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Loki: 1ª temporada

Última atualização: 14/07/2021

Se você gosta das produções da Marvel, não só sei que você gosta do Loki de Tom Hiddleston como também me atrevo a afirmar que ele é um dos seus personagens favoritos. O contraste com seu irmão adotivo Thor, bem como a irresistível aura de malandro, fazem do Deus da Trapaça uma figura deliciosa de se assistir. E é esse o grande desafio que a série do Disney+ transforma em oportunidade: como o nosso coadjuvante favorito se comporta no papel de protagonista?

Poderíamos usar este espaço para falar de easter eggs e, principalmente, conexões com mais séries e filmes? Poderíamos. Mas não vamos. Em vez disso, quero discutir o que faz de Loki uma boa série. Como um tema fornece toda a estrutura básica para uma boa história ser construída à sua volta. Como soluções criativas transformam conceitos de um filósofo de meados do século 20 em combustível para a trama. E, por fim, como um vilão é transformado duas vezes em uma figura genuinamente querida pelo público.

Para que eu faça sentido, vou precisar dar pequenos spoilers de Loki. Nada muito sério, mas não se preocupe: sempre que algum detalhe da história for aparecer, você vai ter uma sinalização bem clara para, se ainda não tiver assistido à série, pular o parágrafo e ler depois.

A importância do tema

Em narrativa, o tema é uma pergunta dinâmica. Como resultado, um bom tema normalmente é uma pergunta de resposta “sim e não”. Não porque não haja resposta certa, mas porque há bons argumentos para sustentar as duas respostas como certas.

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Identificar tema(s) em uma história nem sempre é ciência exata. É provável que você termine de assistir a Loki e pense em um tema diferente do meu. O máximo que posso oferecer, portanto, é um tema coerente. Mas é bem razoável dizer que um tema coerente e possível da série é:

Queremos mesmo ser donos dos nossos próprios destinos?

Para explorar o tema, temos dois personagens com visões antagônicas: Loki e Mobius (Owen Wilson). O primeiro tem certeza que nasceu para cumprir um destino glorioso, enquanto o outro é encarregado de literalmente apagar da existência qualquer um que tente sair do grande esquema pré-definido pela Sagrada Linha do Tempo.

Quando a crença de um personagem é apresentada, é função da trama confrontar esta crença. E como Loki faz isso?

Pequenos spoilers de Loki aqui!

Loki vê todo o seu passado, presente e futuro na Autoridade da Variância Temporal (AVT). Ao atestar como sua vida é cheia de fracassos, que ele será responsável pela morte da mãe, não conseguirá impedir a destruição de seu planeta e morrerá nas mãos de Thanos, ouve de Mobius que “nasceu para causar dor, sofrimento e morte, para que outros possam atingir a melhor versão de si mesmos”. Esta, aliás, é uma definição de manual da função de um coadjuvante. Já Mobius, que sempre acreditou na estabilidade imóvel do tempo, descobre que tinha uma vida antes da AVT. Que amores, amigos e memórias, que sua própria realidade foi apagada da existência. Que nem ele e nem Loki são, de fato, livres.

Ou são?

O Loki existencialista de Sartre

Dois conceitos existencialistas do filósofo francês Jean Paul Sartre encaixam na trama de Loki. Em primeiro lugar, aquele que explica como a existência precede a essência. Ou seja, o ser humano não escolhe nascer, posto que a existência é dada, mas escolhe quem quer ser, ou qual é a sua essência individual.

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Quando Loki é preso pela AVT, sua linha do tempo é resetada. Ele não tem para onde voltar, sendo apenas existência. Toda a sua essência demanda de escolhas para ser construída. E escolhas marcam o segundo conceito de Sartre desta análise: liberdade.

Para Sartre, estamos condenados a sermos livres. Isso significa, em resumo, que o único responsável pelo seu destino é… você mesmo. Mas e se a sua religião proibir que você faça alguma coisa? Você escolhe se segue ou não tal religião. Amigos esperam que você adote uma determinada postura? É sua escolha decidir se seus amigos valem mais ou menos do que os seus desejos. E mesmo que você faça uma escolha, nada impede você de simplesmente voltar atrás.

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Loki sempre viveu à sombra de Thor, ao mesmo tempo em que espalhou dor, sofrimento e morte por onde passou. Mas, se é do seu interesse mudar, se ele realmente é mais do que uma ferramenta para trazer à tona o melhor dos outros, ele pode escolher mudar. E, caso ele não faça essa escolha, inevitavelmente estará escolhendo não mudar.

Retomo o tema: queremos mesmo ser donos dos nossos próprios destinos?

Outro pequeno spoiler aqui

Nada é melhor para ilustrar o poder da liberdade e a escolha do que uma história sobre diferentes linhas do tempo. Honestamente, não creio que seja por acaso Loki sempre encontrar versões melhores de si. O Loki Criança (Jack Veal) conseguiu matar o seu Thor; O Loki Clássico (Richard E. Grant) é um feiticeiro muito mais poderoso; Sylvie (Sophia Di Martino) realizou, ainda que parcialmente, um plano de vingança contra seus opressores, com o próprio Loki a impedindo de concretizá-lo.

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Ao ver quem ele poderia ser com escolhas diferentes, Loki tem a confirmação do que diz Sartre sobre sermos responsáveis pela nossa própria essência. Basta escolher.

Evoluindo Loki (de novo)

Acompanhamos todo o arco de desenvolvimento de Loki nos filmes da Marvel. Quando a série começa, aquele vilão do primeiro filme dos Vingadores, ao mesmo tempo rebelde e imaturo, não é de quem nos despedimos em Guerra Infinita. Como evoluir o personagem mais uma vez?

Essa é a resposta que, com toda a certeza, podemos levar da série e desta leitura para nossas vidas. Ver alguém confrontar suas falhas e seus arrependimentos, separado de tudo o que já teve na vida, e ainda assim desenvolver empatia, aprender a se importar verdadeiramente com os outros e redefinir a sua essência, cria simpatia e inspira. Assusta um pouco, pois não temos ideia do que vai acontecer, mas inspira. Porque, se Loki conseguiu, nós todos podemos conseguir também.

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Ou, como disse Sartre, “o importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós”.

Loki está disponível no Disney+.


Ficha Técnica
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Loki (2021) – Estados Unidos
Direção: Kate Herron
Roteiro: Michael Waldron
Edição: Paul Zucker, Calum Ross, Emma McCleave
Fotografia: Autumn Durald
Design de Produção: Kasra Farahani
Trilha Sonora: Natalie Holt
Elenco: Tom Hiddleston, Owen Wilson, Gugu Mbatha-Raw, Sophia Di Martino, Wunmi Mosaku, Richard E. Grant

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