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Pérolas da Amazon Prime

Última atualização: 27/02/2021

O Longa História já ofereceu duas listas, esta e esta, de pérolas escondidas entre os filmes da plataforma Netflix. Mas há outros trabalhos muito interessantes em outra plataforma igualmente popular: a Amazon Prime.

Assim, os cinéfilos que têm dificuldades para encontrar filmes bacanas na Amazon Prime podem contar com a gente para usufruir de obras de Arte maravilhosas.

Sendo assim, queridos, vamos pescar?

1. Bagdad Café, de Percy Adlon (1987)

O alemão Percy Adlon fez as malas e foi para os Estados Unidos junto com sua musa Marianne Sägebrecht para enfeitar o deserto do Arizona com mágica, música e beleza. Abandonada pelo marido numa estrada vazia com sua bagagem enorme, Jasmin (Sägebrecht) se hospeda no motel-café que dá nome ao filme. Ao longo dos dias, Jasmin e a proprietária Brenda (CCH Pounder), também com suas dores, desenvolvem uma amizade com aprendizados e descobertas para as duas.

bagdad café

Bagdad Café mostra que, já na década de oitenta, a sororidade estava sendo pensada como tema de filmes – a obra é anterior a Thelma e Louise, de Ridley Scott (1991), outro marco do cinema de temática feminina. Solidárias, Jasmin e Brenda reconhecem logo que respeito, assim como afeto, coragem e confiança entre as mulheres que trabalham juntas são sentimentos e atitudes fundamentais para uma vida independente e plena.

2. Projeto Flórida, de Sean Baker (2017)

Considero Projeto Flórida o melhor filme da década de 2010. É importante demais que uma obra de Arte dessa envergadura esteja disponível numa plataforma popular como a Amazon Prime. Antes de mais nada, o diretor Sean Baker desafia as ideologias estadunidenses sobre o chamado american dream, desmascarando sua gigantesca falácia. Além disso, apresenta ao mundo a classe média deslumbrada brasileira, numa cena inesquecível.

projeto florida

Igualmente, ao contar uma história de amor maternal e entrega incondicional, Baker é ousado ao se recusar a atender aos modelos sociais convencionais de maternidade. Com isso, convida-nos a reconstruirmos valores humanos para reconhecer a grandiosidade dos personagens de seu filme. Essas duas ousadias, por certo, afastaram Projeto Flórida de prêmios destinados a obras comerciais e ligadas a grandes conglomerados de mídia. Mas o filme ficará para o futuro como obra-prima do cinema estadunidense independente.

3. Ponto Cego, de Carlos Lopez Estrada (2018)

Outro filme ousado no catálogo da Amazon Prime, mas agora a questão é de estrutura narrativa. A ideia é a de mostrar ao público o máximo de informações acerca da vida de um homem negro e pobre nos Estados Unidos da contemporaneidade. Mas, com tantos elementos a compor esse quadro na vida “real”, o resultado poderia ser uma colcha de retalhos muito mal costurada.

ponto cego blindspotting

Mas a brilhante escolha de Lopez Estrada e dos roteiristas Rafael Casal e Daveed Diggs (também atuando nos papéis principais) foi a de desenvolver esses elementos numa linha temporal. Assim, os três dias finais de liberdade condicional do jovem Collin (Diggs) concentram todas as tensões de raça, classe e gênero do cotidiano de uma larga parcela da sociedade estadunidense. O primor estrutural de Ponto Cego contribui para que os cinéfilos compreendam mais as formas de pensar e realizar um filme, para muito além de entender a história contada.

4. A vida dos outros, de Florian Henckel von Donnersmarck (2006)

Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro de 2007, essa obra da Alemanha alcança o equilíbrio perfeito entre uma perspectiva macrossocial, no caso, o contexto da Guerra Fria na Alemanha, e os sentimentos mais íntimos das pessoas. Dessa forma, numa Alemanha Oriental dominada pela paranoia, Gerd Wiesler (Ulrich Mühe) é incumbido de ouvir as conversas particulares entre o diretor de teatro Georg Dreyman (Sebastian Koch) e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck).

a vida dos outros

O vazio existencial de Wiesler é aos poucos preenchido pelas questões, diálogos e afetos do casal. As transformações pessoais pelas quais o personagem passa com isso se articulam às crises de Dreyman e Sieland causadas pelas imensas dificuldades de fazer arte num regime totalitário. Por isso, mesmo anos antes da popularização das redes sociais, A vida dos outros mostra como a distância física não impede que muitas pessoas se afetem intensamente com outras.

5. O segredo dos seus olhos, de Juan José Campanella (2010)

Uma das realizações mais representativas do excelente cinema argentino, e Oscar de filme estrangeiro de 2011. Como se isso não bastasse, oferece um desempenho brilhante do ator mais festejado da Província do Rio da Prata: Ricardo Darín, em mais uma parceria com Campanella após Clube da Lua, O mesmo sol, a mesma chuva e O filho da noiva.

o segredo dos seus olhos ricardo darin

Assim como em A vida dos outros, dramas pessoais se misturam à história de um país que precisa elaborar seu período ditatorial. Eventos aparentemente díspares vão se conectando ao longo do filme, e em torno do funcionário público Benjamín Esposito (Darín). Esse processo de conexão acelera a pulsação do espectador, em direção a um desfecho extraordinário. De brinde, o plano-sequência mais argentino possível. Para nós, brasileiros, fica do filme uma lição impactante sobre as consequências da negação do passado de opressão e do oportunista revisionismo histórico.

