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Mais pérolas da Netflix

Última atualização: 05/02/2021

Plataformas de streaming como a Netflix lançam filmes em quantidade toda semana. Mas o espectador que não tem tempo de acompanhar todas as críticas de sites especializados muitas vezes não sabe o que escolher. E os comentários sobre os filmes são sempre muito resumidos. Então, como pescar, em meio a tantos filmes, as pérolas verdadeiras que estão lá, desconhecidas do grande público?

O leitor já pode encontrar uma lista de algumas dessas pérolas selecionadas pelo Longa História. Mas ainda há mais. Por isso, seguimos com mais uma lista de filmes bacanas para os que permanecem em casa. Também, claro, para os que precisam sair para trabalhar e querem relaxar no fim de semana. E – por que não? – se deleitar com verdadeiras obras de arte.

1. Other People, de Chris Kelly (2016)

“Menos é mais” é uma frase aplicável com perfeição a esse, em resumo, belíssimo filme disponível na Netflix. O enredo é simples: David, rapaz em maré ruim na vida pessoal e profissional, retorna à casa dos pais para cuidar da mãe doente. O que há de especial é, principalmente, como essa história é contada. Chris Kelly, mesmo tendo roteirizado por quase uma década o programa Saturday Night Live, opta por uma pegada mais intimista e dramática. Com isso, mostra coragem em não recorrer a qualquer alívio cômico para descrever o momento difícil de David.

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Para cumprir essa tarefa, Kelly conta com dois auxiliares de peso: a grande comediante Molly Shannon, que trabalhou com Kelly por oito anos no SNL, e agora, em contraste com a comédia, mostra uma faceta dramática capaz de emocionar até as pedras. E o talentosíssimo Jesse Plemons, que por si só contribui enormemente para a qualidade de qualquer trabalho. Esses três artistas transformam a história de David, que em princípio nada tem de incomum, numa jornada singular, heroica e emocionante. Carregada de dor, mas plena de humanidade e beleza em todos os minutos.

2. Doce Virgínia, de Jamie M. Dagg (2017)

Segundo filme de Jamie M. Dagg (o primeiro é o interessante River), Doce Virgínia é uma produção estadunidense independente que tem em Jon Bernthal, o Justiceiro, seu maior chamariz. Mas, desta vez, Bernthal escapa dos personagens violentos que normalmente encarna. Com isso, podemos admirar o talento e a versatilidade do ator em uma interpretação contida, mas nem por isso previsível. Bernthal compõe um personagem às vezes um pouco covarde, mas explora muito bem sua imagem de Justiceiro. Assim, sempre temos a impressão de que a qualquer momento seu personagem fará algo inesperado.

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Mas não que em Doce Virgínia não exista violência. Ela está a cargo do também talentoso Christopher Abbott, ator recorrente em bons filmes independentes. Em atuação incrivelmente intensa, Abott rouba a cena de Bernthal, e olha que isso não é nada fácil. Para quem assistiu a River, vale a pena acompanhar a evolução do trabalho de Jamie M. Dagg em Doce Virgínia, e esperar que ele ofereça ao público novas produções tão relevantes quanto esta que a Netflix disponibiliza.

3. Beasts of no nation, de Cary Fukunaga (2015)

O primeiro filme de ficção original da Netflix foi produzido, roteirizado (a partir da novela de Uzodinma Iweala) e dirigido por Cary Fukunaga, grande nome da TV estadunidense. Muitos ainda se lembram do impacto causado pela força da trágica história do menino Agu (Abraham Attah). Acompanhamos, a partir da infância pobre mas feliz de Agu em algum país africano, sua total transformação em uma máquina a serviço de algum comandante em uma guerra brutal, indizível. A violência dessa transformação nos abre os olhos para o que ocorre fora de nossas bolhas confortáveis e bem alimentadas.

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Beasts of no nation, talvez o melhor filme de Fukunaga, é um daqueles exemplos de obra de arte que não nos apresentam o que se costuma chamar de Belo. Porém, elas trazem uma potência incomodativa que sacode crenças envelhecidas. Mostram condições de vida de outros seres humanos para além de nossa suposição mais ousada. E nos chamam à ação, provocam mudanças de pensamento. Trata-se de um filme que se coloca muito além do que a linguagem pode traduzir. Uma experiência verdadeiramente visceral.

