Era uma vez um gênio destacada

Era Uma Vez Um Gênio

Última atualização: 01/09/2022

George Miller é um grande contador de histórias. Seja ela um drama familiar intenso como O Óleo de Lorenzo; uma distopia tomada pela seca, crise de abastecimento e despotismo como na franquia Mad Max; ou até mesmo em uma animação sobre pinguins imperiais, Happy Feet, para falar com as crianças sobre empatia com quem é diferente. Em sua nova produção sobre amor e solidão, Era Uma Vez Um Gênio, Miller abusa da magia existente no ato de contar histórias.

Era uma vez um gênio

As Mil e uma Noites em um dia

Aletheia (Tilda Swinton) dedicou sua vida aos estudos, sobretudo das narrativas na história. Conforme os anos foram passando, a professora cada vez mais imergiu em suas pesquisas. Dessa maneira, ela se tornou uma pessoa solitária. Em uma viagem, Aletheia se depara com uma encantadora garrafa antiga que guarda um segredo.

Deste ponto em diante, passaremos dois terços do filme em um quarto, com Aletheia e o Djinn/Gênio (Idris Elba) como Sheherazade e Shariar, em As Mil e Uma Noites. Miller se desloca do lugar de artesania prática dos efeitos que tanto vimos em seus filmes e mergulha no efeito digital. Mas sem perder seu brilho.

Era Uma Vez Um Gênio é uma história sobre contar histórias. Os flashbacks no filme não são apenas memórias apresentadas ao espectador para criar uma linha de raciocínio lógica sobre o que acontece, acontecerá ou mesmo deixou de acontecer no filme. Eles são as histórias de Aletheia e Djinn, são as histórias de povos há muito esquecidos, bem como a história não contada de desconhecidos.

Assim sendo, como nas noites árabes, a magia reside na manipulação das palavras.

Era uma vez um gênio

Contadores de histórias

A. S. Byatt, escritora do conto em que o filme se baseia, domina as palavras. Miller, de maneira semelhante, as imagens.

Ela não era nenhuma meddah (contadora e interprete de histórias), contando histórias incríveis na corte Otomana ou nos cafés perto do mercado. Ela era apenas uma narratóloga, um ser de ordem secundária, cujos dias eram passados ​​encurvada em grandes bibliotecas, adivinhando, interpretando, decidindo os contos de fadas da infância e os cartazes de vodka do mundo adulto, os intermináveis ​​romances do café dourado – bebedores, e os casais impedidos de médicos e enfermeiras, duques e pobres donzelas, mulheres a cavalo e músicos. Às vezes, também, ela voava. Em sua juventude pobre, ela supunha que a bolsa de estudos era seca, empoeirada e estática, mas agora sabia melhor. Duas ou três vezes por ano, voava para cidades estranhas, para a China, México e Japão, para a Transilvânia, Bogotá e os Mares do Sul, onde narratologistas se reuniam como estorninhos, num parlamento de aves sábias, contando histórias sobre histórias. (The Djinn In The Nightingale’s Eye: Five Fairy Stories, Byatt, A S – tradução minha)

Para dar vida a um gênio milenar, o diretor de um filme precisa ser criativo. Ao lidar com um texto descritivo de lugares e pessoas, mais ainda, já que as palavras precisam ser transformadas em uma sequência de imagens.

A fotografia de John Seale, junto à direção de arte de Nicolas Dare, possibilita a ludicidade do caminho feito ou pelos séculos passados ou pelo tempo presente. Não vou nem entrar em detalhes sobre figurino e design de som, que trazem sensações e texturas a imagens digitais que poderiam parecer muito artificiais.

Era uma vez um gênio

Entretanto, falta algo ao falar de amor. O sentimento que se constrói entre o casal parece genuíno, pois ambos se encontram e encontram um ao outro em suas solidões. Mas, ao ilustrar os caminhos de amores e desamores vividos por eles em seus passados, a intensidade dessa obsessão que existe neles parece se esvair.

Ainda assim, é impossível não se encantar com as escolhas de Miller para traduzir na linguagem cinematográfica as palavras de Byatt. Ele brinca com a estrutura capitular da literatura, apresenta os textos por meio de dois pontos de vista, ao intercalar narradores e se embrenha na literatura oral e escrita para contar uma fábula moderna.


Ficha Técnica
era uma vez um gênio pôster
Three Thousand Years of Longing (2022) – Austrália e Estados Unidos
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller, Augusta Gore
Edição: Margaret Sixel
Fotografia: John Seale
Design de Produção: Roger Ford
Trilha Sonora: Junkie XL
Elenco: Tilda Swinton, Idris Elba, Pia Thunderbolt, Berk Ozturk, Anthony Moisset, Alyla Browne

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