Lady Killers: Assassinas Em Série
Última atualização: 07/08/2021
Ao procurar livros ou outras mídias que falem sobre crimes reais, títulos como Lady Killers: Assassinas Em Série são exceções. Algumas pessoas têm a certeza de que psicopatia e frieza são características masculinas.
Inegavelmente, a essa altura do campeonato, separar pelo gênero esses atos é uma grande bobagem. Da mesma maneira que afirmar que mulheres só matam de uma maneira. Esse talvez seja meu maior incômodo com o livro. Ao reler, algo que ainda me desestimulou foi o excesso de senhoras e mocinha envenenadora no compilado de histórias presentes nessa antologia de casos protagonizados por mulheres.
Ainda assim, o volume trata de crimes inescrupulosos calculistas, da mesma maneira que aborda aspectos sociais envolvendo as investigações e punições dadas às criminosas.
Lady Killers: senhoras no crime desde que o mundo é mundo
Tori Telfer nos conta histórias de algumas pessoas consideradas assassinas em série. Assim, em tempos e países variados, somos guiados pelos casos em que as mulheres são protagonistas como assassinas e não apenas como vítimas.
Ainda que a maior parte dos crimes sejam por envenenamento, também há relatos de casos nos quais a execução das vítimas foi por enforcamento, tiro ou mesmo esfaqueamento. Acho importante, nesse sentido, enumerar tais formas, pois quem lê muito sobre o assunto sempre se depara com afirmações de que mulheres são “criminosas limpas”. Esses lugares-comuns afetam o rumo das investigações e criam pré-julgamentos e pré-conceitos.
Entre a monstruosidade, a corrupção sexual e a incapacidade de propagar o mal
Em sua escrita, Tori mostra como os meios de investigação cometeram equívocos nas investigações e relatos dos crimes, pois apenas homens eram assassinos brutais. Assim, há casos que não foram investigados por anos.
De maneira semelhante, casos vinculados à espiritualidade tiveram sua motivação atribuída a possessões e demais influências de forças malignas. Ademais, a sexualidade era outro ponto considerado catalisador do “instinto assassino”. Uma mulher com seu desejo sexual “descontrolado”, por exemplo, canaliza essa “energia” na maldade. O mito sobre a condessa de sangue Elizabeth Báthory (1560-1614) foi todo construído em cima dessa tal luxúria desenfreada, afinal, mulheres não se interessam por sexo e, quando isso acontece, a única consequência é uma sede insaciável de matar e, no caso de Báthory, se banhar no sangue de suas vítimas.
Mulher: um corpo estranho e malvado que não se adequa às regras
Se não bastassem os achismos citados acima, a lista de pensamentos rasos propagados culturalmente sobre a capacidade das mulheres não para aqui. No caso que envolveu Tillie Klimek (1876-1936), observamos dois pesos e duas medidas.
Ela foi presa e condenada à prisão perpétua. Sua prima e cúmplice, Nellie, inocentada como influenciável e manipulada pela “líder da seita”. A sociedade via Tiller como uma mulher velha, feia, amargurada e mesquinha. Em contrapartida, a dupla de assassinas julgada em seguida foi inocentada, afinal possuíam jovialidade e beleza. “Vinte e oito mulheres foram absolvidas em julgamentos por homicídio nos anos anteriores, e todas tinham uma boa aparência”, segundo Telfer.
E isso perdura por anos, tanto que em 1950, Nannie Doss surpreendeu os Estados Unidos por ser uma vovó fofa que fazia bolos com a mesma tranquilidade que matava seus maridos.
A anatomia do mal do “sexo frágil”
Assim como Anatomia do Mal, ‘Lady Killers’ foi lançado em capa dura e carrega no miolo ilustrações lúdicas referentes aos casos. Da mesma maneira, existem os grifos destacando trechos do texto, mas em cor de rosa.
O livro aborda os crimes, biografa as serial killers e contextualiza historicamente os casos. Tais informações enriquecem o texto por mostrar diferenças na abordagem dos casos em diferentes tempos e localidades.
Na edição brasileira foi adicionada uma galeria de assassinas contemporâneas, desenvolvida em parceria por integrantes do site O Aprendiz Verde, e uma lista de filmes sobre o tema.
Autor: Tori Telfer
Tradução: Marcus Santana, Daniel Alves da Cruz
Gênero: Investigação policial, História
Primeira publicação: 2017
Edição brasileira: DarkSide Books
Número de páginas: 384
Idioma: Português
ISBN: 978-85-945-4147-5