Loki: Piloto
Última atualização: 11/06/2021
Quem já leu O Guia do Mochileiro das Galáxias, além de clicar aqui, vai gostar muito de Loki. A série do Disney+ tem muito do humor de Douglas Adams, bem como a sua capacidade para, entre uma piada absurda e outra, fazer questionamentos pesados demais para serem levados a sério sem que o nosso cérebro derreta.
Mas, primeiro, uma volta ao passado.
Esqueça o Loki que você conhece, pero no mucho
O protagonista de Loki é aquele que fugiu usando o Tesseract logo após os eventos de Vingadores. Um “Loki 2012”, que não viveu os eventos das fases 2 e 3 da Marvel. Não testemunhou a morte da mãe. Não se acertou com o irmão. Em outras palavras, não evoluiu.
É uma oportunidade encantadora para Tom Hiddleston revisitar uma fase do seu personagem e reescrever em seis episódios um arco de seis anos.
Mas então podemos esquecer o Loki do MCU? Bom, sim. Mas, na verdade, não. E essa é a parte mais interessante do primeiro episódio da série.
Após fugir de Nova York, Loki é imediatamente detido por guardas da Autoridade da Variância Temporal (AVT), julgado e condenado por ameaçar a “sagrada linha do tempo”. A AVT, para voltar ao Douglas Adams do começo desse texto, é uma organização para tratar de um assunto absurdo e tem um alcance e um poder muito além do que poderíamos imaginar. Surpreendentemente, nada disso é inverossímil dentro da história. Realmente inacreditável é a burocracia do órgão, a sua única característica que existe no “mundo real” do espectador.
O que, cá entre nós, faz sentido: alguém aqui já tentou abrir um MEI?
Proibido ser dono do próprio destino, sujeito a paulada
Na sua estada na AVT, Loki descobre que seu ato é ilegal porque, de acordo com os Guardiões do Tempo, ele “não deveria acontecer”. Só que há um problema nessa lógica: se só acontece o que “deveria acontecer”, não existe direito de escolha.
Você só queria ver uma série no final do expediente e lá vem a Marvel te questionando a vida, o universo e tudo mais.
O Loki da série é um Variante porque foge ao seu propósito. Nas palavras de Mobius (Owen Wilson), “causar dor, sofrimento e morte, para que os outros descubram a melhor forma de si mesmos”. Um dispositivo narrativo. Uma ferramenta.
Essa é a hora em que eu trago informação para vocês. Esse conceito não é novo. A corrente protestante do Calvinismo defende a teoria da Predestinação Absoluta. Em resumo, a Predestinação Absoluta diz que Deus sempre soube quem seria salvo e quem não seria. Nada acontece se não estiver de acordo com a vontade Dele.
Parece bastante com os Guardiões do Tempo, não é mesmo?
Algo interessante nestas séries da Marvel pelo Disney+ é que elas estão dando aos seus protagonistas uma oportunidade de desenvolvimento que não cabe no Cinema. Exatamente o que a missão oferecida por Mobius pode fazer por Loki. Vocês não acharam que ele seria deletado no primeiro episódio da própria série, não é mesmo?
Loki está disponível no Disney+.
Direção: Kate Herron
Roteiro: Michael Waldron
Edição: Paul Zucker
Fotografia: Autumn Durald
Design de Produção: Kasra Farahani
Trilha Sonora: Natalie Holt
Elenco: Tom Hiddleston, Owen Wilson, Gugu Mbatha-Raw, Wunni Mosaku, Derek Russo, Eugene Cordero & Tara Strong