4. Miami Vice, de Michael Mann (2006)

Este longa-metragem se inspira na série de TV produzida na década de 1980 pelo próprio Michael Mann. Mas, diferentemente da série, notamos nele maior densidade nas ações dos personagens e nas subtramas, além de algo bem pouco usual para os filmes policiais: uma relação profissional e adulta entre os parceiros Sonny Crockett (Colin Farrell), e Rick Tubbs (Jamie Foxx), sem alívios cômicos. Esse peso dramático se articula a uma Miami quase sempre filmada à noite, e filtrada em azul durante o dia para se minimizar sua estupenda luz.

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Michael Mann mostra como realizar uma obra cinematográfica comercial mas com grande qualidade técnica e artística. À época de seu lançamento, Miami Vice não impressionou a crítica nem levou muita gente aos cinemas. Isso pode se dever à montagem complexa, que amarra simultaneamente vários acontecimentos, contraposta a lindas sequências, como a de pequenos aviões cruzando um céu azulzíssimo.  De todo modo, é impossível não se deleitar com um filme cheio de detalhes, que mantêm a certeza de que estamos diante da obra de um grande realizador.

5. A bruxa, de Robert Eggers (2015)

O terror é uma linguagem extremamente rica, que se manifesta de muitas maneiras diferentes. O Cinema não raro a explora buscando as conexões entre o terror e os paradoxos humanos. Em A bruxa, Robert Eggers desenvolve a premissa de que a religião é uma fonte gigantesca de medo para as pessoas. Privações, proibições, pavor e, principalmente, culpa diante de um Deus onisciente marcam o cotidiano de uma família de puritanos da Nova Inglaterra. As fantasias terríveis que a repressão pode produzir compõem a estrutura desse filme excepcional disponível na Netflix.

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Eggers mostra como a vida de uma simples menina num lugar assim – a mulher é a personificação da luxúria – pode se transformar num inferno. A jovem Thomasin (Anya Taylor-Joy) é sempre lembrada da danação eterna que espera quem se entrega ao pecado. Não existe alegria nem prazer. Apenas a obrigação de uma pureza e o horror a uma vida que Thomasin desconhece completamente. Por isso, a forma como os acontecimentos (até os que só ocorrem na mente das pessoas) se intensificam é a materialização do absurdo grotesco que a repressão sexual absoluta representa. A bruxa é o terror na sua quintessência. Um filme obrigatório até para os não aficionados no gênero.

6. A arte de amar, de Maria Sadowska (2017)

Estamos acostumados a um cinema polonês fotografado de maneira fria, com cenários em preto-e-branco maltratados pela guerra. Em A arte de amar, nos surpreendemos com uma Polônia colorida com a primavera, nas paisagens e figurinos, para contar a história de uma das pioneiras do feminismo. E isso faz sentido: o filme nos apresenta a Mikhalina Wisloka, médica e sexóloga que, na Polônia católica e comunista da Guerra Fria, tentava ensinar às pessoas que o prazer sexual era fundamental à felicidade.

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O filme trata não apenas de uma mulher que pensava fora dos rígidos padrões sociais que os poloneses não ousavam enfrentar. Já que a liberdade também é uma conquista, ele conta como a doutora Wisloka aprendeu a ter prazer. Esse aprendizado foi fundamental às concepções feministas que ela sempre manteve. Isso, claro, bem antes de o feminismo se consolidar como ideia e teoria. Assistir à história de uma pessoa verdadeiramente generosa vai certamente inspirar muita gente a repensar preconceitos que sobrevivem até no nosso século, muito embora eles nunca deveriam ter sido inventados.

7. O que ficou para trás, de Remi Weekes (2020)

Embora este seja seu primeiro longa-metragem, o britânico Remi Weekes mostra grande conhecimento acerca de uma das tendências contemporâneas do terror no Cinema, beneficiária dos estudos sobre raça e gênero. É um terror que os seres humanos provocam e causam em outros seres humanos.  A estrutura do filme articula com grande maestria temas religiosos a sociais para contar a história de um casal de refugiados na Inglaterra.

