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Dez personagens icônicas de jogos maravilhosos

Última atualização: 08/03/2021

Nesta lista, me comprometi a listar dez personagens femininas icônicas de dez jogos diferentes. Alguns jogos até mereciam ter mais de uma personagem no pódio (o primeiro lugar é um ótimo exemplo disso), mas regra é regra, jogo é jogo, treino é treino. Além disso, acho que é importante dizer que fiz esta lista com três objetivos em mente. O primeiro foi o de celebrar personagens que, apesar de já serem bem conhecidas, devem sempre ser lembradas. O segundo, divulgar as que não são tão conhecidas, mas certamente deveriam ser. O terceiro, e mais importante, foi o de expressar uma crença que norteia todas as minhas comemorações para esse dia: ‘mulher’ é uma palavra que tem vários significados, e nunca deve ser resumida a uma coisa só. No mais, feliz dia!

10 – Dixie Kong (Donkey Kong Country 2 – 1995)

Se a banda Kid Abelha jogasse Donkey Kong Country 2, tenho certeza de que ela seria conquistada pelos solos de guitarra de Dixie Kong. O som da sua guitarrinha se tornou um símbolo de conquista, mais valioso ainda depois de uma fase difícil. No jogo, Dixie se aventura ao lado de Diddy Kong que, apesar de ter o mesmo sobrenome, é seu namorado, e não seu irmão (talvez os Kongs sejam os Lannisters dos videogames). Depois disso, Dixie foi protagonista de Donkey Kong Country 3, dessa vez em companhia do seu primo, Kiddie Kong.

Dixie Kong

Honestamente, não há muito que se falar sobre a série Donkey Kong; é difícil achar uma lista que não inclua seus jogos entre os melhores do Super Nintendo (digo difícil porque talvez não tenha pesquisado o suficiente para dizer impossível). Dixie é uma parte essencial disso: a sua mecânica do cabelo giratório, que nasceu em Donkey Kong Country 2, é repetida até hoje (mais recentemente, em Donkey Kong Country Tropical Freeze). Uma coisa é certa: se você nunca jogou Donkey Kong Country 2, jogue. Se você já jogou, jogue de novo. Seja feliz!

9 – Samus Aran (Metroid – 1986)

Você sabia que o nome de Samus Aran vem de Edson Arantes, o Pelé? Eu descobri isso assistindo a este vídeo, do canal Meteoro Brasil. Além da curiosidade interessante, o vídeo também resume a minha principal questão com Samus. Quando estreou, Samus era, na maior parte do tempo, só uma armadura. Entretanto, a depender da velocidade com que você terminasse o jogo, a personagem ia se despindo até ficar só de biquíni, como um prêmio para quem zerasse em menos de uma hora. Despida, Samus finalmente se torna uma mulher. E, para isso, ela precisa mostrar o seu corpo, como se ‘ser mulher’ fosse uma condição invariavelmente ligada a um corpo tido como feminino.

Samus Aran

Por outro lado, esses finais eram inacessíveis para a maior parte dos jogadores. Sem eles, não era possível saber que Samus era uma mulher; ela era só uma pessoa em uma armadura, provavelmente presumida como um homem. Há algo de inovador nisso porque, embora Samus seja despida ao final, ela passa a maior parte do tempo vestida. Usando uma armadura, atirando em todo tipo de alienígena, sem que ser mulher seja uma questão. Na maior parte do tempo, Metroid (e seu sucessor mais famoso, Super Metroid) ignora que Samus é uma mulher. Eu sinto que isso é um acerto. Porque Samus é, de fato, melhor definida pela sua armadura que pelo seu gênero.

8 – Aya Brea (Parasite Eve – 1998)

Se você não conhece Parasite Eve, sugiro que assista a esta cena, antes mesmo de ler meu comentário. É uma cena poderosa, como só Shakespeare em polígonos consegue ser. A introdução de Parasite Eve consegue apresentar a dificuldade do jogo com muita eficiência. Porque, não se engane, é um jogo difícil. Não falo isso para te intimidar; pelo contrário, é difícil mas você consegue! Você é Aya Brea, uma policial poderosa que consegue derrotar a mitocôndria. Sim, você leu isso mesmo. A trama do jogo envolve mitocôndrias (e consegue ser muito boa).

Aya Brea Parasite Eve

A dificuldade de Parasite Eve me lembra do filme O Silêncio dos Inocentes. Encaro Aya como a Clarice Sterling dos videogames: uma policial inteligente e dedicada que enfrenta uma força poderosa. Acompanhadas de Molly Solverson, as três poderiam se unir em um trio de policiais inteligentes, corajosas e destemidas. E o melhor é que Aya Brea está em um videogame, você pode se transformar nela enquanto joga.

