sean connery

Connery, Sean Connery

Última atualização: 02/11/2020

Para os mais novos, é difícil compreender o impacto da morte de Sean Connery. O escocês não aparecia em um live action desde 2003, quando muita gente lendo este texto nem sequer era nascida. Mas, no quase meio século anterior, a filmografia de Connery reuniu ação, drama, aventura e eventos históricos, ajudando a consolidá-lo como um dos grandes nomes da história do Cinema.

Separamos dez filmes marcantes de Sean Connery para quem quer ir além do primeiro James Bond, celebrando sua vida e carreira e lamentando sua perda.

Marnie, Confissões de Uma Ladra (1964)

Por Ana Flávia Gerhardt

Entre um e outro 007, Sean Connery integrou-se ao elenco de Marnie, Confissões de Uma Ladra, suspense psicológico de Alfred Hitchcock. No filme, o ator é Mark Rutland, empresário que conhece Marnie, uma bela moça cleptomaníaca e mentirosa. Apaixonado, deixa-se arrastar para as inúmeras situações criadas por ela para alimentar suas compulsões, e, embora abusivo em uma ou outra ocasião, passa por marionete no jogo de enganos que é a vida da protagonista.

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Os críticos são unânimes em afirmar que Marnie, Confissões de Uma Ladra não é um Hitchcock top de linha. E que Connery, meio desconfortável fora do modelo “macho man” em que James Bond se encaixa, ainda não havia encontrado a grande veia interpretativa que marcou as décadas seguintes de sua carreira: a de figura coadjuvante e grande mentor para o encontro de heróis com seu destino. Mesmo assim, o filme compõe esta lista por se integrar ao conjunto de obras realizadas por grandes diretores de cujo elenco Connery fez parte.

Até Os Deuses Erram (1973)

Por Yasmine Evaristo

Até os Deuses Erram marca a segunda parceria entre Sean Connery e Sidney Lumet, após O Golpe de John Anderson (1971). Em Deuses, o ator interpreta um policial aposentado, marcado pelos traumas de sua profissão. Com o propósito de desmistificar a ideia do homem da lei como ser inatingível, o filme foca na instabilidade emocional de Johnson. Sean entrega um personagem em cacos, perdido em seus medos e com receio de enfrentá-los.

Este é um filme com muitos diálogos que exprimem o estado emocional do detetive. Enquanto verbaliza seus atos, pensamentos e desejos mais profundos, esse homem desaba e atinge a todos que se encontram em seu entorno. Destaque para a cena do interrogatório, na qual toda a ética e humanidade são suprimidas pelo rancor e ódio acumulado. Uma das grandes interpretações de Connery sob a batuta de Lumet.

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A parceria de ator e diretor se repetiria em O Assassinato no Expresso Oriente (1973) e em A Colina dos Homens Perdidos (1974), obras que também devem ser assistidas.

O Nome da Rosa (1986)

Por Gustavo Pereira

Adaptação do clássico-que-deve-ser-lido de Umberto Eco, a trama de O Nome da Rosa se passa em um mosteiro franciscano italiano do século 14. O frade William de Baskerville, personagem de Sean Connery, precisa investigar uma série de mortes estranhas num período em que o riso era considerado pela Igreja Católica como pecado. Numa rede de intrigas, tabus e mistérios, Connery entrega um Baskerville iluminado, irônico, brilhante e amável.

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Com um Sean Connery quase sexagenário à época, O Nome da Rosa é uma das obras mais marcantes do ator e um ponto de virada em sua carreira, a partir do qual ele começaria a, cada vez mais, ser escalado no papel do “mentor”, o veterano que guia um “novato idealista” pelos caminhos tortuosos de uma realidade bem menos romântica do meio em que está inserido.

Highlander – O Guerreiro Imortal (1986)

Por Ana Flávia Gerhardt

Este é um clássico dos filmes de aventura para os cinquentões, e muitos jovens conhecem pelo menos o nome “Highlander”, que se repetiu pelo menos quatro vezes em outros filmes, mas sem o sucesso do primeiro. Não há quem não ligue esse sucesso ao imortal espanhol Juan Sanchez Villa-Lobos Ramirez, o personagem cativante de Connery que, repetindo a figura do mentor já encarnada em O nome da Rosa, auxilia o protagonista Connor McLeod a lidar com sua condição de imortal.

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Em Highlander, Sean Connery justifica sua fama de coadjuvante de luxo e adiciona mais charme e carisma ainda a uma obra que, ao longo das décadas, se tornou imensamente popular. Mas é preciso dizer que Connery não estava sozinho para compor o conjunto de uma obra também imortal aos olhos do grande público: a trilha sonora do também eterno Queen é a cereja do bolo que ajuda a gente a relevar os problemas do filme e se entregar com gosto à saga dos guerreiros que não morrem.

Os Intocáveis (1987), o Oscar de Sean Connery

Por Ana Flávia Gerhardt

Mais um filmaço na carreira de Sean Connery, um sucesso de crítica e de público. Sua ficha inclui alguns dos maiores profissionais do Cinema estadunidense de todos os tempos – o roteirista David Mamet, o diretor Brian de Palma, a trilha sonora de Ennio Morricone, o protagonista Kevin Costner e o vilão Robert De Niro.