6. A vastidão da noite, de Andrew Patterson (2020)

Um beleza de filme, em termos técnicos e estéticos. É uma homenagem de Andrew Patterson à série televisiva Além da imaginação, da década de 50. Com orçamento baixíssimo e criatividade gigantesca, Patterson constrói uma história em tempo real sobre eventos extraordinários em uma pequena cidade e ainda consegue nos fazer pensar sobre a sociedade estadunidense.

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É melhor dizer pouco sobre esse filme, porque seu grande segredo está na cumplicidade com o espectador, e na confiança de que sabemos sobre Cinema e narrativas fantásticas o suficiente para sermos colaboradores, quase co-roteiristas, do filme. Patterson explora com maestria nosso conhecimento sobre o tipo de ficção que abraça em A vastidão da noite. Com isso, entrega imagens e sobretudo sons que nunca dizem tudo, e conta com nossa capacidade de preencher os espaços vazios para nos manter atentos e extasiados do primeiro ao último minuto de filme, como só as grandes obras de mistério sabem fazer.

7. A maratona de Brittany, de Paul Downs Colaizzo (2019)

O Cinema estadunidense produz uma infinidade de obras relacionadas a toda forma de superação humana. Qualquer desafio pessoal, profissional e amoroso pode se transformar numa “Sessão da Tarde” que será esquecida cinco minutos depois. Parece que existe uma grande máquina de filmes voltados a nos fazer sentir bem por algum tempo. Mas as ideias que eles reúnem nunca passam do trivial.

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Nem tudo isso se pode dizer sobre A maratona de Brittany. É um filme que vai fazer o espectador se sentir bem ao final. Mas nele há elementos que o destacam da massa de trabalhos que não se distinguem entre si. A prática do exercício físico vai apresentando Brittany (Jillian Bell) a relacionamentos, sentimentos e raciocínios que nunca havia vivido antes. Ao fim, percebemos que o termo “maratona” não se aplica apenas à atividade física, mas também a planejamentos de vida a longo prazo, a negociações com esse tempo e à diversão que há em concretizar cada plano.

8. Entre facas e segredos, de Rian Johnson (2019)

Rian Johnson dirigiu filmes muito legais, como A ponta do crime (2006) e Looper (2012), e também alguns episódios do cultuado Breaking Bad. Mas explodiu para o mundo com o maravilhoso Star Wars – Os últimos Jedi (2017). É claro que era grande a expectativa de seu filme seguinte, para os antigos e novos fãs. Entre facas e segredos está num universo bastante diferente do ocupado pelo blockbuster Star Wars. Mas isso não nos deixa em nada decepcionados.

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Johnson embarca junto com um elenco soberbo em um projeto que homenageia obras do gênero who-done-it (“quem-fez-isso”), popularizado por Agatha Christie: um assassinato com muitos suspeitos e muitas reviravoltas, e um detetive peculiar (Daniel Craig completamente à vontade) para resolver o mistério. Em especial, percebermos no filme uma sátira anti-Trump: enquanto acompanhamos as idas e vindas do enredo que nos exigem atenção total, observamos, nas falas e ações dos personagens, o ranço dos estadunidenses privilegiados metidos a besta e agarrados aos seus privilégios.

9. Time, de Garrett Bradley (2020)

Esse documentário estadunidense traz uma ideia interessante: mostrar como é a vida das pessoas das famílias dos que estão cumprindo pena nos sistemas carcerários. Essa mudança de ponto de vista em obras de temática legal já foi realizada com maestria em obras de ficção como Loving, De Mike Nichols (2016). Em Time, Sybil Richardson e seus seis filhos esperam e trabalham pela libertação do marido e pai Robert, condenado a 60 anos de prisão por roubo (sentença excessivamente pesada, tendo em vista a jurisprudência).

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Vídeos caseiros dispostos fora de ordem cronológica crescem em intensidade à medida que conhecemos a história de Sybil e Robert. Compreendemos que quem ama alguém que está cumprindo pena também está encarcerado, com a vida em suspenso, como se o tempo parasse. Testemunhamos Sybil mantendo-se emocional e mentalmente íntegra, à moda estadunidense. Mas esse tom intimista não nos deixa esquecer que estamos diante de um poderoso documento sobre uma sociedade em que a escravidão nunca acabou de fato.

10. Pássaros de verão, de Ciro Guerra e Cristina Gallego (2018)

A última pérola da Amazon Prime é um maravilhoso filme colombiano, um primor de imagens belíssimas e significados complexos. Por meio dele, conhecemos um pouco mais sobre a história da América Latina e sobre como o tráfico de drogas é capaz de impregnar e esvaziar tradições culturais e modos centenários de viver. E, ainda, obtemos insights sobre as relações entre o capitalismo e o patriarcado, que são objeto de estudo das ciências sociais.

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Conhecemos a impressionante Península de La Guajira, ao norte da Colômbia. Lá, nos familiarizamos com uma comunidade que vivia da produção do látex e era liderada por mulheres com vontade e potência respeitadas pelos homens. A delicadeza das relações e do modo de vida tradicional e matriarcal é rapidamente afetada e atravessada pelo dinheiro provindo do tráfico de drogas – algo que de certa forma sugere uma inveja masculina de um poder feminino que não é imposto pelas armas e pela truculência.

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