Serial Killers: Anatomia Do Mal
Última atualização: 27/07/2021
O true crime, também conhecido como “crimes reais”, é um gênero literário, cinematográfico e podcaster, no qual casos de crimes verdadeiros são contados e analisados. Ao entrar no catálogo da Netflix, só para exemplificar, somos bombardeados por várias produções do gênero, nas quais encontramos desde crimes de terrorismo até cinebiografias de serial killers (assassinos em série).
Crimes reais, serial killers e eu
No Brasil, a editora DarkSide Books se destaca por um catálogo repleto de livros sobre o tema. Alguns desses títulos fazem um compilado de casos e criminosos, bem como explicam conceitos criados por investigadores e especialistas. Um desses títulos é Serial Killers: Anatomia do Mal, de Harold Schechter.
Como sou curiosa com o tema, esse título foi o primeiro livro sobre o assunto que li. Antes disso, já havia passado por revistas, documentários e cinebiografias, além das séries do gênero. Sou o exato público alvo de CSI ou Criminal Minds, ainda que o excesso de temporadas e episódios me desmotivem.
Dessa maneira, um dos primeiros textos que escrevi sobre livros foi após esse contato inicial, há seis anos, em um dos primeiros blogs do qual fiz parte do corpo de redação. A resenha de 2015 foi publicada originalmente aqui. O que você vão ler agora são ‘ajustes’ na impressão que tenho do livro. Afinal, após alguns anos, uma releitura e a aquisição de conhecimento e senso crítico sobre o assunto e as suas abordagens à reescrita, algumas impressões mudaram.
Serial Killers: Anatomia do Mal
Ante de mais nada, o livro possui 480 páginas de ódio e loucura levados ao extremo. Nesse sentido, o autor Harold Schechter faz um apanhado de assassinatos cruéis em todo o mundo. Sendo na atualidade ou no passado, o livro tenta conduzir o leitor a uma imersão no universo em que esses “monstros” vivem.
Por falar em monstruosidade, essa impressão é combatida mostrando que a psicopatia não deve ser ligada a fantasia. A maior parte dos assassinos e das assassinas citadas no livro eram e são pessoas comuns. Assim sendo, a ideia de que um assassino em série pode morar ao seu lado se faz mais real do que imaginamos.
Logo na introdução, temos a definição do tão usado termo serial killer, bem como suas origens e a diferenciação entre assassinato em série, em massa e relâmpago. Tais termos possuem uma linha tão tênue de significado que podem nos confundir. Outra diferenciação apresentada também é entre psicótico (alteração do funcionamento psíquico) e psicopata (perversidade).
As raízes do fenômeno: quando surgiram os primeiros serial killers
Em vários momentos, o autor aborda o fato de como sempre acreditamos no fenômeno serial killer como fruto da modernidade. Isso ocorre por associarmos a prática ao termo que é amplamente usado desde as décadas de 1960/70. Para quem gosta de fatos históricos, recomendo a série Mindhunter, disponível na Netflix.
Entretanto, o que Harold observa é como um dos casos mais famosos, o dos assassinatos em Whitechapel, recebeu grande destaque. Antes de tudo, precisamos nos lembrar que os crimes de Jack, o Estripador, aconteceram no momento que a imprensa se popularizava. Assim, o acesso de todas as camadas da sociedade aos informativos “viralizaram” tal fenômeno.
Mas, se prestarmos atenção, crimes como esses são cometidos há muito tempo. Outro ponto que o autor aborda em Anatomia do Mal é como, ao longo da história, produções textuais como fábulas e contos de fadas criam mitos que refletem a sociedade e cultura de sua época.
Em síntese, podemos dizer que mitos como monstros, bruxas e bestas são nada menos que relatos fantasiosos de atrocidades.
Tipos de assassinos
O livro é um tanto redundante e retoma assuntos já expostos a cada apresentação, de tal sorte que vários capítulos são dedicados aos psicopatas, divididos por características como “grupos”, “famílias” e “mulheres”.
