Três livros para celebrar o dia da toalha

3 Livros para Celebrar o Dia da Toalha

Última atualização: 25/05/2021

A ficção científica não é bem um gênero do absurdo. No reino dos robôs, as coisas giram mais em torno do ‘plausível’ que do ‘não-é-possível’. Geralmente as inovações tecnológicas estão quase chegando, e às vezes efetivamente chegam (nem sempre o autor vive para ver). Não só isso, elas costumam se justificar por algum tipo de princípio científico, normalmente ligado à relatividade. É a Lei de Adams que faz aquela caixinha de som emitir cheiros. É o Teorema de Douglas que explica por que é impossível se molhar no Dia da Toalha.

Por isso que o gênero é ficção, mas científica. É uma fantasia, mas uma fantasia que tem razão de ser.

E é também por isso que fica difícil chamar O Guia do Mochileiro das Galáxias de ficção-científica. Porque, nos livros de Douglas Adams, é difícil encontrar uma razão para o que quer que seja. Nada é plausível, e tudo é possível.

Cartaz do Guia do Mochileiro das Galáxias para comemorar o Dia da Toalha

Na verdade, o livro célebre do Dia da Toalha é mais absurdo que ficcional. E não se engane: não pense que, por isso, ele está mais longe da nossa realidade. Na verdade, tanto a ficção quanto o absurdo acontecem todos os dias. A diferença é que, quando acontecem, a ficção é celebrada e o absurdo é negado.

Não é possívelIsso não pode ser verdadeNão acredito. Essas frases são anúncios de que o absurdo chegou. No fim das contas, não há muita diferença entre os ratos que controlam os humanos, na obra de Adams, e os ratos que governam… Um país ou outro. De qualquer forma, não entre em pânico. Leia O Guia do Mochileiro das Galáxias, e esses outros três livros absurdos. Quem sabe assim a gente finalmente enxergue o bizarro atrás das páginas.

Ardil-22 (Joseph Heller)

Dois dos três livros desta lista pertencem ao gênero anti-guerra. Não é coincidência: digo com segurança que a guerra é a terceira coisa mais absurda que existe. A segunda é a classe de detergentes que não fazem espumas. A primeira ainda não foi inventada, mas certamente um dia será (e imagino que vai ter algo a ver com post-its). E a guerra não é o único alvo de Ardil-22. 

A burocracia, a hierarquia militar e estruturas de poder de uma forma geral são alvos da crítica de Joseph Heller. Crítica que, aliás, nunca fica chata: o livro é tão engraçado quanto o Guia do Mochileiro das Galáxias, e certamente vai te fazer usar a sua toalha. Para enxugar as lágrimas. De Alegria!

Matadouro-5 (Kurt Vonnegut)

Matadouro-5 conta a história de Billy Pilgrim, um soldado que anda pelo tempo como quem anda por uma régua (sim, falo das formigas). Esse é o segundo dos dois livros anti-guerra e, assim como Ardil-22, também vai te fazer rir bastante. No livro, o fim do universo acontece porque um alienígena da espécie Trafalmodarian aperta um botão. Difícil não lembrar da destruição da Terra, no livro de Adams. 

E não se preocupe: o fim do universo não é um spoiler para Matadouro-5. Na verdade, o que Kurt Vonnegut nos mostra é que até a ideia de tempo como uma cronologia é uma convenção. E uma que é tão fácil de demolir quanto a Terra.

A Hora da Estrela (Clarice Lispector)

A Hora da Estrela também é um livro do absurdo. Mas, como às vezes acontece, é um absurdo que insiste em trombar conosco. Fiz uma associação com o Guia do Mochileiro das Galáxias para todos os indicados, e não vou deixar A Hora da Estrela de fora: o romance de Clarice Lispector lembra o Gerador de Improbabilidade de Douglas Adams. É que, na verdade, todo autor e toda autora geram as suas improbabilidades. Um resgate no último segundo, um beijo que levanta defuntos, um pão que cai com a parte da manteiga virada para cima.

E há, para quem escreve, a possibilidade não de gerar, mas de simplesmente acolher as improbabilidades da vida: os encontros que se repetem, as dietas de cachorro-quente. Não há quem defina melhor a improbabilidade da origem de tudo que Clarice, e é com ela que encerro essa lista, e te desejo um Feliz Dia da Toalha:

Tudo no mundo começou com um sim.
Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.
Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história
e havia o nunca e havia o sim.
Sempre houve.
Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

(Clarice Lispector – A Hora da Estrela)

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