Casa Izabel destacada

Casa Izabel

Última atualização: 17/06/2023

O 12° Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba começou no dia 14 e o filme de abertura, exibido na Opera de Arame, foi Casa Izabel, de Gil Baroni. O local de exibição é sem dúvidas uma das construções mais belas e interessantes que vi na cidade e, apesar do frio intenso, foi uma ótima escolha para o início do festival. 

O filme do diretor de Alice Junior (corram pra assistir, está na Netflix) acompanhado de uma equipe majoritariamente curitibana narra a história de homens crossdressers, convivendo em uma casa isolada, durante o início dos anos 1970. Casa Izabel, uma casa grande um ambiente que parou no tempo. O lugar guarda segredos e histórias que atravessam assuntos espinhosos da história do Brasil: o passado colonial e suas consequências, bem como a ditadura militar nos anos 1970.

Os mistérios presentes na Casa Izabel 

A direção de Barone delineia a tensão existente entre a casa e os corpos que a habitam. Sobretudo os mistérios que envolvem cada um dos moradores, principalmente medos e paranoias que cada um guarda. O grupo de crossdressers, homens de alta classe, que visita o espaço durante o fim de semana. Ali eles criam fantasias pomposas sobre serem mulheres e as simulam naqueles dias. Distantes de suas realidades tudo é permitido. Podemos assim, observar nas personagens uma diversidade de questões que tangem o desejo, o fetiche e a orientação sexual de cada uma delas. 

A produção que inicialmente tem o ritmo mais lento, se torna uma poderosa massa aflitiva a medida que descobrimos o que se passa nos cômodos para além das salas de jantar ou de piano. Luis Melo, interpreta Izabel, proprietária da casa, força motora daquele grupo e representação ultrapassada da princesa ‘redentora’. Sua primeira aparição, deitada na cama de forma desengonçada, mas ainda assim autoritária complementa a certeza de que por mais que aquele ambiente seja um refúgio para pessoas incomprendidades pela sociedade, nem todas as que estão ali presente terão o mesmo tratamento.

 

Casa grande  e senzala

No momento em que as frequentadoras antigas e a novata se encontram a mesa, discutindo sobre quem são – neste lugar imaginário e não no real -, podemos observar como Leila, a única pessoa negra presente (Jorge Melo), é a que não tem uma ‘história de mulher’ sendo discutida. Curiosamente, nessa mesma sequência, essa personagem passa por todos os presentes à mesa carregando uma panela de guisado e simula estar servido ao coletivo. Mas, serve a si mesma, sentando à cabeceira. O gesto afirma a posição do jovem perante àqueles conservadores que até em suas fantasia mantém seus privilégios. E tudo isso em um ambiente com arquitetura e mobília que transparecem cheiro e textura de poeira, umidade e decadência. 

Entretanto, a medida que se desenvolve, o filme parece querer discutir muitas questões se perdendo infelizmente no excesso de subtraia para se desenvolver. Ainda assim, a direção firme e bem direcionada nos proporciona belos momentos gráficos. Principalmente naqueles momentos em que a lente se posiciona olho no olho com o elenco que está confortável e intenso em cena. Casa Izabel tem em sua primeira e em sua última mirada uma rima que acena para Olho de Tigre, do rapper Djonga.

Acompanhe a cobertura do 12° Olhar de Cinema aqui.

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