E de uma coisa eu tenho certeza: quando você terminar Parasite Eve, vai realmente se sentir como uma policial bem-sucedida, que solucionou um caso tão difícil quanto estimulante.

7 – Jade (Beyond Good and Evil – 2003)

A jornalista de cabelo curtinho e batom verde chamada Jade é a protagonista de Beyond Good and Evil, jogo lançado em 2003 que deveria receber mais atenção. O título do jogo vem de um livro do filósofo Friedrich Nietzsche, o que combina com a sua carga política. Além do título provocante, a cena introdutória também consegue estabelecer bem as suas intenções: um dos temas discutidos é a influência que as mídias exercem sobre a opinião pública; apropriadamente, o jogo começa com um noticiário.

Jade Beyond Good and Evil

Infelizmente, Beyond Good and Evil sofreu com alguns problemas de desempenho, especialmente na versão lançada para o Playstation 2, o que atrapalhou a sua comercialização. Hoje, há uma versão para computador disponível na Steam, que conta com a estabilidade que já deveria ter existido no lançamento. Assim, não há momento melhor para conhecer Jade e ajudá-la a descobrir o que há além do bem e do mal.

6 – Abigail (Stardew Valley – 2016)

Stardew Valley é um jogo cheio de personalidades incríveis. Com isso, não quero dizer que o jogo é cheio de pessoas boas, perfeitas, admiráveis. Quero dizer que o jogo é cheio de, bom, pessoas, com suas personalidades, defeitos e histórias. Já falei sobre tudo isso neste texto, e, agora, quero finalmente focar em Abigail. Ela é uma das integrantes daquela comunidade, e uma das personagens com quem é possível se casar. Mas não só isso: ela é frequentemente apontada como a melhor escolha para um casamento.

Abigail Stardew Valley

Eu não quero, com isso, resumir Abigail a uma esposa em potencial. No jogo, isso é uma parte muito pequena de tudo que ela é. Ela é uma pessoa que adora jogar videogames (seu quarto tem um pôster de Chrono Trigger), tocar flauta, olhar a chuva e comer pudim de banana (ou bolo de chocolate). Assim como todos os outros habitantes da cidade, ela é uma pessoa completa. A sua diferença é que os seus gostos tendem a refletir os de quem joga (como, por exemplo, videogames). Abigail é um ótimo exemplo de como incluir uma personagem feminina em um jogo que, de tão bacana, se torna naturalmente um interesse romântico; e não surge assim só por ser mulher.

5 – Madeline (Celeste – 2018)

O objetivo de Celeste é ajudar Madeline, sua protagonista, a subir uma montanha. Essa montanha, na verdade, pode ter vários nomes; medo, angústia, insegurança… É isso que faz com que Celeste seja tão universal. Porque todo mundo tem a sua montanha; o seu desafio que parece imbatível, insuperável. E, apropriadamente, Celeste é um jogo difícil, mas também muito divertido. É muito comum se deparar com fases em que você pensa “não, nunca vou conseguir passar disso”. Mas não se preocupe, você vai conseguir sim. Porque a dificuldade de Celeste serve para te ensinar uma lição: não desistir.

Madeline Celeste

Não desistir de passar de uma fase, de pegar os morangos, de subir a montanha (mesmo que seja a sua montanha, personalizada). Não desistir, especialmente, de ser quem você é. Madeline é uma mulher trans, fato confirmado pela sua criadora, Maddy Thorson, em 2020. E isso adiciona mais uma camada de importância a Celeste, e a videogames de uma forma geral. Jogos são uma ferramenta de identificação poderosíssima, uma forma de colocar uma pessoa para percorrer uma jornada diferente, normalmente inacessível. Meu desejo é que essas jornadas fiquem mesmo cada vez mais diferentes. Porque talvez, e só talvez, a gente consiga levar um pouco de Madeline, de Celeste, para o mundo real. E entender melhor quem está ao nosso redor, e respeitar as suas montanhas.

4 – Samantha (Gone Home – 2013)

Gone Home é um jogo que é ainda melhor quando você joga sem saber muito sobre a história. Samantha, que entrou nessa lista, não é a personagem jogável de Gone Home. A gente joga com sua irmã, Katie, que acabou de chegar em casa depois de um intercâmbio. Não vou falar muito sobre a história porque, como já disse, é bom que você não saiba. Mas uma coisa que você pode saber é que o jogo é bem curtinho, dá para terminar em duas horas, e te garanto que vão ser duas horas extremamente interessantes.

Samantha Gone Home

Pra não te deixar sem nenhuma informação, vou comparar Gone Home a um filme. Se o jogo virasse filme, acho que ele viraria… As Diabólicas, de 1955, dirigido por Henri Clouzot. Não se preocupe, isso não vai te dizer nada sobre a história de Gone Home (nada mesmo). A comparação não surge de semelhanças na história das duas obras, mas do efeito que elas causaram em mim. Um sentimento de tensão e angústia, mas que é equilibrado por muita curiosidade. Curiosidade que me fez seguir em frente, chegar até o fim, e continuar carregando esse jogo comigo até hoje.

