personagem que precisa evoluir. Do contrário, sua história não termina. Literalmente.
Isso faz de Feitiço do Tempo, certamente, um dos melhores exemplos de metalinguagem que você vai encontrar. Acessível e agradável, a obra ensina uma lição não apenas para o protagonista, como também para o público e para os jovens autores tentando colocar suas ideias no papel.
Mas o que é metalinguagem?
Em resumo, metalinguagem é uma linguagem que descreve outra linguagem. Um filme sobre fazer um filme, um livro de gramática e um poema sobre compor uma música são exemplos de metalinguagem.
Não apenas a obra-prima de Federico Fellini, como também um dos filmes mais relevantes da história, 8½ é um dos principais exemplos de metalinguagem no Cinema. Contornando o próprio bloqueio criativo, Fellini conta a história de um diretor de cinema enfrentando um bloqueio criativo, para assim falar sobre o processo muitas vezes doloroso de produzir um filme.
Feitiço do Tempo aplica a sua metalinguagem de maneira menos evidente, mas também muito criativa.
O feitiço do tempo que cria um “deus”
Uma história bem estruturada dá ao seu protagonista objetivos claros. Desejos. Da mesma forma, uma boa história vai confrontar os desejos de seu protagonista com aquilo que ele realmente precisa. Necessidades.
O que Feitiço do Tempo faz é usar sua premissa para dar ao protagonista tempo de realizar todos os seus desejos até, finalmente, descobrir a sua necessidade. Como um processo de tentativa e erro feito por um roteirista, mas dessa vez exposto na tela e parte integral da própria narrativa.
No momento em que se descobre preso no Dia da Marmota, Phil se vê como um deus: imortal. Dessa forma, é capaz de realizar todos os seus desejos, de seduzir uma mulher atraente a enriquecer. E, assim como um deus, não há consequências. O amanhã nunca chegará. Ele é o único que sabe estar revivendo o mesmo dia, o que lhe dá uma vantagem.
E também o coloca em uma prisão.
A verdadeira magia de Feitiço do Tempo
Ao esgotar toda a sua lista de desejos e ainda assim não encontrar a felicidade. Phil se vê obrigado a repensar a própria vida. O que realmente importa? O que ele realmente quer? E como ele pode suprir esta necessidade?
Phil precisa evoluir como ser humano para conquistar o amor de Rita (Andie MacDowell). E só conseguirá fazer isso quando entender que, ao contrário do que achava antes mesmo de entrar neste looping temporal, ele não é, de fato, um deus. Mas um ser humano: falho e vulnerável. Exatamente por isso, belo.
Isso não é uma lição válida apenas para o protagonista de Feitiço do Tempo. Ela também se aplica para todos que um dia criamos uma armadura de autossuficiência para nos protegermos de nós mesmos. Também se aplica a você, que tem um sonho de se tornar criativo, mas não sabe como: às vezes, você só precisa de tempo.
Feliz Dia da Marmota.
Direção: Harold Ramis
Roteiro: Danny Rubin e Harold Ramis
Edição: Pembroke J. Herring
Fotografia: John Bailey
Design de Produção: David Nichols
Trilha Sonora: George Fenton
Elenco: Bill Murray, Andie MacDowell, Chris Elliott, Stephen Tobolowsky & Marita Geraghty