Aliás, uma das divisões que me deixou curiosa foi a dedicada a afro-americanos, pois por muito tempo persistiu a ideia de que o perfil do assassino em série era masculino e caucasiano. Esse equívoco foi difundido pelo fato das análises serem baseadas apenas no biótipo norte-americano.
De maneira semelhante, o livro aborda casos em que os criminosos são crianças e adolescentes. Com efeito da crença na inocência pueril, alguns desses crimes demoraram a serem desvendados.
Crimes fora da América anglo-saxônica
Entre as abordagens de Serial Killers: Anatomia do Mal, uma delas são sobre crimes fora da América do Norte. Isso prova que essa “doença” social não acomete apenas uma região do mundo. Talvez a popularidade do tema no cinema e literatura dos Estados Unidos, somada à ampla divulgação dos crimes, criem esse imaginário.
Schechter aponta que tal comportamento parte de um indivíduo e não de uma cultura. Ainda assim, há análises nesse texto que tentam descobrir o quanto o meio influencia o criminoso.
As causas apontadas como gatilhos para o início da prática são tão amplas que é difícil definir o que levaria uma pessoa comum a ser um frio psicopata, sejam fatores biológicos, sociais ou econômicos.
Presa x Caça
Uma das observações mais interessantes são das relações entre vítimas e seus algozes. E não falo apenas da ausência de empatia e senso de superioridade que o criminoso tem sobre suas presas. Digo isso porque os fatores que transformam alguém em alvo podem variar, assim como seus métodos de execução.
Há casos de capturas ao acaso, mas também premediatadas. Há mortes rápidas e mortes lentas, estas acompanhadas de torturas. Quanto aos métodos podem envolver envenenamento, tiros, estrangulamentos etc. O importante é entendermos que em todos eles, mesmo quando parece haver “arrependimento”, acontece a desumanização da vítima.
Fatores sociais e as vítimas “preferidas”
A princípio, é importante lembrar que não existe um padrão de escolha, ao mesmo tempo em que algumas pessoas estão mais propensas a se tornarem vítimas. Em Serial Killers: Anatomia do Mal, elas têm o nome de “presas fáceis” e se enquadram nos grupos marginalizados.
O assassinato de pessoas em situação de vulnerabilidade, como moradores de rua, prostitutas, minorias étnicas e homossexuais, torna o assassino mais poderoso, já que essas são pessoas ignoradas, logo seus desaparecimentos sofrem pelo descaso de investigadores.
Entretanto, isso muda quando eles estão na posição de suspeitos. Por exemplo, existe o caso de um assassino que por sete anos caçou crianças em cidades do Peru, Equador e Colômbia. Todas as vítimas eram moradoras de comunidades pobres nas quais a polícia era sucateada e apenas os crimes envolvendo as classes mais altas eram prioridades.
O livro em sua materialidade
Serial Killers: A Anatomia do Mal é um livro repleto de marcações em amarelo que simulam os destaques com marcadores de textos.
Além disso, no decorrer dos capítulos, existe um paratexto intitulado “estudo de caso”, com imagens que ilustram e biografam alguns criminosos, trazendo sua datas de nascimento e morte, da mesma forma que as técnicas usadas em suas atrocidades.
Em suas páginas, encontramos as ilustrações de praxe dos títulos da Darkflix, sendo as desse título de livros de anatomia. De maneira idêntica, aparecem cópias dos trechos de jornais, imagens de TV, cartas e bilhetes referentes aos casos. Além disso, ao fim de cada capítulo há uma lista de referência, contendo outros livros sobre o assunto.
Em suma, essa pode ser uma leitura intensa, mas didática sobre o tema.
Título no Brasil: Serial Killers – Anatomia Do Mal
Autor: Harold Schechter
Tradução: Lucas Magdiel
Gênero: Relatos Policiais
Primeira publicação: 2003
Edição brasileira: DarkSide Books
Número de páginas: 480
Idioma: Português
ISBN: 978-85-666-3612-3
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