3 – GLaDOS (Portal – 2007)

Eu tenho certeza que uma inteligência artifical conta como uma boa personagem feminina. Essa certeza vem da quantidade de personagens que contam como masculinos, mas não são humanos. CrashRatchetSonicRayman são alguns exemplos disso. Até existem personagens femininas em alguns desses jogos, mas elas nunca assumem o protagonismo: são uma adição posterior a um universo de criaturas animalescas que nasceram masculinas. A inclusão de personagens femininas que são meras versões dos personagens masculinos é um problema recorrente nos videogames (para saber mais, recomendo este vídeo).

GLaDOS Portal

Por isso a importância de colocar GLaDOS nessa lista. Ela não se define por ser uma mulher; mas por ser uma inteligência artificial que, por acaso, tem uma voz feminina. Nos videogames, o papel das mulheres tem sido com frequência o de, primeiro, ocupar um lugar feminino, geralmente como interesse romântico, com batom e um ar misterioso. A construção de uma personalidade é coisa que vem depois e, com muita frequência, nem chega. No caso de GLaDOS, a sua personalidade ácida é o destaque, e o fato das suas ironias saírem de uma voz feminina é irrelevante. GLaDOS nos mostra que mulheres não precisam ser sempre boas personagens femininas. Elas podem ser só boas personagens.

2 – Undyne (Undertale – 2015)

Undertale é o meu jogo favorito. Na verdade, eu nem gosto de chamar Undertale de jogo. Para mim, Undertale é uma ferramenta pedagógica: uma forma de mostrar às pessoas que é possível ver o mundo de uma forma mais gentil. Que é possível resolver conflitos através do diálogo, e que a eliminação de alguém (mesmo em pixel art) sempre tem um peso. Assim como Samus, de início só conhecemos Undyne de armadura. Mas, ao contrário de Samus, por baixo da armadura ela usa uma roupa bem descolada, meio rockeira, que combina com a sua personalidade.

Undyne Undertale

E, poxa, vale muito a pena conhecer a personalidade de Undyne. Todos os personagens de Undertale são incríveis, e Undyne é só mais um exemplo. Ela é extremamente leal, extremamente legal (desculpe, não resisti). Ela te chama para a casa dela, faz um chá, conta histórias. Undyne é amiga de Papyrus (!), não tem como ser mais legal que isso. Geralmente eu evito usar muitos adjetivos quando estou falando sobre uma obra. O problema é que, com Undertale, não sinto que falo sobre uma obra. Falo sobre uma experiência, uma amizade, uma nova forma de olhar a vida. Não tenho muito mais a dizer, além de elogios. Undertale já diz tudo que vale a pena ser dito.

1 – Abby (The Last of Us Part II – 2020)

Não sei se você notou, mas esta lista começa com um jogo lançado em 1995, e termina em The Last of Us Part II, de 2020. Ainda, da sétima posição em diante, todas as personagens vêm de jogos lançados dos anos 2000 pra cá (o mais antigo é Beyond Good and Evil, de 2003). Não acredito que isso seja coincidência. Mais que isso, acredito que exista uma explicação para essa cronologia. Ela pode estar em uma frase de Como Nossos Pais, música de Belchior lançada em 1976. Preste atenção: o novo sempre vem.

Abby The Last of Us II

A novidade pode até encontrar ressentimento, controvérsia e, sem eufemismos, ódio puro e simples. Essa reação é intensificada quando, olha só, a própria novidade tem seus ressentimentos, suas controvérsias, e cultiva o seu ódio. É o caso de Abby. Eu entendo que Abby seja difícil de emplacar: além de ser nova, ela não segue a fórmula do herói forte, corajoso, másculo. Na verdade, ela (literalmente) destrói essa fórmula. Não consigo pensar em qualquer personagem que seja mais complexa do que Abby: ela é uma pessoa dominada pela vingança, uma vingança que é, de certa forma, justificada; mas que mexe com personagens a que queremos bem. É difícil fazer um julgamento moral. Abby desafia todos ao seu redor: os personagens, que a circundeiam; o público, que a acompanha.

Por outro lado, é fácil fazer as pessoas aceitarem personagens que já foram testados, que funcionam. É fácil, também, aceitar mulheres como interesses românticos, mulheres que são só… Mulheres. Como se isso significasse uma personalidade, uma definição, um conceito oposto ao de ‘homens’. Abby não é nada disso, e por isso ela é difícil, ela é desafiadora. Mas, quando o desafio é alto, o prêmio também deve ser. É por isso que ela merece o primeiro lugar desta lista.

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