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A ideia principal deste filme disponível na Netflix é simples, mas não trivial: sem resolver as lacunas e erros do passado, não será possível traçar qualquer futuro. Assim, o casal foge de um país em guerra em busca não de uma vida melhor, mas de uma vida, qualquer que seja. Contudo, o que ficou para trás retorna como um grande recalcado, exigindo ser olhado, exigindo uma solução. Remi Weekes trabalha de maneira orgânica as imagens que manifestam esse conflito, tornando visível o terror que habita as mentes machucadas pelos traumas já vividos.

8. Rastros de um sequestro, de Jang Hang-Jun (2017)

Quem gosta do cinema coreano já sabe que é grande a possibilidade de mesclagem de narrativas. E isso os coreanos realizam com uma fluidez que a gente nem percebe. Dramas familiares se misturam a suspense, a tramas policiais e até a terror. O diferencial coreano é a garantia de que a mistura sempre será muito bem dosada, o que resulta em filmes arrebatadores. Os personagens sempre apresentam motivos fortes para suas ações, e isso nos faz torcer por eles do primeiro ao último minuto.

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O espectador que assistiu ao celebrado O lamento reconhecerá um ponto em comum com Rastros de um sequestro: uma mudança diegética ao longo da obra. O clima ameno do filme vai se tornando mais pesado à medida que elementos de suspense vão sendo apresentados ao espectador, até chegar a um ponto máximo de angústia. Essa construção estruturalmente perfeita torna Jang Hang-Jun mais um diretor coreano interessante para mantermos em nosso radar. Fiquemos, por isso, atentos ao cinema da Coreia assim que a pandemia permitir a finalização de projetos cinematográficos em andamento. Muitos trabalhos especiais devem estar a caminho.

9. Agnus Dei, de Anne Fontaine (2016)

A Netflix está repleta de filmes sobre mulheres poderosas, mas poucos são tão arrebatadores quanto essa produção franco-polonesa da experiente atriz e diretora de Luxemburgo Anne Fontaine. O poder feminino é empregado para, como vem sendo cada vez mais comum, consertar os graves crimes cometidos pelos homens. Em Agnus Dei, esse trabalho é empreendido por uma dupla inesquecível: a médica francesa Mathilde (Lou de Laâge) e a freira polonesa Maria (a impressionante Agata Buzek).

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Ambas lutam contra forças acima de tudo intimidantes e de uma maldade que não se encerra com a Segunda Grande Guerra, após cujo fim o filme se localiza. Mas a sororidade, conceito que no século 21 nos acostumamos a discutir, incentivar e demandar, sempre existiu entre mulheres perfeitamente sabedoras de sua condição subalterna. Agnus Dei é um filme para pensarmos sobre como é difícil ser bom, mas é enfrentando as dificuldades e desafios que nos tornamos mais fortes e corajosos. Se não estivermos sozinhos nesse caminho, tanto melhor.

10. O tigre e o dragão, de Ang Lee (2001)

Ninguém filma amores impossíveis tão bem quanto o chinês Ang Lee. São de sua autoria os trágicos romances em Desejo e perigo e na obra-prima O segredo de Brokeback Mountain. Porém, antes deles, O tigre e o dragão já manifestava a preferência do cineasta ora por romances com finais tristes, ora por amores impedidos pelas convenções sociais e pelo preconceito. Mas, como se trata de Ang Lee, a história do infeliz casal inclui cenas maravilhosas de luta, que justificam o termo “coreografia” usado em relação a elas.

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No centro desta narrativa que você pode ver na Netflix agora mesmo, duas mulheres, cada qual reagindo de uma maneira às determinações de comportamento de sua classe social. A seu redor, cenários de uma China lindíssima, uma direção de arte primorosa e aquela emoção rasgada, que muitos cineastas ocidentais preferem deixar de fora. Preciosos detalhes que iluminam e temperam uma verdadeira obra de arte, indicada a nove Oscars em 2002 e ganhadora de quatro: filme estrangeiro, direção de arte, fotografia e trilha sonora original.

Para mais listas e conteúdos sobre a Netflix

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2 comentários em “Mais pérolas da Netflix

  1. Muito bom Ana..nao vou perder tempo! Ainda mais depois desta listinha p bons momentos. Obrigado e tudo de bom p vc!

    1. Obrigado pelo seu comentário, Girino! Não esquece de contar quando assistir aos filmes de quais você gostou mais. E volte sempre para mais posts 😉

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