máscaras teatro

Cinco peças para celebrar o Dia Mundial do Teatro

Última atualização: 27/03/2021

Hoje é o dia mundial do Teatro. Isso significa que é hoje que celebraremos os palcos no mundo todo; mas não no universo. A celebração universal aconteceu no dia 21 de março. Se você deixou passar, sinto muito, perdeu ótimas peças em Marte e Júpiter. Mas não se atormente: dá tempo de comemorar o dia nacional do Teatro, que acontecerá no dia 19 de setembro (para não esquecer, desenhe uma máscara grega no seu calendário). Bom, vamos lá, você já esperou o suficiente, é hora de iniciar as comemorações.

Esperando Godot (Samuel Beckett)

É, eu falei que a espera tinha sido o suficiente, mas se prepare para aguardar um pouco mais. Em Esperando Godot o ponto é a própria espera, e não acontece muita coisa além disso. Assim como os personagens, o público também passa o tempo esperando a aparição do misterioso Godot. Honestamente, de todos os itens da lista, talvez esta peça de Beckett seja a mais difícil de gostar.

Esperando Godot, encenação de 1978

Porque, assim como SeinfeldEsperando Godot é sobre o nada. Ou, melhor que o nada, a espera, que é o nada olhando para o futuro. É claro que isso não significa que nada, nada mesmo, aconteça. Há alguns personagens que cruzam o caminho dos esperadores (e dos espectadores). O problema é que a espera tem sempre um objetivo: se espera algo, alguém, uma coisa ou pessoa definida. E todo o resto que acontece? Não é o suficiente. Porque a espera é por Godot. E, se ele não aparece, nada acontece.

Casa de Bonecas (Henrik Ibsen)

A data de publicação não é uma informação importante para os itens dessa lista, com exceção deste. Antes de ler Casa de Bonecas, é legal que você saiba que a peça foi escrita em 1878. É legal porque, assim, a história de Nora Helmer, a protagonista, vai ficar mais impressionante. Impressionante por dois motivos. O primeiro: você vai se chocar com quão revolucionária a peça foi, para a época. O segundo: você vai se chocar com quão atual a história permanece.

Teatro de A Casa de Bonecas (2019)

Se você gosta de filmes como Quem tem Medo de Virginia Woolf (1966), ou tem um carinho especial pela trajetória de Betty, em Mad Men, pode ler Casa de Bonecas sem medo de ser feliz. Ou, de ser triste. De novo, vai depender de como você olha para a data de finalização da peça. Você pode ficar feliz por uma história como a de Nora, tão sutil, ter sido concebida em 1878. Ou, triste porque ela continua acontecendo em 2021.

O Beijo no Asfalto (Nelson Rodrigues)

Tem uma versão de O Beijo no Asfalto, dirigida por Murilo Benício, que traz uma questão interessante sobre o teatro. No filme, há um momento em que o ‘por trás das câmeras’ é revelado, com os atores encenando e discutindo suas falas. Penso que talvez seja este o elemento definidor do teatro, a existência de um ‘por trás de’, do qual não nos esquecemos. No cinema, o objetivo é justamente nos fazer esquecer que existe algo por trás da fantasia: a tela está sempre cheia de imagens, e nunca é transparente.

Teatro o Beijo no Asfalto

No teatro, é diferente. O elenco vem e vai, o cenário também. Há uma encenação, que acontece na nossa frente, mas que em algum momento vai para o ‘lado de trás’, e é substituída por outra. E, se é para falar de camadas, de coisas que existem no subterrâneo, poucas obras são melhores que O Beijo nos Asfalto. Já disse isso em Casa de Bonecas, mas aqui eu repito: é uma pena que certas coisas continuem atuais.

O Santo e a Porca (Ariano Suassuna)

Eu sei o que você pode estar pensando. Por que O Santo e a Porca, e não O Auto da Compadecida? É para seguir com meu compromisso de honestidade que te respondo: eu ainda não li O Auto da Compadecida, só assisti ao filme. E o filme, por mais que seja excelente, vai ser sempre diferente da peça – e mais diferente ainda do livro de transcrição da peça. Afinal, pense comigo: uma versão encenada de Star Wars com certeza teria menos sabres de luzes. E o roteiro, por sua vez, tem menos ainda.

O santo e a porca

E não se engane: escrever um texto engraçado é tão difícil quanto escrever uma fantasia. Porque, com exceção do S, que tem um ondulado cômico, letras não são engraçadas. Vá lá, elas podem evocar imagens, mas evocar é diferente de mostrar; para evocar algo, é preciso contar com alguma colaboração de quem lê. Colaboração que Suassuna consegue, não só em O Santo e a Porca, mas em tudo que ele escreve. Porque, se tem uma coisa que é inegável, é que o cara tem jeito com as palavras. Não acredita? Então clique aqui e veja.

Hamlet (Shakespeare)

Tem um momento de Hamlet em que o princípe Hamlet conversa com Polônio, e fala que ele só gosta de “uma história bufa ou de putaria”. É sério, isso está mesmo em Hamlet. Por mais que Shakespeare pareça distante, tenho certeza de que você vai encontrar muita coisa familiar em suas peças. Não é só porque elas já foram readaptadas incontáveis vezes. É também porque há momentos engraçados, muita fofoca e intrigas de família (como a novela Amor de Mãe). Acredito que, buscando essa familiariedade, fica mais fácil de ler os clássicos.

Hamlet pintura de cena

Porque aí eles não parecem tããão clássicos, no sentido de obras distantes, de um tempo remoto, que permaneceram as mesmas enquanto o tempo corria. E, se é para falar de facilidade, recomendo ainda um texto específico: a tradução da Editora Penguin, feita por Lawrence Flores Pereira (não é patrocínio, mas queria que fosse). Pra finalizar, recomendo ainda um texto de apoio, do sábio Seu Madruga: “a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”. Não tenha medo. Leia, e procure Chakespeare em Chaves, ou Chaves em Shakespeare. Tenho certeza de que vai encontrar.

Publicado Por

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *