Rivais

Última atualização: 04/05/2024

Luca Guadagnino apareceu de forma definitiva para o cinema norte-americano com Me Chame Pelo Seu Nome, onde além de visibilidade, trouxe consigo um dos atuais atores queridinhos de Hollywood. Depois também nos entregou um remake de Suspiria, que foi visto com bons olhos pela a crítica de modo geral. Além de remakes, também adaptou um livro, Até os Ossos, que também contava com a participação de Timothée Chalamet. Garantindo assim, uma boa base de fãs no meio cinéfilo. Acho interessante pontuar isso, pois em meio a uma Hollywood cada vez mais “empresarial”, autores como o Guadagnino, que tem uma base de fãs, nos garante ao menos um respiro fora desta bolha que só visa o lucro para os seus bolsos.

Em Rivais, o diretor nos coloca no mundo do tênis, onde sabemos, não é o esporte mais dinâmico do mundo, mas garante uma competitividade interessante.

Logo de cara somos apresentados a Art Donaldson (Mike Faist) e Patrick Zweig (Josh O’Connor). Jogando em duplas em uma partida aparentemente fácil, visto as expressões de seus rostos e corpos ao lidar com aqueles competidores. Aliás, Guadagnino elabora um filme corpóreo, onde nossas atenções estarão sempre direcionadas aos seus movimentos em slow motion, e muito close up em seus rostos, membros, e suas raquetes. É atraente a transformação de uma partida de tênis em grandes cenas luxuriosas. Guadagnino consegue construir uma narrativa sexy e cheia de tesão, usando o esporte como uma ferramenta.

 

Em Rivais até a trilha sonora é sedutora

A música assinada por Trent Reznor e Atticus Ross, se incorpora imediatamente a narrativa, em uma música eletrônica que transcende aos corpos dos personagens. A primeira aparição de Tashi (Zendaya) usando uma edição com cortes rápidos mostrando cada detalhe do corpo da personagem em movimento, com o vento levantando sua saia, glorificando seu corpo. Para Art e Patrick, aquele é o vislumbre do paraíso, isso não aconteceria com tanto tesão se não fosse a música de Reznor e Ross.

A narrativa em Rivais se estabelece em duas linhas temporais, uma em um torneio de Challengers em 2019, e outra que se inicia em 2006, onde ocorre o primeiro encontro do trio. A imediata atração de ambas as partes pelo esporte reflete o desejo físico entre os personagens, como uma ferramenta de união, é nessa visão carnal pelo esporte que eles se conectam, no caso, Tashi, que entra no mundo dos amigos. A partir daí, temos o nosso gatilho que leva a história para frente. Tashi se torna assim, uma personagem central, que vai levar o filme onde ela for.

 

Ritmo e Estilo na Interpretação Cinematográfica de Guadagnino

Trabalhando essas duas linhas temporais, Guadagnino consegue dar um bom ritmo a obra, ao ficar intercalando entre as épocas sem aviso prévio, ou com um certo tempo ou organização de cenas padronizadas. O tempo da narrativa é intercalado quando deve ser, para que o ritmo do filme não caia, e funciona muito bem, e mais uma vez trago a importância da música nessa intercalação de passado e futuro. Pois existem momentos mais enérgicos dos personagens que ao mudar o tempo, a música para bruscamente, e com a ausência da música, já que na outra linha temporal eles estão em um momento mais tenso, cresce o sentimento de incômodo.

Gosto de posicionamentos específicos de câmera, que o diretor aplica em Rivais, como se estivesse acompanhando o jogo debaixo da quadra, revezando com imagens aéreas, ou enquadramentos que acompanham a sombra do personagem enquanto compete, isso deixa o filme mais estiloso, fugindo um pouco dos mal elaborados planos e contra planos – não que a técnica seja ruim, longe disso – mas na grande indústria é muitas vezes utilizada como um artifício acomodado, sem função narrativa.

O clímax do filme consegue criar uma atmosfera absolutamente atraente, tensa e cheia de luxúria, tudo é sobre tênis, ao mesmo tempo que tudo é sobre sexo. Quando o diretor transforma a competitividade em atração, o desejo na raiva e o orgasmo no grito, é onde definitivamente Luca consegue me levar depois de toda sua construção. É o cinema em forma de prazer carnal, é onde definitivamente somos induzidos a sentir o mesmo tesão dos personagens… e ainda bem que é assim.


Ficha Técnica
Challengers (2024) – Estados Unidos, Itália
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: Justin Kuritzkes
Edição: Marco Costa
Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom
Design de Produção: Merissa Lombardo
Trilha Sonora: Trent Reznor, Atticus Ross
Elenco: Zendaya, Mike Faist, Josh O’Connor

 

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