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Mesmo com tantos nomes estrelados, foi Connery e seu Jimmy Malone, policial de Chicago que compôs a equipe do agente Elliot Ness na caça ao gângster Al Capone, o grande premiado. Connery levou o Globo de Ouro e o Oscar de ator coadjuvante de 1987. De fato, não há quem assista ao filme sem se emocionar com o leal e corajoso Malone. Os Intocáveis é  uma obra fundamental para compreender porque Sean Connery é mais do que seu 007 inesquecível, mas também dono de uma longa e extraordinária carreira.

Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)

Por Ana Flávia Gerhardt

Indiana Jones e a Última Cruzada conclui uma das trilogias mais bem sucedidas da história do cinema mundial: a das aventuras do arqueólogo vivido por Harrison Ford no período entre guerras. Na busca pelo Santo Graal, Jones conta com a ajuda de seu pai Henry Jones, e essa necessidade é razão para sermos apresentados à juventude do protagonista e à descoberta de sua vocação pela busca e resgate de relíquias históricas e sagradas.

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A presença do pai de Jones inspira Connery e Ford a uma arrebatadora atuação em dupla, e o grande público agradece emocionado. Os conflitos divertidíssimos e o grande afeto entre pai e filho são aproveitados em cada segundo pelo diretor Steven Spielberg, e compõem a estrutura central desse grande filme, tornando-o singular, mesmo sendo parte de um projeto maior. Um grande encerramento para uma grande saga.

A Rocha (1996)

Por Ana Flávia Gerhardt

A Rocha repete e mantém alguns aspectos regulares na carreira de Sean Connery: a escolha por filmes de qualidade mas com forte apelo popular (este aqui contou com um Michael Bay antes que a hiperatividade e o vazio temático atacassem de vez seus trabalhos); a presença junto a atores de ponta à época da feitura do filme; e a opção por encarnar personagens mentores dos protagonistas, sendo mais um coadjuvante de luxo.

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Connery interpreta John Patrick Mason, o único homem que escapou do presídio de Alcatraz, em San Francisco, e por isso chamado a auxiliar o protagonista Dr. Stanley Goodspeed (Nicholas Cage) a livrar a cidade de um grupo de terroristas instalados na prisão.

Mas não é pela repetição dessas situações que Connery deixa a peteca cair e liga o piloto automático: novamente o espectador não sai decepcionado com sua atuação emocionante e carismática, e desenvolve grande empatia pelo destino dos personagens, inclusive por conta da química perfeita entre ele e Cage.

Corações Apaixonados (1998)

Por Yasmine Evaristo e Ana Flávia Gherardt

Corações Apaixonados se encaixa em um modelo de filme lançado no grande circuito de vez em quando: o de várias histórias de amor que se atravessam e eventualmente se referem a personagens que se conhecem. Connery quase o tempo todo contracena com Gena Rowlands, que interpreta sua esposa, e ambos passam a limpo quarenta anos de casamento.

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Ainda que nesse drama o ator seja um coadjuvante, ele encarna de maneira carismática e elegante o pai das personagens das atrizes Gillian Anderson, Angelina Jolie e Madeleine Stowe, que também vivem romances, cada uma à sua maneira. Corações apaixonados é um belo comfort movie sobre se reinventar, experimentar e parar de tentar decifrar a fórmula do amor.

Encontrando Forrester (2000)

Por Yasmine Evaristo

Em mais uma parceira com um diretor conhecido e renomado, Sean Connery encarna um autor recluso.  Mesmo parecendo um filme leve, acaba sendo uma bela catarse sobre isolamento, perspectivas futuras e síndrome do impostor.

Forrester é um autor famoso por ter vencido o Pulitzer com seu único livro escrito. O jovem Jamal (Robert Brown) é um exímio escritor, mas se sente desestimulado pelo ambiente no qual vive. A dupla encontra na amizade uma maneira de repensar suas ações e entender que eles podem e devem se dedicar à produção artística.

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Este é um filme bem tocante por mostrar o quanto os conflitos que carregamos nos impedem de desenvolver nossas habilidades e de sermos felizes. Maniqueísta? Sim. Mas com um olhar delicado sobre problemas que podem assolar pessoas que se encontram em momentos e lugares diferentes da e na vida.

A Liga Extraordinária (2003), último filme de Sean Connery

Por Gustavo Pereira

Apesar de não ser o último trabalho de Sean Connery na tela grande (ele ainda faria dois trabalhos de locução em 2012), A Liga Extraordinária é a última oportunidade de vê-lo em carne e osso num filme. À recepção fria da crítica se somou a uma baixa bilheteria para esta não ser considerada por muitos uma página vitoriosa na biografia de Connery.

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Contudo, o relativo fracasso do filme se deve mais a uma estratégia de marketing equivocada do que à obra em si: inspirada nos quadrinhos de Alan MooreA Liga Extraordinária reúne personagens da literatura de fantasia e horror do começo do século 20, criados por pesos-pesados como Bram Stoker, Júlio Verne, H. G. Wells e Oscar Wilde. Um crossover muito – mas muito mesmo – anterior a VingadoresA Liga Extraordinária celebra personagens desconhecidos dos jovens, mirando na geração errada. Visto em retrospectiva, o filme de Stephen Norrington é, em muitos aspectos, visionário. Agora carregada de um novo simbolismo, em sua última cena, o Allan Quatermain de Sean Connery diz ao Tom Sawyer de Shane West “faça este século seu como o último foi meu”.

E para você: qual o papel mais marcante da carreira de Sean Connery? Responda nos comentários!

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