arte decolonialista

Para entender a arte decolonialista

Última atualização: 08/03/2021

Em quatro anos de formação em Artes (entre 2003-2007) vivenciei a experiência de aprender sobre artes plásticas/visuais, contudo os conteúdos pelos quais os estudos estéticos e históricos eram pensados partiam das narrativas coloniais. A formação do olhar para as artes visuais, pictóricas ou escultóricas, analógicas ou digitais, e até mesmo performáticas, ainda parte de conceituações de belo provenientes de uma ideia de universalidade que nasce na hegemonia masculina, eurocentrada e cisnormativa. Faltou uma visão de arte decolonialista à minha formação.

Anos após a formação e em busca de aspectos singulares para orientar minha produção intelectual e artística, pesquiso por ferramentas que me permitam conhecer a arte a partir de outro ponto de vista. Eventualmente me encontrei com estudos decoloniais que se deslocam das formas hegemônicas. Ademais conceituam o lugar, antes marcado pela subalternidade, como marco de produção de saberes, poderes e seres mudando os padrões de concepção de mundo.

Assim, povos subalternizados deixam de ser objeto das narrativas e passam a agenciá-las, a partir de seus termos e valores. Para pensar a arte de maneira decolonialista, enumero abaixo cinco artistas mulheres que produzem a partir de diálogos com outros ideais de beleza e valores.

Lina Iris Viktor

arte decolonialista lina iris viktor

Artista conceitual, pintora e performer liberiana-britânica, Lina Iris Viktor vive e trabalha itinerantemente entre Nova York e Londres. A artista é formada em Cinema pelo Sarah Lawrence College e em Fotografia pela Escola de Artes Visuais de Nova York, além de estudos iniciais em artes performáticas.

Seu trabalho tem abordagem multidisciplinar, uma vez que mescla características e técnicas pertencentes a formas de arte contemporâneas e antigas. Fundindo pintura, escultura, performance e fotografia, a artista cria telas com elementos alinhados e sobrepostos, bem como formas geométricas e humanas misturadas em ambientes escuros, balanceados com camadas de luz.

Desse modo, suas obras abordam as relações com o tempo e o espaço, tratando de relações de oposição como o infinito e o finito, a imortalidade e a mortalidade, o microcosmo e o macrocosmo. Sua produção é importante para pensar a arte de maneira decolonialista por abordar também os preconceitos sócio-políticos e históricos em torno da “negritude” e suas implicações universais. Em cada uma de suas peças, ela insere elementos de uma mitologia própria, criada para ser o meio de reflexão acerca dos questionamentos que Viktor pretende propor.

Heloísa Hariadne

heloisa hariadne

Heloísa Hariadne é artista multidisciplinar que tem se dedicado à pintura nos últimos tempos. Segunda a artista, seu trabalho está profundamente ligado à sua pessoa, e este diz muito sobre quem ela é e sobre o lugar que ela ocupa a partir das narrativas retratadas. Sua pintura dá forma aos seus sentimentos, transformando contextos vividos, ou não, em manifestação material das formas que Hariadne se imagina ou imaginou.

Ainda que pinte em tela, a artista aponta que seu primeiro suporte é o o corpo, pois sua inspiração e motivação partem de um lugar muito pessoal: sua mente, seus pensamentos e suas vontades. Aplicar esses elementos em tela são uma forma de ampliar a visão que ela tem sobre seu ser e suas relações com o meio em que vive.

Para Hariadne, produzir arte é produzir vida, falar sobre a sua vida e sobre a vida de terceiros. Desta forma, sendo sempre uma reflexão das relações entre relações individuais, mas também coletivas.

Idylla Silmarovi

arte decolonialista idylla silmarovi

Idylla Silmarovi é artista da cena, dramaturga e pesquisadora. Atualmente, é mestranda do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas no Instituto de Filosofia, Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto. Formou-se no curso de licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Minas Gerais e no Centro Técnico Teatro Universitário. Sua pesquisa é voltada para as interseções entre a arte e o ativismo dentro das artes cênicas. De fato, sua produção pensa a arte de maneira decolonialista, pois atravessa os debates de gêneros, sexualidades e estudos culturais latino-americanos.

Em virtude dessa pesquisa sobre latinidade, sua performance mais recente, intitulada Monumento à guerrilheira questiona “Para quem são erguidas estátuas na cidade?”

 

View this post on Instagram

 

A post shared by Idylla Silmarovi (@idylla_silmarovi)

A produção consiste em uma performance descrita pela artista como “uma infiltração no cotidiano, ação efêmera de resgate da nossa história, para que possamos aprender com as que vieram antes de nós. Uma estátua-viva, porque nós estamos vivas, sendo semente de cada uma de outras e de tantas mulheres. Manifesto anticolonial em legitima defesa.” O trabalho compõe seu projeto de pesquisa artística intitulado E.C.O.S. – experimentos cênicos de orientação sudaka.

Silmarovi trabalha, além disso, em parceria com diversos coletivos de teatro como Toda Deseo, Bacurinhas e Academia Transliterária.

Criola

arte decolonialista criola

Criola tem como motivação ter voz e dar voz às mulheres em uma sociedade racista e machista. Por meio de sua obra, a grafiteira tem o intuito de propôr questionamentos que conscientizem seu poder. Sua grandes pinturas possuem uma mensagem impactante, são visualmente chamativas e coloridas, repletas de simbolismos. Assim, o suporte usado são os muros e suas reflexões pautadas em sua vivência como mulher negra, somada às vivências de sua ancestralidade feminina.

A artista vem sendo muito falada, pois um mural de 1365 m² na empena do edifício Chiquito Lopes, em Belo Horiozonte, esta em disputa judicial. Trata-se de Híbrida Astral – Guardiã Brasileira (2018), durante uma das edições do Circuito Urbano de Arte de Belo Horizonte (CURA). Um dos moradores do prédio é contrário à pintura e, desde sua produção, exige o apagamento da mesma.

Nina Satie

nina satie

Nina é Artista Plástica, Ilustradora, Grafiteira e Designer. Ainda que com apenas 25 anos, a paulistana já trabalha com mídias tradicionais como pintura em acrílica sobre tela.

Em sua obras, evoca principalmente “o feminino, o místico, o metafísico e quimérico, como uma alegoria, uma forma de escapismo de tensões psicológicas e emocionais. São catalizadores das minhas vivências, como mulher negra, cartografias dos meus anseios, inquietações e desejos.” conta em entrevista para o Delas por Elas.

Para pensar a arte de maneira decolonialista

A arte como um sistema cultural. Clifford Geertz. Disponível aqui.

Arte decolonial: para começar a falar do assunto ou aprendendo a andar para dançar. João do Amaral. Agosto/2017. Disponível aqui.

La opción descolonial. Walter D. Mignolo. Disponível aqui.

Publicado Por

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *