Imagem com o título stardew valley

Stardew Valley, o jogo da fazendinha

Última atualização: 18/01/2021

Stardew Valley é um jogo em que você tem que apertar o mesmo botão para regar mudas, arar a terra, cortar lenha e quebrar pedras. O seu objetivo é administrar as atividades diárias de uma fazenda, como estocar feno, colher melões e ordenhar vacas para produzir queijo. Ah, quase esqueci do principal: você também pode criar galinhas e patos, e usar os ovos para fazer maionese. Se essa descrição parece chata, é porque ela deixa muita coisa de fora. Se resumirmos Stardew Valley à sua mecânica básica, não há explicação razoável para o sucesso do jogo.

Stardew Valley tela de abertura

Veja bem, não é que a mecânica seja ruim. A pesca, por exemplo, se inicia com o apertar de um botão, mas quando um peixe é fisgado um minigame torna o evento mais complexo. Mas o fato é que Stardew Valley é sobre o cotidiano e, assim como acontece com qualquer rotina, é inevitável que as atividades se tornem repetitivas. Qual é, então, a explicação para a venda de mais de dez milhões de cópias do jogo e, mais que isso, para a média de cinquenta horas que cada jogador investe em sua fazendinha? Não há uma resposta fácil para essa pergunta (honestamente, ela serve mais para dar suspense ao texto). Mas como eu não pretendo te frustrar com uma leitura inconclusiva, proponho uma análise de como tudo começou. Porque talvez, e só talvez, a história da criação de Stardew Valley possa nos ensinar alguma coisa sobre o seu sucesso.

O estúdio de um homem só

O criador de Stardew Valley é Eric Barone (o ConcernedApe). Até o lançamento do jogo, em fevereiro de 2016, o único elemento que contou com qualquer ajuda externa foi o multiplayer. De resto, Barone fez absolutamente tudo sozinho: dos gráficos à música; da programação à interface. O processo todo durou cinco longos anos, marcados por dificuldades. A dedicação em tempo integral ao jogo o impossibilitava de obter uma fonte de renda, e embora a sua namorada conseguisse arcar com as contas da casa, a rotina ficou pesada. Além disso, ele não tinha uma equipe para testar o jogo, e por isso era difícil descobrir quais elementos não funcionavam, coisa que alongou o tempo de produção.

o jogador em frente ao centro comunitário

Mas, mesmo com todas as dificuldades, ele não desistiu. Havia algum motivo forte o suficiente para o fazer persistir. Para fins exclusivamente didáticos, vou tentar resumir esse motivo em uma palavra: paixão. Na paixão há vontade, há desejo e há… supressão da lógica. Supressão necessária para que se persista em um projeto desse tipo; tão longo, tão desafiador, tão cansativo. A paixão de Barone por Stardew Valley surgiu a partir de Harvest Moon, jogo da Nintendo que também simula a rotina em uma fazenda. O projeto nasceu do desejo de criar algo que fizesse o público (e o próprio Barone) sentir de novo tudo que Harvest Moon havia proporcionado. Ou seja: Stardew Valley foi um projeto concebido para recuperar um sentimento.

A comunidade

É por isso que ele jamais poderia ter sido desenvolvido por um grande estúdio. O jogo tem todas as marcas de um projeto pessoal que, justamente por ser pessoal, é lotado de dedicação e apego. A coisa toda começou como uma forma de Barone aprimorar as suas habilidades de programação, e o sucesso comercial nunca foi um objetivo. Não é difícil notar o cuidado que a criação de cada um dos elementos do jogo recebeu. Ele está no desenho dos animais, nos monstrinhos da caverna, e, talvez com mais força, em cada um dos seus personagens.

Imagem do Mercado Noturno em Stardew Valley

A fazendinha de Stardew Valley fica na Vila Pelicanos, onde há pessoas de todo tipo, com idades, gostos e problemas variados. Falar das pessoas que povoam Stardew Valley é falar de um dos motivos do sucesso do jogo: a personalidade de cada um dos seus habitantes. Conhecemos Abigail, que gosta de jogar videogames, e é filha de Pierre, dono do mercadinho em que o jogador compra sementes. Há também Pam, motorista de ônibus que tem um problema com álcool, coisa que afeta o seu relacionamento com Penny, sua filha. No segundo ano recebemos Kent, que lida com o estresse pós-traumático gerado pelo serviço no exército.

Se adotarmos uma linguagem técnica, chamaremos Abigail, Pierre, Pam, Penny e Kent de NPCs. Mas o trabalho de construção de personagens em Stardew Valley é tão eficiente que seria estranho não chamá-los pelo seus nomes. Na verdade, não é só a construção de personagens que é eficiente, é a construção de uma comunidade. A primeira missão do jogo é se apresentar a todas as pessoas, e não há um mapa para facilitá-la; é preciso explorar a Vila e conversar com as pessoas no caminho. Para pertencer à Vila Pelicano, o jogador precisa primeiro conhecer seus residentes.

O pertencimento

É justamente nessa comunidade que o jogo encontra o seu sucesso. Construir relacionamentos com os outros personagens leva tempo, e cada um tem suas peculiaridades. O jogador pode dar presentes a eles, mas deve levar em conta os seus gostos: Kent ama avelãs tostadas, Abigail odeia argila, e assim por diante. Não importa que o botão de presentar seja o mesmo: a interação nos faz esquecer do controle. Mesmo com mais de cem horas passadas na minha fazendinha, eu teria que checar antes de dizer se o botão é o direito ou o esquerdo. Não é que eu seja distraída: eu sei, por exemplo, que Evelynn passa o dia admirando as flores perto da sua casa, enquanto George, seu marido, prefere ver televisão.

Stardew Valley visão de dentro do salão

O prazer que este jogo oferece não está nos comandos. Está em algo bem mais simples, mas, talvez por isso, bem mais raro. É o prazer de se sentir pertencente a uma comunidade. Na introdução, o jogador recebe uma carta do seu avô, que justifica a mudança para a fazenda pela saudade de “conexões reais com outras pessoas e com a natureza”. É exatamente isso que Stardew Valley vai te oferecer. Conexões com pessoas, que são NPCs, e com a natureza, composta de pixels coloridos em uma tela. Essa artificialidade é agridoce, mas o carinho que está em todos os elementos do jogo vai te fazer esquecer disso. E, quem sabe, Stardew Valley seja só um primeiro passo, que acabe te inspirando a uma hora largar o jogo e… Bom, aí você decide para onde ir.


Ficha Técnica
Stardew Valley (2016) – Estados Unidos
Criador: Eric Barone
Desenvolvimento: ChuckleFish Games
Trilha Sonora: Eric Barone
Console: Windows, XBOX, PS4, Nintendo Switch, iOS e Android
Lançamento no Brasil: 2016
Jogadores: 1-4
Gênero: Simulador de Fazenda
Classificação: Livre

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1 comentário em “Stardew Valley, o jogo da fazendinha

  1. ótimo artigo, me ajudou mt a fazer um trabalho de pesquisa sobre este jogo que eu amo de paixão, continue sempre em frente, parabéns.

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